Comportamento & Equilíbrio

A causa do suicídio e a importância de cuidar da saúde mental

Por Núbia Arruda

O suicídio é uma das principais causas de morte no mundo contemporâneo e, apesar de ainda ser um tema cercado de estigmas e silêncios, precisa ser debatido de forma aberta, responsável e empática. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a cada 40 segundos uma pessoa tira a própria vida em algum lugar do planeta. Esse número alarmante revela não apenas a gravidade do problema, mas também a urgência de promovermos uma cultura de cuidado e prevenção em saúde mental.

Entendendo as causas
Ao contrário do que muitas vezes se pensa, o suicídio não é resultado de um único fator, mas, sim, de uma combinação complexa de aspectos biológicos, psicológicos e sociais. Entre as principais causas estão os transtornos mentais, como depressão, transtorno bipolar e esquizofrenia, além de condições associadas à dependência química. Contudo, também entram em cena situações de grande sofrimento, como luto, perdas afetivas, desemprego, pobreza, violência doméstica, bullying e exclusão social.

É importante compreender que a pessoa que chega a esse extremo não deseja, em essência, a morte. O que ela busca é uma saída para cessar uma dor que se tornou insuportável. Muitas vezes, o suicídio aparece como a última alternativa encontrada por alguém que não enxerga mais possibilidades de melhora ou de apoio.

O peso do estigma
Um dos grandes obstáculos para a prevenção do suicídio é o tabu que envolve o tema. Em muitas culturas e contextos, falar sobre a morte autoinfligida ainda é visto como fraqueza ou pecado, o que impede que as pessoas em sofrimento se sintam acolhidas para buscar ajuda. Esse silêncio, no entanto, agrava o problema.

A ausência de diálogo aberto gera sentimentos de vergonha e isolamento, reforçando a ideia de que a dor deve ser vivida sozinha. Romper com esse estigma é um dos passos mais importantes para criar uma rede de apoio eficaz.

Fontes: Boletim Epidemiológico/Ministério da Saúde (2022 e 2024), The Lancet Regional Health – Americas, Opas, OMS (Imagem: Arte UOL)

A importância de cuidar da saúde mental
Cuidar da saúde mental não deve ser um ato apenas emergencial, mas sim uma prática preventiva e cotidiana. Assim como cuidamos do corpo por meio de exercícios físicos e alimentação equilibrada, precisamos também reservar espaço para cuidar da mente. Isso significa desenvolver hábitos saudáveis, como manter relações sociais de apoio, praticar atividades que gerem prazer, estabelecer limites no trabalho e procurar ajuda profissional sempre que necessário.

A psicoterapia, por exemplo, é uma ferramenta essencial para que o indivíduo compreenda seus próprios sentimentos, identifique padrões de comportamento e encontre recursos internos para lidar com os desafios da vida. Em alguns casos, o acompanhamento psiquiátrico e o uso de medicação adequada também são fundamentais. É igualmente importante que escolas, empresas, igrejas e comunidades estejam atentas aos sinais de sofrimento. Pequenas mudanças de comportamento, como isolamento repentino, perda de interesse em atividades antes prazerosas, alterações no sono e no apetite, frases que indicam desesperança ou desejo de desistir da vida, precisam ser levadas a sério.

A prevenção como responsabilidade coletiva
A prevenção do suicídio não é apenas tarefa dos profissionais da saúde, mas de toda a sociedade. Escutar sem julgamentos, oferecer apoio emocional e encaminhar alguém em sofrimento para serviços de saúde podem salvar vidas. Muitas vezes, um gesto de acolhimento basta para que a pessoa se sinta vista e compreendida.

Políticas públicas também desempenham papel crucial nesse cenário. É necessário investir em centros de atendimento psicológico, ampliar o acesso à saúde mental no Sistema Único de Saúde (SUS), capacitar profissionais da educação para identificar sinais de risco e criar campanhas permanentes de conscientização. O Setembro Amarelo, mês de prevenção ao suicídio, é um marco importante, mas a luta contra o estigma e a favor da vida deve acontecer durante todo o ano.

Uma mensagem de esperança
Embora o suicídio seja um problema complexo, ele pode ser prevenido. Nenhuma dor é permanente, e sempre há caminhos de cuidado e recuperação. Acolher quem sofre é um ato de humanidade que todos podemos praticar. Para aqueles que enfrentam pensamentos suicidas, é fundamental saber que não estão sozinhos. Buscar ajuda é um gesto de coragem, e não de fraqueza. Procurar familiares, amigos de confiança ou profissionais pode abrir novas perspectivas.

No Brasil, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio gratuito e sigiloso, 24 horas por dia, pelo telefone 188 ou pelo site www.cvv.org.br. Esse tipo de serviço é um exemplo de como a escuta pode ser um recurso poderoso para salvar vidas.

Conclusão
O suicídio não deve ser tratado como um tabu, mas como uma questão de saúde pública que exige responsabilidade, empatia e ação coletiva. A causa principal está no sofrimento intenso e multifatorial, mas a prevenção está ao nosso alcance quando promovemos uma cultura de cuidado, atenção e acolhimento. Cuidar da saúde mental é investir na vida. Quando oferecemos escuta, apoio e tratamento adequado, transformamos o desespero em esperança. E essa esperança pode ser o fio que impede que uma vida seja interrompida.

Núbia Arruda
Formada em Administração
Psicanalista Clínica

Luzimara Fernandes

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

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