Meio ambiente

Nova espécie de árvore frutífera, parente da jabuticabeira é descoberta em Maricá, no Rio

Árvore foi encontrada no Monumento Natural da Pedra de Itaocaia, unidade de conservação municipal

Por Camila Araújo

Por essa, Darwin não esperava. Uma nova espécie de árvore frutífera inédita no mundo foi descoberta por pesquisadores do Jardim Botânico do Rio, no interior do Monumento Natural Municipal Pedra de Itaocaia (MONA), unidade de conservação municipal, em Maricá, localizada nas proximidades do Parque Estadual da Serra da Tiririca (PESET). A árvore mede sete metros de altura e, apesar de não ser conhecida, a espécie é uma parente distante da jabuticabeira.
A referência a Darwin não é por acaso. Quando esteve no Rio, visitando o Brasil, o naturalista inglês Charles Darwin, ficou hospedado em uma fazenda onde hoje está a nova árvore. Infelizmente, ele não descreveu a espécie durante a estadia no bioma, embora os registros apontem o fascínio do cientista pela biodiversidade da Mata Atlântica. Além de Darwin, a unidade conservação tem atraído cientistas de várias partes do mundo pela riqueza de espécies nativas.

“A maioria das espécies que a gente conhece foram catalogadas por naturalistas ingleses no século XIX, quando visitaram o Brasil. Agora a gente vem fazendo esse levantamento da família mirtácea e de várias frutíferas da Mata Atlântica e um pouco na Amazônia, como a pitanga, a jabuticaba, a goiaba, os araçás, os gabirobas, o jamelão, através da visita a remanescentes florestais”, explica.

Segundo o pesquisador, essas espécies não ocorrem em nenhum outro lugar do mundo, porque têm limites muito restritos sobre as condições ambientais em que crescem, como a Mata Atlântica do litoral brasileiro.

Essa árvore tem um único indivíduo, é bem rara. A gente tem uma diversidade muito grande de plantas na natureza há milhões de anos, e muito poucos especialistas em atividade. Muitas delas eram mais comuns no passado e mais distribuídas nas matas, mas com a perda de habitat, é mais difícil de achar. Com a pesquisa, a gente consegue fazer essas descobertas”, diz Thiago.

O nome científico da nova árvore foi proposto pelos pesquisadores em homenagem à pesquisadora da Universidade de Brasília Carolyn E. B. Proença, especialista sênior em Myrtaceae, pela longa carreira de contribuições para a taxonomia e biologia reprodutiva das espécies dessa família. Ela também contribuiu com insights pessoais para a discussão sobre a nova espécie. O resultado da pesquisa foi divulgado na revista científica Brittonia, publicação do Jardim Botânico de Nova York, uma das mais respeitadas do mundo. A comunidade acadêmica comemora a descoberta brasileira.

Venho estudando desde a graduação com meu orientador e outros colaboradores. A gente fez outras descobertas legais na localidade. Teve uma espécie frutífera que só era conhecida por uma única coleta no século XIX, que já está no Jardim Botânico em cultivo, e outras duas espécies novas ocorrendo em Itaocaia e Niterói”, conta Thiago.

As expedições de campo foram feitas entre 2018 e 2023, no Morro Itaocaia, e ao longo das fases do desenvolvimento reprodutivo a espécie foi monitorada periodicamente. O estudo, conduzido por Thiago Fernandes e João Marcelo Braga, aponta que a Siphoneugena carolynae é a décima terceira espécie do gênero conhecida até hoje e possui apenas um único exemplar, uma árvore localizada numa unidade de conservação.

Para Fernandes, os resultados destacam a importância de áreas protegidas relativamente pequenas para a conservação de espécies nativas e ameaçadas no estado do Rio: “essa nova descoberta é um passo adiante para o conhecimento pleno da flora da Mata Atlântica, que ainda abriga muitas espécies desconhecidas para a ciência. Além disso, demonstra a importância das áreas protegidas para a conservação dessa e de outras espécies raras e com distribuição restrita”, disse.

Fonte: Um Só Planeta

Related Posts

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

EnglishPortugueseSpanish