Seu filho está ficando mais isolado? Veja seis problemas da modernidade que afetam o comportamento infantil

Ansiedade, cansaço e irritabilidade têm sido respostas comuns ao ritmo imposto pela rotina moderna
Talvez você já tenha notado seu filho mais quieto, impaciente ou até desanimado, mas não consiga apontar exatamente o motivo. O ritmo da vida atual tem imposto às crianças um cotidiano cheio de pressa, cobrança e falta de conexão real. Não é à toa que psicólogos e pediatras observam um aumento nos casos de ansiedade, distúrbios do sono, estresse e dificuldades emocionais em crianças. Especialistas consultados pela Crescer apontaram os principais fatores ligados à vida contemporânea que interferem diretamente no bem-estar das crianças.
1. Falta de tempo livre
A rotina de muitas crianças imita a de adultos. “Quando a infância se enche de horários e obrigações, sobra pouco espaço para ser criança”, afirma a psicóloga infantil Katherine Sorroche à Crescer. Para ela, o excesso de compromissos diminui o tempo de brincar e de imaginar.
A criança perde o contato com a leveza e a criatividade que deveriam marcar essa fase da vida”.
A pediatra Cecília Gama observa que o impacto vai além do emocional. “Privação de sono, fadiga, maior vulnerabilidade a doenças e até alterações no apetite podem surgir quando o corpo e a mente não têm tempo suficiente para descansar”.
2. Pressão por desempenho
Tanto na escola quanto nas atividades extracurriculares, a expectativa de que a criança tenha um bom rendimento pode pesar demais. “A criança pode começar a acreditar que só vale a pena quando acerta, e isso afeta diretamente sua autoestima”, comenta a psicóloga. A especialista explica que esse tipo de pressão reduz a disposição para tentar coisas novas e pode levar à desmotivação. Já a pediatra ressalta que, ao serem expostas a avaliações constantes, muitas crianças desenvolvem medo de errar.
Atividades que poderiam ser fonte de alegria se tornam fonte de estresse. Quando só existe um jeito certo, sobra pouco espaço para explorar, imaginar e errar”.
3. Uso excessivo de telas
Dispositivos eletrônicos preenchem boa parte do tempo das crianças. “Quando a tela toma conta, o corpo fica parado e a mente agitada”, aponta a psicóloga. Segundo ela, esse uso prolongado afeta o sono e a disposição para brincar.
Essa interferência provoca efeitos físicos. “A luz azul atrapalha a produção de melatonina e dificulta o sono. Além disso, o sedentarismo e a má postura aumentam dores musculares e risco de obesidade. Muitas crianças relatam ardência, visão embaçada e dor de cabeça”, conta a pediatra.
4. Estímulos em excesso e pouco vínculo
As crianças vivem sob bombardeio de informações e falta espaço para convívio real. “O excesso de estímulos, a falta de tempo de qualidade com os pais e a dependência das telas tiram delas a oportunidade de simplesmente serem elas mesmas”, ressalta a psicóloga. A pediatra acrescenta: “Com menos tempo para conversas leves e brincadeiras em família, a criança pode se sentir mais distante dos pais, o que afeta seu senso de segurança emocional”.
5. Isolamento social
Apesar de conectadas digitalmente, muitas crianças estão isoladas. “Crianças evitam colegas por vergonha de não ser boas o suficiente. O medo de falhar faz com que se afastem até de atividades que antes gostavam”, diz a pediatra.
O reflexo pode aparecer no corpo. “Birras, choro fácil, dificuldades para dormir, dores sem causa física clara”, conta a psicóloga infantil. “Toda criança fala por meio do corpo e do comportamento”.
6. Dificuldades para lidar com frustração
Segundo as especialistas, a falta de tempo para o brincar livre e a constante vigilância dos adultos dificultam o desenvolvimento da autonomia. “Muitas não sabem brincar sozinhas, não suportam se frustrar e se sentem inseguras mesmo quando parecem confiantes”, afirma a psicóloga. Para a pediatra, isso tem efeitos no longo prazo. “Crianças com dificuldade em lidar com frustração, raiva ou perdas crescem com baixa tolerância ao erro e dificuldade de regulação emocional”.
E os adultos nisso tudo?
As especialistas alertam que os hábitos das crianças refletem os modelos adultos.
O estilo de vida da criança é impresso pelo adulto”, diz a psicóloga. “Não adianta pedir que desacelerem se seguimos correndo. Não faz sentido exigir que larguem as telas se nós também estamos sempre grudados nelas”, orienta a pediatra.
Fonte: Crescer