Djanira, a artista que pintou o Brasil popular

Djanira da Motta e Silva promoveu, por meio de suas obras, a valorização da cultura popular, destacando de manifestações religiosas a festas regionais
Por Giovanna Gomes
Djanira da Motta e Silva foi, certamente, uma das artistas mais singulares do Brasil do século 20. Embora tenha ingressado no mundo das artes quase por acaso, a mulher de origem humilde, neta de guaranis por parte de pai e de austríacos por parte de mãe, construiu uma trajetória admirável como pintora, desenhista, ilustradora, cartazista, cenógrafa e gravadora.
Com um olhar sensível e comprometido com a valorização da cultura popular, Djanira transformou cenas do cotidiano em arte em cores vibrantes: festas regionais, paisagens do interior, o labor dos trabalhadores do campo e da cidade, e manifestações religiosas — tanto do catolicismo quanto de tradições indígenas e afro-brasileiras — tornaram-se marcas registradas de seu trabalho. Entre suas obras de maior destaque estão o mural Candomblé, feito para a casa de Jorge Amado na Bahia; o painel de azulejos do túnel Santa Bárbara (1958), no Rio de Janeiro, e as ilustrações do livro Campo Geral, de Guimarães Rosa.
Nascida em 1914, na cidade de Avaré, no interior de São Paulo, e criada em Porto União, na divisa entre Santa Catarina e Paraná, Djanira começou a desenhar tardiamente, como autodidata, durante um período de internação por tuberculose. Ao ver, no sanatório, um desenho de Cristo, a pintora, então com 23 anos, decidiu fazer sua própria versão. Assim nascia seu interesse pela arte.

De acordo com o Instituto Pintora Djanira, em 1939, a brasileira precisou se mudar para o Rio de Janeiro a fim de cuidar de sua saúde, instalando-se em Santa Teresa, onde passou a gerenciar uma pensão frequentada por artistas e intelectuais. Ali, onde era costureira de dia e desenhista de madrugada, teve contato com nomes como Milton Dacosta, Carlos Scliar, Maria Helena Vieira da Silva e Rubem Navarra. Nesse período, estudou técnicas de pintura com Emeric Marcier e frequentou o curso noturno do Liceu de Artes e Ofícios.
Em 1942, Djanira realizou sua primeira exposição individual e, nos anos seguintes, consolidou-se como figura importante da arte nacional. Além disso, entre 1945 e 1947, viveu em Nova York, onde conheceu artistas como Fernand Léger, Joan Miró e Marc Chagall, aprofundando ainda mais sua busca por uma linguagem própria. Em 1968, interrompeu um leilão para denunciar uma falsificação de sua obra, o que levou à abertura de um inquérito e ao avanço das discussões sobre autenticidade no mercado de arte brasileiro.
A artista faleceu em 1979, no Rio de Janeiro, pouco após concluir sua última obra, ‘Minha paisagem de Santa Teresa’. Ela foi velada no Museu de Arte Moderna do Rio como homenagem à sua imensa contribuição à arte do país. Fiel às suas raízes, foi enterrada com o hábito das carmelitas, descalça, como pedia sua fé.
Fonte: Aventuras na História