Comportamento & Equilíbrio

As Milícias Psicológicas contra a Criança e a Mulher — Parte I

Existe um emaranhado de “leis” que favorece agressores de todo tipo, em violência contra a criança e a mulher

Primeiro, desculpas pela ausência nessas duas semanas. Estou me recuperando. Vai passar o restinho.
Milícias. Milicianos no campo psicológico. É um massacre de Crianças e Mulheres. Talvez alguns pensem que estou exagerando. Confesso que venho adiando esse tema porque um fio de esperança ainda corria. Mas, a umidade da humanidade está secando cada vez mais. Parece que estamos desertificando.
O PL do estuprador veio em sequência. A lei de alienação parental, a emboscada, foi se sofisticando. Apareceu camuflada na proposta de Reforma do Código Civil, e como um lagartinho na folhagem, trouxe Poderes de punição de crianças e mulheres bem maiores. Falando de penas com aprisionamento para o que esses milicianos psicológicos chamam de “denunciação caluniosa”. O curioso é que desde o primeiro momento de uma denúncia de violência doméstica e/ou violência sexual contra vulneráveis, a denunciante é chamada de louca, de mentirosa, de histérica, de interesseira, adjetivos que indicam, claramente, a desqualificação de sua voz.

A Criança, praticamente uma imbecil, repete o que a mãe vingativa mandou ela falar. Suas lembranças, relatadas com detalhes, são desprezadas porque são lacradas como falsas memórias. Esse “fenômeno”, as tais falsas memórias, nunca foram comprovadas cientificamente. Mas isso não tem importância nesse campo onde a semântica é distorcida e, perversamente, invertida. Usam-se os mesmos termos para iludir o ouvinte, manipulando seu verdadeiro significado.

Ciência? Para que serve. Importa-se qualquer coisa como se sério fosse. Por exemplo, para fazer frente às tais falsas memórias, aliás, lembranças faladas em palavras com pormenores, desenhadas com detalhes e emoções no papel, encenadas nas brincadeiras que repetem práticas sexuais experimentadas, inventou-se uma categoria de pseudopsicólogos/as que são chamadas de “Re- programadoras”. Como se fosse possível apagar o registro mnêmico traumático da invasão do corpo vivida.

Abuso infantil (Foto: iStock)

Assim, também surgiu uma mágica seita, a Constelação Familiar, para desresponsabilizar o estuprador/agressor. Pela crença da comunicação com os mortos da família da mãe, que acontece num “campo morfogenético”, um “constelador”, que não precisa ter nenhuma Formação Acadêmica, apenas um “curso” com outro constelador, descobre um ancestral, de muitas gerações que tinha sido um predador. Pode ser até da Idade Média.

Se um elo da cadeia foi quebrado, ou seja, se aquele predador não foi acolhido com amor e carinho, ele vai continuar fabricando predadores ao longo das sucessivas gerações. Então, o genitor que estupra a filha ou filho, não é culpado. A culpa é da mãe que não o acolheu e o denunciou. Dolo? Não. Ele precisa, segundo essa seita, ser bem acolhido e continuar junto à sua vítima. Aliás, às suas vítimas, porque a mãe da Criança que é estuprada, entendido aqui o Conceito Jurídico que contempla qualquer ato lascivo contra a Criança, a mãe, a partir do momento que toma conhecimento e busca o cumprimento do Art. 13 e do Art. 70 do ECA, também é vítima desse estuprador.

Também sem nenhuma comprovação científica, claro, como poderíamos fazer pesquisa e formar grupos experimentais, ao lado de grupos de controle, como manda a Ciência, quando o interlocutor partícipe é um morto? O curioso também é que essa seita foi aceita pelo Ministério da Justiça, pelo Ministério da Saúde, e pelo Ministério da Educação. Sim, essa seita está autorizada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) nas Varas de Família, no SUS como “terapia alternativa”, (alçada à terapia!!!), e como “instrumento” de correção de Crianças e Adolescentes indisciplinados em Escolas.

Alguém já se perguntou sobre o estrago da aplicação dessa seita em mentes que tenham alguma alteração? O medo dos mortos é um dos medos mais frequentes, tanto em adultos e mais ainda em Crianças e Adolescentes. O pós-morte é um mistério vivido por muitos como assustador. Alguém já se perguntou que uma pessoa com um distúrbio mental pode abrir um surto severo com esse tipo de estimulação? E não há nenhuma competência técnica, o constelador pode ser até um cabelereiro, para manejar uma situação dessas. Quem se responsabiliza?

Não satisfeitos, os milicianos psicológicos inventaram um PL do estuprador. Para coroar, a vítima de estupro será apenada com uma dosimetria de limites em dobro aos do criminoso, se ela optar por legalmente, interromper a gravidez consequente. É estuprada e vai para a cadeia. Lembrando que mais de 60% dos estupros têm como vítimas meninas de menos de 14 anos.

Adolescente grávida (Foto: iStock)

Só para refrescar a memória: as três possibilidades do aborto legal são a anencefalia, o risco de morte da mãe e a gravidez advinda de estupro. Pela faixa etária, as Crianças que engravidam por estupro, têm a gestação e o parto como de alto risco. Há um alto índice de morte durante a gestação e durante o parto. Parece ser bem lógico. Essa Criança, muitas vezes, não teve ainda a menarca e entra em processo de gravidez. A curva hormonal que tinha o sentido do desenvolvimento do corpo tem um mudança brusca e radical na geração de um outro ser, toda a duplicação hormonal para o desenvolvimento não do seu corpo, mas de um feto. O incremento dos hormônios da lactação são acelerados quando ainda nem possui mamas, ou se possui em início, ainda necessitam do desenvolvimento de suas glândulas mamárias para, atropelando etapas, produzir leite. Como?

Esse é apenas um dos detalhes, são muitos. O útero, ainda infantil de tamanho, tem que conter um feto que vai crescer acima de sua capacidade de contenção e elasticidade. Alguém olha por essa Criança? É muito difícil considerar isso?
Uma curiosidade minha. Se o ECA ainda está valendo, como encarceraremos meninas de 14, 15, 16 anos? E por 20 anos. É inconstitucional? Não é? Ou o ECA foi rasgado e jogado naquela famosa fogueira? Já acenderam e não avisaram. Estamos sempre atrasados.

A humanidade ao longo de sua história usa o artifício da legalização para normatizar suas perversões. Foi assim com a Colonização e o Extrativismo Selvagem. Era legalizado. Assim também com a Comercialização Internacional de Escravos. Havia Lei que amparava essa perversão. Assim também com o Apartheid, era legalizado. O Holocausto que exterminou mais de seis milhões de pessoas vistas como inferiores, era legalizado e compactuado por todos.
Estamos diante de uma nova manipulação criminosa de grupos vulneráveis.

Aliás, esses quatro comportamentos perversos foram, superficialmente, condenados. Não banidos. Continua a existir, em formas mais sofisticadas, o comportamento colonizador, o trabalho análogo à escravidão, a divisão de territórios, entre pessoas que podem e que não podem frequentar, as cidades partidas, (e vem aí o cercadinho das praias), e o holocausto em meio ao emaranhado de “leis” que favorecem agressores de todo tipo, em violência contra a Criança e a Mulher. É a legalização do massacre, da barbárie. Milícias são exímias executoras de distorções de leis e prometer proteção. Sempre exploram a ideia de proteção. É de lei.

Ana Maria Iencarelli

Ana Maria Iencarelli

Psicanalista Clínica, especializada no atendimento a Crianças e Adolescentes. Presidente da ONG Vozes de Anjos.

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