Internacional

A verdadeira face de Javier Milei

Após as eleições, o presidente eleito da Argentina deixou o extremismo e parte dos planos mirabolantes de lado para se tornar um político pragmático e, de certa forma, conciliador

Governabilidade
Na reta final da campanha, o questionamento geral era como Milei agiria depois do show, e o outsider surpreendeu muitos quando começou a distribuição de cargos. Auxiliado pelo ex-mandatário Mauricio Macri — que não deve ocupar cargo na administração por visar à presidência da Fifa — escolheu a candidata da direita tradicional, Patricia Bullrich, para ministra da Segurança e convidou o ex-presidente do Banco Central e ministro da Economia Luis Caputo para retornar às finanças. Demian Reidel, contra grande parcela das medidas econômicas propostas por Javier, foi chamado para o BC, mas rejeitou qualquer participação. A aliada Carolina Piparo, outrora anunciada para chefia da Administração Nacional da Seguridade Social, foi rifada em prol de Osvaldo Giordano, nome de Juan Schiaretti, candidato peronista de centro-direita do Partido Justicialista. Daniel Scioli, embaixador em Brasília que participou do governo Fernandez e foi candidato em 2015 pelo Justicialista, porém se filiou posteriormente ao Unión per la Patria de Sergio Massa, é cotado para a pasta de Turismo segundo portais midiáticos argentinos.

Os motivos para os recentes movimentos são claros, o La Libertad Avanza de Javier Milei tem apenas 37 cadeiras na Câmara, já o Juntos por El Cambio 93, combinados, formam uma maioria de 130 deputados, um a mais do mínimo para governar. A oposição peronista de esquerda lidera, com 108 eleitos. No Senado a diferença ainda é maior, pois os libertários conquistaram apenas oito vagas e, mesmo com os 24 do JxC, ficaria cinco cadeiras aquém de 37 necessárias. Pouco importa se a visão anarcocapitalista de Milei é real ou só marketing, ele venceu o pleito e precisará governar, coisa que jamais fará sozinho.

No cenário diplomático, Javier se moderou. A proximidade com figuras como Jair Bolsonaro e Donald Trump é justificada, afinal a direita finalmente entendeu o que a esquerda viu décadas atrás — comprovado pelo surgimento de grupos como o Foro de São Paulo — que em um mundo globalizado é necessário ter alianças ideológicas com agremiações e líderes estrangeiros. Todavia, o corte de negócios com países governados por socialistas e progressistas foi esquecido, o liberal enviou uma carta a Lula e a futura chanceler Diana Mondino se encontrou com Mauro Vieira para tratar do convite à posse e outros assuntos internacionais, além disso, a equipe do próximo governo analisa a permanência da nação no Brics+, considerando que existem mais oportunidades do que riscos, segundo o canal Todo Notícias.

Futuro
Antigos entusiastas estão enfurecidos com os atos de Javier Milei. Carlos Rodríguez declarou nas redes sociais que encerrou todo relacionamento formal de assessoria econômica com o La Libertad Avanza. O que falta em eleitores e parceiros abalados é maturidade política e o entendimento de que um mandato purista não é possível no sistema de democracia representativa. Por ironia do destino, Milei, julgado de louco, apresenta compreensão sobre o futuro da Argentina, para a surpresa, inclusive, do articulista desta coluna.

Erik Zannon

Erik Zannon

Erik Zannon Graduando em Relações Internacionais, quinto período, Multivix

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