Política

Eleições nos Países Baixos confirmam tendência anti-islã

O polêmico Geert Wilders obteve sucesso em comandar o Partido pela Liberdade (PVV) à primeira colocação, resultando em 23,6% dos votos e 37 cadeiras no parlamento, e terá pela primeira vez o desafio de formar um governo em nome do Rei Willem-Alexander

Plataforma e liderança
Apesar de fazer parte da direita alternativa, o PVV tem diferenças claras com outros partidos que, em primeiro momento, parecem da mesma linha. É contrário a receber refugiados e ao que define como “loucura climática”; prega um nacionalismo econômico ao invés do liberalismo; propõe proibir a vestimenta religiosa hijab — seguindo o exemplo de Itália e França — o alcorão e a dupla-nacionalidade para políticos; visa fechar todas as mesquitas e deseja a saída total da União Europeia. Por outro lado, não tem visão antissemita; não fala em família tradicional e, sim, em um humanismo judaico-cristão, ao qual os imigrantes devem se adaptar; defende a Ucrânia oposta à aliança com Putin; quer a extinção do financiamento público a partidos e apoia o direito ao aborto, à eutanásia e ao casamento e adoção gay. É óbvio que no primeiro país a legalizar o casamento homoafetivo, em 2001, seria difícil para o Partido pela Liberdade adotar uma postura desfavorável à comunidade LGBT, ainda que tenha posições mais conservadoras sobre a questão transexual.

Geert Wilders iniciou sua carreira em 1997, se elegendo vereador pelo Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD), tradicional agremiação de centro-direita que governa os neerlandeses há 13 anos, nos mandatos de Mark Rutte. Um ano depois foi eleito deputado. Foi expulso devido a diferenças ideológicas em 2004, criando o PVV para disputar as eleições de 2006.

Para governar, será preciso montar uma coalizão de, ao menos, 76 cadeiras, e Wilders convocou todos os partidos para negociações. O VVD, que terminou a corrida em terceiro lugar e dispõe de 26 assentos, declarou na campanha que não irá compor com Geert como aconteceu em 2010. A aliança dos trabalhistas e ambientalistas GL/PvdA e os centristas do Novo Contrato Social, segundo e quarto colocados respectivamente, também consideram um acordo fora de questão. Com os outros partidos menores, incluindo o socialista, Geert Wilders chegaria ao número de 80 cadeiras, porém é uma situação muito improvável. Destarte, o PVV precisará mudar a ideia de alguns colegas, comprometendo parte de sua agenda e evitando uma crise.

Allah reage
Os atuais esforços para restringir os muçulmanos na Europa Ocidental encontra dificuldades. Na França, processos violentos são regra para toda a população, não excluindo imigrantes e refugiados. Na Itália, Giorgia Meloni afirmou que esperava poder fazer mais sobre o assunto — central em sua campanha —, até foi à ilha de Lampedusa, primeiro ponto de parada das pessoas que atravessam continentes, com a presidente da Comissão Europeia Ursula von der Leyen, gesto desesperado segundo a analista Vilma Gryzinski, afinal a burocrata faz parte do problema, e não da solução.

Antes da histeria midiática sobre os nacionalistas jogarem o planeta em uma idade das trevas, e acusar de neofascismo ou neonazismo, é bom lembrar que muitas vezes eles não conseguem nem cumprir o que seus eleitores mais anseiam.

Erik Zannon

Erik Zannon

Erik Zannon Graduando em Relações Internacionais, quinto período, Multivix

Related Posts

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

EnglishPortugueseSpanish