“Mina de previdência” e contratos woke: as descobertas e cortes feitos pelo Doge, de Musk, nos EUA

O Doge é liderado pelo empresário Elon Musk, CEO da Tesla, SpaceX e dono do X
Por John Lucas
O Departamento de Eficiência Governamental (Doge), liderado pelo empresário Elon Musk, foi estabelecido pelo governo do presidente Donald Trump logo na primeira semana de seu segundo mandato na Casa Branca. Desde sua implantação, em janeiro, o departamento tem como missão eliminar desperdícios, fraudes e ineficiências no governo federal dos Estados Unidos, e vem fazendo isso com bastante vigor.
Até o momento, entre as descobertas mais inusitadas do Doge estão o processamento manual de aposentadorias de servidores públicos em uma mina subterrânea na Pensilvânia e gastos exorbitantes do governo federal com contratos voltados para iniciativas woke e de diversidade, equidade e inclusão (DEI).
O Doge já anunciou ao longo dos últimos meses cortes em programas considerados desnecessários, incluindo contratos milionários para uso licenciado de softwares subutilizados, cartões de crédito governamentais sem controle e programas de ajuda externa, como a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid), que, de acordo com Musk, era utilizada para financiar programas que estavam caminhando contra os interesses dos americanos. Segundo o Doge, as medidas já geraram uma economia de US$ 115 bilhões, o equivalente a cerca de US$ 700 por contribuinte americano. As iniciativas do departamento, porém, têm sido alvo dos democratas e burocratas federais, que criticam as decisões da nova administração.
“Mina de previdência”: aposentadorias processadas no subterrâneo
Um dos achados mais bizarros do Doge até o momento foi o sistema de processamento de aposentadorias de funcionários públicos federais, que, segundo o departamento, estava sendo operado manualmente a 70 metros abaixo do solo em uma antiga mina de calcário na cidade de Boyers, no estado da Pensilvânia. De acordo com informações, mais de 700 funcionários trabalham no local lidando com pilhas de papéis armazenados em envelopes e caixas de papelão.
Durante coletiva ao lado de Trump na Casa Branca em fevereiro, Musk descreveu o local como uma verdadeira “cápsula do tempo”, destacando a falta de modernização do governo americano. Segundo o empresário, o sistema é “tão ultrapassado” que todo o processo é limitado pela velocidade do elevador da mina, que transporta documentos e funcionários para a superfície. “Quando o elevador quebra, tudo para”, criticou.
O Doge identificou que essa burocracia lenta impacta dezenas de milhares de funcionários federais, que precisam aguardar meses para conseguir se aposentar. De acordo com a mídia americana, embora o governo tenha investido US$ 130 milhões desde 1987 para tentar digitalizar o processo, a operação segue sendo feita em papel, tornando a mina um símbolo do atraso do setor público. O departamento liderado por Musk tem planos de digitalizar todo o sistema, eliminando esse gargalo.
Além da “mina de previdência”, Musk enfatizou sua indignação com a descoberta de que milhões de dólares em benefícios do Seguro Social continuavam sendo pagos a indivíduos já falecidos, muitos deles com idades supostamente superiores a 120 anos. Na coletiva ao lado do presidente Trump, Musk disse que tais irregularidades podem representar “a maior fraude da história” dos EUA. Nesta semana, o Doge disse que o Departamento de Segurança Social já “iniciou uma grande limpeza em seus registros”.
Aproximadamente 3,2 milhões de titulares, todos listados com idade de 120 anos ou mais, foram agora marcados como falecidos. Ainda há mais trabalho a ser feito”, anunciou a agência.
Apesar das descobertas, um juiz federal bloqueou o Doge de seguir acessando dados confidenciais do Departamento de Segurança Social, alegando que o departamento estava realizando uma “pesca predatória”. A Casa Branca vai contestar a decisão.
Contratos woke: cortes milionários em projetos ideológicos
Outro foco do Doge durante os últimos meses de trabalho foi a revisão de contratos voltados para programas woke e de diversidade, equidade e inclusão (DEI) em agências federais. Segundo a equipe de Musk, todos os contratos para implantar programas DEI no governo americano eram “desnecessários e ineficientes”, representando um desperdício de mais de US$ 1 bilhão aos cofres públicos.
Visando acabar com esses gastos, o Doge anunciou cortes de contratos de consultoria DEI em diversas agências federais e bloqueou Iniciativas em curso no Departamento do Tesouro que serviam para financiar tais programas progressistas, como a criação da opção de “Gênero X ou neutro” nos contratos de previdência social e referências à ideologia de gênero nos requerimentos públicos, que, segundo o Doge, custava anualmente aos cofres públicos US$ 1 milhão. O departamento também encerrou assinaturas premium de jornais como o Político e o The New York Times.
Usaid: cortes de bilhões e encerramento da agência global
A Usaid tem sido um dos principais alvos do Doge de Musk. Em uma auditoria que durou mais de seis semanas, o departamento cortou 83% dos programas da agência, informação que foi confirmada pelo secretário de Estado, Marco Rubio. 5,2 mil contratos da Usaid foram encerrados, o que, segundo o Doge, representavam bilhões em desperdícios.
A economia feita com esses cortes até o momento é de US$ 6,5 bilhões. O Doge também foi o responsável por iniciar o processo de encerramento da agência, bloqueando pagamentos que eram feitos pelo Departamento do Tesouro, fechando prédios – incluindo a sede da Usaid em Washington – suspendendo contratos de novos funcionários e colocando em licença administrativa cerca de 10 mil servidores — incluindo aqueles lotados no exterior — com o objetivo de viabilizar demissões futuras.
