Cultura

A Casa de Pedra — Parte II

Busquei dormir várias vezes, o local era apavorante, com ruídos e sons misteriosos. Por volta das 23 horas, a chuva aumentou. Os vidros balançavam, e os raios conseguiam penetrar os finos tecidos das cortinas. Fechei os olhos, pensei em flores, imaginei as flores, pude até mesmo sentir o perfume de uma rosa. Porém, nada do sono. Consegui deixar de lado os seus ruídos apavorantes, levantei e em alguns passos, eu estava no banheiro, diante do espelho. Senti um calafrio tenebroso, e quando olhei para a minha imagem, percebi que a estátua atrás olhava diretamente em meus olhos. O susto me fez acordar!

As cortinas balançavam pelos ventos, e a tempestade não dava trégua. Levantei para fechar as janelas. Lá embaixo, a neblina cobria a estrada e os carros no estacionamento. Voltei para a cama, com o intuito de voltar a dormir e sonhar com as flores. Entre as orquídeas e as begônias, surgiram alguns ruídos, que apagaram as belas imagens e levaram a minha mente a um lugar nada conveniente para se passar uma noite. Despertei de novo, e desta vez ouvi muitos passos nos corredores. Olhei pela porta e nenhuma luz estava acesa. Não havia nada a ser notado, além dos passos ouvidos.

Tentei pensar em outras coisas, mas o barulho dos passos continuava lá fora. Pensei em acordar o Pedro. Porém, sei que ele iria dizer que são coisas da minha cabeça. Preferi ficar olhando para o teto, com a luz acesa do meu abajur. Em alguns momentos, os passos cessaram e as portas bateram. Algo até previsível diante da ventania que nos cercava. As horas se passaram e eu não consegui dormir. Evitei ir ao banheiro, depois do que sonhei. Eu estava cansada, mas a cada tentativa de dormir, eu acordava assustada, com algum tipo de ruído. Tive a impressão de que o senhor havia mentido em relação ao hotel estar realmente vazio.

Bem lá no fundo, eu sabia que não havia ninguém. Nem vozes, nem passos. Era mais razoável inserir uma inverdade em uma mente confusa, para trazê-la a uma sanidade aceitável. Provavelmente, nem mesmo o senhor da recepção permanecia à noite naquele local. Quando o relógio marcou 3h45min. da madrugada, eu comecei a me sentir sonolenta. Adormeci, e desta vez eu não sonhei nada. Apaguei literalmente.

Não sei precisar, exatamente, quanto tempo depois fui despertada por uma respiração ofegante em minha nuca, junto com algumas carícias em meus cabelos. Um arrepio me tomou e pensei: “Pedro já acordou! Poxa, eu mal consegui dormir!”.
Meu corpo estava preso no sono e permaneci imóvel, até sentir novamente aquela respiração. Então, eu despertei para pedir que voltasse a dormir e me deixasse descansar. Entretanto, quando abri os meus olhos, ele estava na minha frente, dormindo, virado para a outra parede. O pavor me abraçou de um jeito desesperador, e me recusei a olhar para trás. Pedro dormia profundamente. Não havia sido ele, e isso me destruiu! Tive medo de ficar na cama, medo de me levantar, medo de respirar…

Autora: Silvia Vanderss
Palavras: 658
A Casa de Pedra — Parte II
Arte: Thaís Alves

Eram quase seis horas da manhã, e eu entorpecida, sem me virar, sentindo uma presença no quarto. Presa pelo meu consciente frágil, e ao mesmo tempo impotente diante de uma situação sombria. Suportei o máximo que pude, fechei os olhos e me virei para confrontar o meu maior inimigo. Aquele que me assombrava com possibilidades ilusórias, o meu medo.

Ao me virar, olhei fixo para o nada, e o nada olhou para mim. Ele existia, pude sentir a sua fraca energia, o cheiro de flores e um novo toque em meus cabelos jogados no travesseiro. Eu estava apavorada e o meu corpo tremia. O odor enfraqueceu, a presença se distanciou. Eu chorei inerte na cama. A minha respiração estava ofegante, apertei os lençóis com os dedos. A porta do banheiro bateu de maneira forte e inesperada. Fechei os olhos e gritei. Sim, gritei para expor a coragem que tive para enfrentar o medo que me aprisionava.

Silvia Vanderss

Silvia Vanderss

Autora capixaba, com formação em Administração e Letras Seis obras publicadas que abrangem os gêneros, romance, suspense e poesia Blog literário: www.silviavanderss.com.br

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