Relações Internacionais

Uma ótica sobre o debate na Argentina

No último domingo (1º) os candidatos à presidência dos hermanos se enfrentaram pela primeira vez. Diferentemente do Brasil, os candidatos que somaram mais de 1,5% dos votos nas eleições primárias (PASO) são obrigados a comparecer ao embate, que ocorre em sistema de pool, onde diversas emissoras transmitem simultaneamente o programa. Os temas escolhidos pela organização foram economia e educação, já na votação popular os escolhidos foram os direitos humanos e a convivência democrática.

Principais exposições
Líder nas pesquisas, Javier Milei apresentou Victoria Villarruel, sua companheira de chapa. Afirmou que um governo encabeçado por eles focará em eliminar a pobreza e a inflação, e seriam os únicos capazes de fazê-lo. O clássico “sou bom e eles são ruins, afinal, sou novidade e os outros partidos tiveram suas chances e fracassaram”. Suas propostas no púlpito incluem a reforma do aparato estatal, redução de impostos, privatizações, abertura da economia, dolarização e fechamento do banco central. Além disso, defende a criação de um único ministério para agregar as pastas da educação, infância e família, saúde e trabalho. Minimizou o número de desaparecidos durante o regime militar do país, declarando que concorda com o número oficial de 8.753, ao invés das estimativas revisionistas de 30.000 e que os defensores dos direitos humanos usam a ideologia para encher os bolsos.

Sergio Massa, o candidato governista, enalteceu a necessidade do diálogo para resolver os inúmeros problemas que a nação enfrenta e que convocará os melhores, independente de partido ou ideologia, caso eleito. Aproveitou e criticou indiretamente a gestão de Alberto Fernández, do qual é ministro da economia, dizendo que “agora vem uma etapa nova. É o meu governo e não este governo”, uma fala inteligente visto que o presidente atual tem uma aprovação de 18% segundo a última pesquisa da Poliarquía.

Patrícia Bullrich, representante da direita tradicional, ofereceu a “mudança” na condução da máquina pública, prometeu acabar com as ocupações de terra e criticou os sindicatos pela ausência de manifestações durante o governo peronista.

Surpresa vermelha
Lançada pela Frente de Esquerda, Myriam Bregman conseguiu brilhar enquanto assumia o microfone, com 16,3% da população considerando que ela teria vencido a disputa televisiva, segundo pesquisa da Circuitos Consultoria, apesar de ter entre 1% e 3% das intenções de voto.

Um dos momentos que viralizou nas redes sociais foi quando ela argumentou que Javier Milei “vem aqui falando contra ‘a casta [política]’, mas é funcionário do grande capital. Ele não é um leão, é um gatinho mimado do poderio econômico”.
Mesmo com esse bom resultado, ela emplacou um quarto lugar, à frente apenas de Juan Schiaretii, que somou 4,6%. Massa liderou com 26,2%, Milei teve 22,3% e Bullrich 19,2%. Ainda é incerto se esses números vão impactar as próximas pesquisas de intenção de voto e como, na última realizada antes do debate, Javier despontou com 34,7%, seguido por Sergio que arrecadou 29,8%, Patrícia com 26,4%, Juan com 6% e Myriam 3%.

Ataques esdrúxulos
Com os ânimos à flor da pele, palavras sem sentido ou relevância são proferidas, como Massa do peronismo à esquerda comparando as propostas da direitista Bullrich com os desastres econômicos de Cuba e Venezuela, sendo exemplos que, se aproximados com o histórico de seus partidos, é no dele que caminham socialistas.

Sergio também mencionou uma declaração anterior de Milei. Ele, que agora planeja sua conversão para o judaísmo, como católico, atacou desnecessariamente o Papa Francisco, cidadão de seu país. Sobre o pontífice, vocalizou que seria o “representante do maligno na terra” e o chamou de comunista com forte interferência na política e afinidade com ditadores sanguinários. Desde as primárias, o libertário vem moderando seu discurso e se desculpou com o Chefe do Vaticano mais uma vez.
Vale recordar que segundo a Primeira Pesquisa Sobre Crenças e Atitudes Religiosas na Argentina, 76,5% se identificaram como fiéis da Igreja Católica.

Segundo turno
Apesar do estrelato que deixou analistas pelo globo boquiabertos, Javier não tem os votos suficientes para vencer no primeiro turno, para isso precisaria chegar a 45% dos votos válidos ou vencer com 40% e uma diferença mínima de dez pontos sobre o segundo colocado, ambos cenários improváveis.

O cenário em que ele teria Patrícia Bullrich como adversária é o único que o mostra perdendo as eleições, porém há a óbvia dificuldade de emplacar nos dois primeiros lugares postulantes do campo da direita. De qualquer forma, os indecisos podem virar o jogo em favor de Sergio Massa, pois 10% não sabem em quem votar e mais 10% preferem não responder, sobrando 9% que votariam em branco e 6% que não votariam, uma parcela da população que pode trocar de ideia.

Seria interessante assistir um mandato de Milei, que seria o primeiro Chefe de Governo com ideais próximos ao anarcocapitalismo. Porém, vale a pena colocar em risco a vida de mais de 45 milhões de pessoas por uma experiência, ou o desespero é justificado, já que os partidos que se alternam não conseguiram melhorar o país? Os 124,4% de inflação e a pobreza que acaba de chegar a 40% do povo contarão na hora de responder essa pergunta nas urnas.

Erik Zannon

Erik Zannon

Erik Zannon Graduando em Relações Internacionais, quinto período, Multivix

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