O Sangue — Parte II
Assim que a jovem percebeu estar diante de uma cena de terror, tentou conter o próprio medo, contudo ao olhar para cozinha, os seus olhos se arregalaram ao ver que no chão havia a imagem de uma cruz, desenhada com gotas sangue. O formato possuía uns cinquenta centímetros, as gotas de sangue eram frescas, como se fossem derramadas naquele dado instante, para formar o símbolo. Ela soltou o enfeite que carregava, e olhou para sua volta, tudo parecia fechado, nenhum sinal de arrombamento. O vento insistia em assustá-la, ela permaneceu ensanguentada e entorpecida ao lado da cruz.
Por um segundo ela pensou que estaria sangrando e perdendo o bebê, contudo ao se examinar percebeu que estava normal. A jovem mãe firmou o pensamento em Deus, pedindo proteção e resolveu agir para que a sua filha não encontrasse a casa daquela maneira apavorante. Ela deixou o medo de lado e reuniu as suas forças e coragem, foi até a pia da cozinha, pegou um pano e começou a limpar o sangue do chão. Primeiro ela limpou o desenho da cruz, para retirar todo o sangue do piso ela precisou lavar o pano várias vezes na pia, em meio esse processo ela vomitou, com nojo do cheiro. Após finalizar a limpeza na cozinha, a jovem iniciou o mesmo processo no corredor, ela o limpou mais de duas vezes, e, quando terminou, se debruçou sobre a pia, o cansaço a tomou, seu choro de desespero foi inevitável, ela jamais havia sentido algo assim na sua vida. Tudo era misterioso, apavorante e inexplicável.
A casa estava limpa, quando ela se lembrou do celular e pensou em ligar para o marido, porém, o aparelho havia ficado no quarto carregando, tudo havia ocorrido muito rápido. Após lavar as mãos, os pés e o rosto, a jovem ouviu um novo ruído de passos em seu quarto e se lembrou da filha que dormia. O medo a cercou novamente, ela foi até o corredor e parou, pois, um calafrio cobriu o seu corpo como se houvesse mais alguém próximo a ela, porém nada e nem ninguém estava diante dos seus olhos, contudo sentiu uma presença forte. De repente as luzes se apagaram, e novos passos surgiram no corredor. Ela permaneceu imóvel, sem saber como agir, seu bebê começou a mexer dentro do seu ventre, e uma voz rompeu a escuridão:
— Mamãe, estou com medo! — disse sua filha, ao aparecer na ponta do corredor como uma sombra na escuridão.
— Filha, mamãe está aqui! Fique aí eu estou indo, acabou a luz e vou acender algumas velas.
Desesperada ela voltou para cozinha, abriu uma gaveta e retirou duas velas que estavam usadas, com fósforos as acendeu e caminhou em direção ao quarto. Quando chegou no início do corredor se deparou com a sua filha suja de sangue. Com a luz fraca da vela, notou um novo rastro de sangue em todo trajeto do corredor. Ela correu e abraçou a menina, ambas fecharam os olhos e se entregaram aquele abraço de consolo. Entretanto, quando se acalmaram e abriram os seus olhos, diante das luzes fracas, a mãe não acreditou que teria que limpar todo aquele sangue novamente e a pequena se assustou, o seu semblante foi tomado por um pavor indescritível ao olhar para o sangue em suas mãos.
— Mamãe, estou com medo, tem uma cruz de sangue na cozinha.
Antes de olhar para trás, a jovem mulher percebeu que os seus corações vibravam na mesma intensidade, por estarem diante de um mistério imprevisível e aterrorizante, ela se virou e viu a imagem no mesmo lugar, da mesma forma. Ao respirar fundo, a jovem mãe segurou a filha em seu colo, passou por cima da cruz de sangue, abriu a porta da cozinha e fugiu, sem levar nada além do alívio de se livrar daquilo tudo.
Autora: Silvia Vanderss
Palavras: 635
Conto inédito: O Sangue — Parte II
Conto inspirado em uma história real