Internacional

O bizarro segundo turno argentino

O ministro da Economia de um país que já foi de primeiro mundo e hoje tem 40% de pobres e 10% de indigentes disputará a eleição com um libertário que deseja criar um campo de testes com 45,81 milhões de pessoas.

➜ Milei
Javier Gerardo Milei tem 53 anos, é mestre em economia e atuou na iniciativa privada e como professor. Também é consultor do G20 e membro do Fórum Econômico Mundial. Ganhou notoriedade participando de programas televisivos e tenta misturar conceitos da economia austríaca e monetária. Na impossibilidade do anarcocapitalismo, se contenta com o minarquismo, onde o Estado cuidaria apenas da segurança e justiça, o resto ficaria na responsabilidade da “mão invisível do mercado”, e na área social das escolhas dos cidadãos.

Cheio de insanidades, afirma conversar com seu falecido cachorro através de um médium, o considera seu principal conselheiro de campanha, e ofendeu duramente o Papa Francisco, o cunhando até de comunista, para um povo majoritariamente católico. Na geopolítica, há clara loucura em prometer cortar relações com a China e se afastar do Brasil, os principais parceiros comerciais dos hermanos, além da retirada do Mercosul.

Sua base é composta por jovens, que se empolgam com suas propostas, como acabar com o Banco Central, algo que foi possível em nações minúsculas como Andorra e Mônaco. A dolarização, polêmica, já foi testada na Argentina entre 1991 e 2002, tendo falhado miseravelmente. O desespero com o atual presidente e a descrença na direita tradicional contribuíram para seu crescimento.
Conseguiu 30% dos votos no primeiro turno do último domingo (22).

➜ Massa
Crítico dos peronistas no passado, Sergio Tomás Massa, de 51 anos, é o mandachuva da desastrosa economia no país. Foi prefeito, liderou a Câmara dos Deputados, Chefe do Gabinete de Ministros de Cristina Kirchner antes de romper com a família e tentou se eleger para o cargo máximo em 2015, terminando em terceiro lugar com 21%.

Argumenta que fez o que pode, já que assumiu as finanças em agosto de 2022 como o terceiro ministro da mesma pasta no mandato de Alberto Fernández. Se distanciou do seu chefe dizendo que fará outro governo, diferente do de Fernández e que chamará “os políticos competentes” de todos os partidos para resolver a crise em conjunto.
Surpreendentemente angariou 36,7% dos votos.

➜ Cenário
Poucas pesquisas acertaram Massa à frente de Milei, mesmo assim tecnicamente empatados, entre elas a brasileira Atlas Intel. Até o momento, todas afirmam que Javier ganhará no segundo turno, e com vantagem. De fato é o cenário provável, afinal ele deve herdar a maioria dos votos dos direitistas Patricia Bullrich (23,8%) e Juan Schiaretti (6,8%), com Sergio levando os de Myriam Bregman (2,7%).

Obviamente, a transferência dos eleitores não é automática, porém é estimado que o terceiro e quarto colocados apoiem o ultraliberal. Para garantir isso, Milei declarou estar disposto a negociar com o partido de Bullrich para derrotar a esquerda. Dado o exposto, não é possível negligenciar a força da máquina pública que Massa possui, o que permitiu que ele fosse o primeiro colocado e dá chances, pequenas, de vencer o novo embate.

Javier Milei precisa se preocupar ainda em como irá governar. Os libertários elegeram apenas 37 deputados e oito senadores, um amargo terceiro lugar em ambas as casas, e terá que compor com o Juntos Por El Cambio, partido de Patrícia que detém a segunda maior bancada, para que projetos não sejam barrados e decisões revertidas, e fazer isso de pauta a pauta gasta muito capital político, sendo inteligente formar uma aliança. Com essa finalidade, será necessário renunciar algumas bandeiras e suavizar outras.

Para o mundo, acompanhar um Presidente Milei seria interessante, dando a oportunidade de assistir o efeito de medidas libertárias implementadas e como um líder com essa ideologia se comporta no jogo político que não pode evitar. Para a população, dar um salto no vazio com um maluco ou escolher quem entregou uma inflação de 140% é extremamente complicado.
O novo confronto será realizado no dia 19 de novembro. *A coluna apresenta informações eleitorais com apuração de 98,51% das urnas segundo a Direção Nacional Eleitoral (DINE).

* Matéria atualizada às 15h30

Erik Zannon

Erik Zannon

Erik Zannon Graduando em Relações Internacionais, quinto período, Multivix

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