O olhar

O olhar da menina estava distante, sempre direcionado ao céu ou para o mar, muitos comentavam sobre o seu comportamento frio e distraído. A sua família buscava agradá-la de todas as formas possíveis com presentes, passeios, roupas, etc., contudo, nada mudava o contexto vivido naquele lar. Os pais ficaram preocupados e cogitaram a possibilidade de uma terapia para ela, aflitos, eles buscavam o diálogo com a filha, dia após dia, porém, poucas palavras eram ditas e, com isso, uma sensação de impotência crescia em seus corações. A menina compreendia a preocupação dos pais, no entanto, a sua atenção não estava em responder às dúvidas deles, mas sim aos seus próprios questionamentos.
Com determinação para se encontrar, a menina mergulhava em seu vasto interior, uma imensidão de sentimentos, dúvidas e traumas que precisavam de atenção, amor e acolhimento. Ao se deparar com questionamentos inapropriados, pensamentos indevidos e sensações de não pertencimento, conforme a sua frágil maturidade ela buscava alterar o seu modo de sobrevivência, para o modo de compreensão e mudanças. De forma gradual, o conforto a tomava e suas respostas surgiam naturalmente dentro do seu conceito do que era ser humano.

Aos poucos ela descobriu que o caminho seria longo e muitas vezes doloroso e que, certamente, exigiria um esforço além do físico para aprender a conciliar a sua essência com tudo aquilo que o mundo real te cobrava. Apesar da incompreensão alheia, o seu olhar permanecia voltado a tudo que lhe transmitia paz, o movimento das estrelas, o ir e vir das ondas do mar, para ela essas observações eram buscas no infinito para encontrar o seu caminho mais lógico e reconfortante.

Autora: Silvia Vanderss
Conto: O olhar
Inédito
Palavras: 273