Neutralidade

Diante de decisões, sejam pequenas ou consideráveis, penso demais em todas as possibilidades, temo em escolher com amor, acreditando fielmente que os resultados serão bons frutos, mas, também, temo que a neutralidade da minha decisão me faça desaparecer no vazio da covardia.
Se conheço uma nova pessoa, temo em não demonstrar sinceramente o que sinto. Sinto um medo corrosivo de errar por exagero, de errar por falta de atenção, a verdade é que me apavoro somente por errar. Contudo, raramente considero todos os erros direcionados a mim. Avalio que o cuidado que possuo é, exclusive meu, um medo exacerbado que não é recíproco.
Temo qualquer experiência que envolva convivência, uma amizade, uma oportunidade de emprego ou relacionamento. A balança dos prós e contras me esmaga de maneira devastadora. Se busco a simpatia, temo em demonstrar algo que não deveria, quando a gentileza é o melhor caminho, temo em ser boazinha demais e pouco valorizada. Quando busco a hostilidade e a indiferença para pessoas e situações que mereçam, temo em não ter tido a empatia necessária para compreender os limites de cada um.
Percebo, também, que uma anomalia no caráter humano está ocasionando em pessoas do bem; o medo, um pavor de se socializar, um temor de ter que se calar para discursos de ódio e preconceito, diante de possíveis agressões brutais. A defesa cega por ideais, atualmente, pode ser perigosa, um veneno que certamente levará a um tipo de óbito.
Assim, diante das escolhas e decisões, diante das oportunidades de expor pensamentos e sentimentos, temo pelo óbito da própria essência, tenho medo de perder o meu valor diante dos julgamentos alheios e quase sempre infundados em percepções superficiais do quem realmente sou. Com tudo isso, aprendo a cada dia a observar e a sentir antes de tomar qualquer decisão, antes mesmo de temer algo, dizer ou me posicionar, pois o meu maior temor é perder a minha paz.
Autora: Silvia Vanderss
Texto: Neutralidade
Inédito
Palavras: 319