Cientistas redescobrem flor que nasce embaixo da terra
Na lista de espécies descobertas em 2023, planta subterrânea de Bornéu já era conhecida por indígenas da ilha
Por Bárbara Giovani
Em 2023, cientistas do Jardim Botânico Real, na Inglaterra, divulgaram uma lista com 74 novas espécies de plantas descobertas pela ciência naquele ano. Entre elas, estava uma palmeira cujas flores e frutos crescem apenas no subterrâneo. Chamada Pinanga subterranea, a planta foi encontrada na ilha de Bornéu, no Sudeste Asiático, onde cresce abundantemente. Embora nova para os cientistas (que nomearam a espécie), ela já era há muito tempo conhecida das comunidades indígenas que vivem no local.
Assim como para indígenas de outros locais do mundo, para o grupo Dayak, de Bornéu, a relação com a floresta é tão importante quanto o leite materno para as crianças. Por isso, desde pequenos, frequentam os caminhos entre árvores, com pais ensinando tudo o que sabem sobre as plantas. É assim que aprendem quais podem fazer mal e quais têm propriedades medicinais, por exemplo.
De acordo com o New York Times, um cientista de Bornéu, Paul Chai, descobriu que membros de um subgrupo dos Dayak, chamado Kenyah, às vezes mastigavam o fruto da palmeira Pinanga. Assim, ficou claro que eles já tinham conhecimento da planta muito antes da nomeação científica da espécie, que aconteceu apenas no último ano. Nesse sentido, a “descoberta” de Pinanga subterranea é um exemplo da ciência convencional alcançando o conhecimento indígena.
Nós a descrevemos como nova para a ciência. Mas o conhecimento pré-existente sobre esta palmeira já estava lá antes mesmo de chegarmos perto dela”, disse William J. Baker, o cientista que participou da expedição, ao New York Times.
Com flores e frutos avermelhados que se desenvolvem apenas embaixo da terra, a Pinanga subterranea tem uma aparência de palmeira relativamente comum. Para os pesquisadores, essa característica de florescer de modo subterrâneo é um mecanismo de proteção. Dessa forma, consegue proteger suas flores longe de predadores. Ao mesmo tempo, foi por este motivo que cientistas demoraram tanto tempo para encontrá-la e estudá-la.
Sua subterraneidade é provavelmente o que impediu os botânicos de realmente ‘descobri-la’, entre aspas. Geralmente, quando coletamos, não pegamos coisas que não estão florescendo e frutificando”, disse Baker.
Agora, novas pesquisas sobre a Pinanga devem explicar a maneira como a planta evoluiu e passou a se desenvolver debaixo da terra.
Fonte: Giz Brasil