Tecnologia & Inovação

Tinta inovadora ajuda a resfriar casas naturalmente

Tinta com tecnologia desenvolvida em Cingapura imita a transpiração humana para reduzir o calor sem uso de energia elétrica

Cientistas da Universidade Tecnológica de Nanyang desenvolveram uma tinta inovadora à base de cimento que simula o mecanismo natural de resfriamento da pele humana: a transpiração. Ao contrário das tintas comerciais de resfriamento, que costumam repelir a água para proteger as estruturas, essa nova formulação armazena água em uma estrutura porosa e a libera lentamente, promovendo a evaporação e dissipando calor.
Segundo o cientista de materiais Li Hong, a base da inovação está no “resfriamento passivo” — ou seja, o sistema opera sem depender de energia elétrica ou mecanismos externos. Enquanto outras tintas utilizam principalmente o resfriamento radiativo, refletindo a luz solar e emitindo calor de volta para o céu, essa estratégia se torna ineficaz em regiões úmidas, onde a alta umidade impede a dissipação eficiente do calor.

A solução? Criatividade científica. A nova tinta combina três mecanismos de resfriamento passivo: evaporação, radiação e reflexão solar. Ela reflete entre 88% e 92% da luz solar, mesmo quando molhada, e emite até 95% do calor que absorve. Para otimizar a performance, os pesquisadores adicionaram nanopartículas para aumentar a resistência, além de polímeros e sal, que ajudam a manter a umidade e prevenir rachaduras.

Após dois anos de testes em três minicasas em Cingapura, os resultados foram claros. Uma das casas foi pintada com tinta branca comum, outra com uma tinta refrescante convencional e a terceira com a fórmula experimental. Enquanto as duas primeiras desbotaram para o amarelo sob o sol tropical, a nova tinta se manteve intacta. “Nossa tinta ainda estava branca”, destacou o coautor Jipeng Fei. E essa brancura é fundamental, pois garante eficiência contínua no resfriamento.

Eficiência energética e adaptação climática
Os testes também mostraram que a nova tinta pode reduzir entre 30% e 40% o uso de ar-condicionado nas casas onde foi aplicada. “Cerca de 60% da energia usada em edifícios vai para o resfriamento dos ambientes”, observa o coautor See Wee Koh. Com uso em larga escala, a inovação poderia diminuir significativamente a demanda por eletricidade, tornando os espaços internos mais confortáveis com menor dependência de sistemas de climatização intensivos em energia.

As aplicações vão além do uso doméstico. Diversas cidades ao redor do mundo enfrentam o chamado efeito de ilha de calor urbana, onde grandes concentrações de concreto absorvem e retêm calor. O uso de ar-condicionado, apesar de eficaz em ambientes internos, agrava o problema ao liberar ar quente nas ruas e bairros. Já essa nova tinta atua de maneira diferente, emitindo calor na forma de radiação infravermelha invisível, que se dissipa na atmosfera sem aquecer o entorno imediato.

“Cingapura sofre com uma ilha de calor urbana muito severa”, afirma Koh, mencionando também regiões como o Oriente Médio que enfrentam desafios semelhantes. Diante do avanço das mudanças climáticas e das temperaturas cada vez mais extremas, tecnologias como essa oferecem soluções passivas e sustentáveis para manter os ambientes mais frescos e o planeta mais habitável.

Fonte: CicloVivo

Luzimara Fernandes

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

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