Musk e sua equipe criticaram projetos específicos da Usaid, expondo gastos considerados absurdos, como US$ 20 milhões destinados a um programa infantil no Iraque, supostamente criado para promover a inclusão entre grupos étnicos e religiosos. Outros projetos questionáveis envolvem financiamento de iniciativas de geoengenharia, pagamentos à Thomson Reuters Special Services — empresa que faz parte do grupo que é responsável pela agência Reuters, para prestação de serviços em pesquisa de “engenharia social” e subsídios para ONGs que operavam em zonas de conflito sem fiscalização adequada.
Além disso, segundo o Doge, a Usaid também destinou recursos significativos para diversas iniciativas progressistas ao redor do mundo. Entre os projetos financiados, destaca-se uma ópera com temática transgênero na Colômbia, que recebeu US$ 47 mil. A agência também investiu US$ 1,5 milhão para promover políticas DEI na Sérvia e enviou US$ 70 mil para bancar um musical com temática woke na Irlanda, bem como investiu US$ 32 mil em uma história em quadrinhos LGBT no Peru. As descobertas mostraram que os recursos dos contribuintes americanos estavam sendo utilizados em sua maioria para promover agendas progressistas globalmente, desviando-se dos interesses nacionais.
No X, a conta oficial do Doge afirmou que auditorias revelaram que a Usaid tentava “contornar ordens do governo” para manter seus repasses e que “bilhões de dólares estavam sendo usados para financiar uma pseudo-realidade fabricada globalmente”. O avanço do Doge de Musk sobre a Usaid não tem passado despercebido pelos burocratas e membros da esquerda americana, que entraram com diversas ações na Justiça dos EUA para barrar o encerramento da agência, considerada por eles como “vital” para manter programas de ajuda ao redor do mundo.
Nesta semana, esses burocratas tiveram sucesso em sua missão de bloquear o fim da agência. Um juiz considerou as ações de Musk e do Doge contra a Usaid como “inconstitucionais” e ordenou que os processos em curso para o encerramento da agência fossem temporariamente suspensos. O juiz Theodore Chuang, do Distrito de Maryland, baseou sua decisão em uma interpretação da Constituição que limita o poder do Executivo sobre agências federais criadas pelo Congresso. Segundo essa visão, apenas funcionários oficialmente nomeados e confirmados pelo Senado podem tomar decisões administrativas em órgãos governamentais, o que não ocorreu no caso de Musk, que, segundo a Casa Branca, atua apenas como um assessor especial do presidente Donald Trump, não como um funcionário de fato, que recebe salário.
Na decisão, Chuang ordenou que Musk e o Doge restabeleçam imediatamente o acesso dos funcionários aos sistemas de e-mail, pagamento e segurança da Usaid, além de proibir a divulgação de qualquer informação sensível dos trabalhadores da agência. Também determinou que o governo Trump apresente um plano para garantir que a Usaid possa reocupar sua sede caso a decisão final da Justiça seja favorável aos demandantes.
Por outro lado, o juiz não reverteu a demissão em massa de funcionários nem a rescisão de contratos que já foram feitos, mesmo reconhecendo que essas ações “provavelmente violaram a Constituição”. A justificativa é que tais medidas foram formalmente aprovadas por autoridades que não são réus na ação. Contudo, novas demissões autorizadas e solicitadas pelo Doge estão suspensas a partir desta decisão. O caso segue sendo avaliado pelo juiz e a Casa Branca disse que vai recorrer desta decisão.
Desperdício com software e tecnologia
O Doge também identificou que o governo federal dos EUA estava gastando bilhões de dólares em softwares não utilizados. Apenas no Departamento de Segurança Social foram descobertas 10 mil licenças do UI Path — plataforma que permite às empresas automatizar tarefas repetitivas por meio de robôs de software — mas apenas 5.011 estavam em uso, 20,6 mil licenças do Tableau — ferramenta de visualização de dados que permite transformar informações brutas em gráficos interativos — com apenas 11.560 sendo utilizadas.
O custo dessas assinaturas poderia chegar a US$ 20 milhões. Além disso, somente a assinatura do jornal Politico, o serviço “PRO Plus” do jornal, custava US$ 14 mil por ano, sem retorno mensurável. Além disso, o Doge também encontrou 37 mil licenças do programa WinZip em uma agência federal que possui apenas 13 mil funcionários e identificou 4,6 milhões de cartões de crédito governamentais ativos, muitos dos quais sem uso. O Doge está trabalhando para encerrar todos esses processos.
O departamento de Musk também identificou que aproximadamente US$ 4,7 trilhões em pagamentos do Departamento do Tesouro dos EUA estavam sem o Treasury Account Symbol (TAS), um código essencial para rastrear transações financeiras. A ausência desse código tornava o monitoramento desses gastos “praticamente impossível”. Em resposta, o departamento de Musk implementou a obrigatoriedade do uso do TAS em todas as transações, visando aumentar a transparência sobre a destinação dos recursos públicos.
Apesar do sucesso em expor desperdícios, o Doge enfrenta resistência por parte dos democratas e da esquerda americana. Burocratas reclamam que os cortes podem afetar “serviços essenciais”, como aposentadorias e benefícios de seguridade social. A Casa Branca, no entanto, tem defendido o Doge e reafirmou que todas as ações têm como foco beneficiar os contribuintes americanos. Durante um discurso no Congresso dos EUA, o presidente Donald Trump agradeceu a Musk por liderar o departamento, destacando seus esforços na redução de gastos públicos.
Fonte: Gazeta do Povo