Exercer lado artístico melhora o bem-estar mental, aponta estudo
Pesquisadores descobrem que exercer atividades criativas, como pintura e artesanato, é tão benéfico para a satisfação com a vida quanto ter um emprego
Por Marcia Sousa
Nise da Silveira já sabia. A médica psiquiatra revolucionou o tratamento mental no Brasil por meio da arte, mesmo sofrendo a relutância de seus pares. Dos anos 40, quando atuou com terapia ocupacional, para hoje, diversos estudos ratificaram a importância das artes para a saúde mental — um dos mais recentes aponta que realizar atividades criativas faz tão bem ao bem-estar mental como ter um emprego. A pesquisa foi publicada no periódico Frontiers in Public Health.
Cientistas da Universidade de Anglia Ruskin (ARU) usaram dados de uma grande pesquisa no Reino Unido para investigar o impacto da participação em atividades criativas, como costura ou pintura, sobre o quanto as pessoas relataram aproveitar suas vidas. Eles descobriram que a criatividade teve uma influência tão grande no bem-estar e na felicidade dos participantes quanto fatores sociodemográficos, como idade e saúde.
De fato, o impacto do artesanato foi maior do que o impacto de estar empregado. O artesanato não só nos dá uma sensação de realização, mas também é uma rota significativa para a autoexpressão. Isso nem sempre acontece com o emprego”, afirma a Dra. Helen Keyes, Chefe da Escola de Psicologia e Ciências do Esporte da ARU.
Os cientistas analisaram uma amostra de 7.182 participantes da pesquisa anual Taking Part, conduzida pelo Departamento de Cultura, Mídia e Esporte do Reino Unido, que avalia o envolvimento público com atividades culturais, digitais e esportivas. Os participantes foram solicitados a classificar suas sensações de felicidade, ansiedade e satisfação com a vida e a dar sua impressão sobre ‘se a vida vale a pena’. Quando perguntados sobre seu envolvimento com artesanato, 37,4% dos entrevistados confirmaram que participaram de pelo menos uma atividade de artesanato nos últimos doze meses.
As pessoas que participaram de artes e artesanato relataram níveis mais altos de felicidade e satisfação com a vida, bem como uma sensação mais forte de que a vida vale a pena. O aumento desta boa sensação dos entrevistados foi tão significativo quanto estar empregado. Os cientistas controlaram variáveis sociodemográficas que já sabemos que afetam a experiência de bem-estar: gênero, faixa etária, saúde, status de emprego e nível de privação. Por exemplo, saúde mais precária, desemprego e níveis mais altos de privação foram todos associados a um bem-estar menor.
O envolvimento nessas atividades está ligado a uma maior sensação de que a vida vale a pena, maior satisfação com a vida e felicidade. Os efeitos do bem-estar estavam presentes mesmo depois de contabilizarmos coisas como status de emprego e nível de privação. Parece que o artesanato pode contribuir positivamente para o seu bem-estar acima e além desses outros aspectos da sua vida”.
Para os pesquisadores, ajudar as pessoas a acessarem oportunidades acessíveis para a criatividade pode ser um grande impulso para a saúde mental pública.
Fonte: CicloVivo