Meio ambiente

Conheça a flor que só existe em Brasília e corre risco de extinção

Drenagem de áreas úmidas e a substituição da vegetação nativa por pastagens ameaçam a existência da Lobelia brasiliensis

Por Rafaella Dorigo/Globo Rural

O Distrito Federal, em Goiás, abriga uma planta rara e exclusiva: a Lobelia brasiliensis. Essa espécie nativa do Cerrado está restrita a áreas úmidas da região e enfrenta hoje um sério risco de extinção devido à perda de habitat. Em entrevista à Globo Rural, a florista Cristiely Santos explica que a Lobelia brasiliensis é uma planta de pequeno porte que cresce em ambientes alagados, como brejos, veredas e margens de rios.
Ela nasce em locais de difícil acesso e contribui para manter vivos os microecossistemas locais. Também serve de abrigo e alimento para pequenos animais, insetos e microrganismos, desempenhando um papel importante na manutenção dessas áreas úmidas.

De acordo com o Centro Nacional de Conservação da Flora (CNCFlora), iniciativa do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, a Lobelia brasiliensis está classificada como “Em Perigo (EN)”. As principais ameaças incluem a expansão urbana, a drenagem de áreas úmidas e a substituição da vegetação nativa por pastagens de capim-braquiária. “É um processo silencioso, que muitas pessoas nem percebem”, afirma a florista Cristiely.

Para enfrentar esse cenário de ameaça foi elaborado, em 2023, um plano de conservação específico para a Lobelia brasiliensis, como parte do licenciamento ambiental de um empreendimento em Sobradinho (DF). O projeto inclui ações de monitoramento, implantação de viveiros e parcerias com a Universidade de Brasília e a Embrapa para garantir a sobrevivência da planta.

Por que a Lobelia brasiliensis só existe em Brasília?
A ocorrência restrita da espécie ao Distrito Federal está ligada ao fenômeno do endemismo no Cerrado. Espécies endêmicas são aquelas que surgiram e se adaptaram a um ambiente específico, não ocorrendo naturalmente em outras regiões. No caso dessa planta, sua adaptação está diretamente relacionada às áreas úmidas do Planalto Central, que possuem características únicas: solos hidromórficos (constantemente encharcados), regime hídrico particular, microclima diferenciado e variações sazonais bem marcadas.

Segundo o livro Cerrado: ecologia e flora, da Embrapa, essas condições não se repetem de forma idêntica em outras partes do Brasil — mesmo em regiões úmidas. Por isso, a espécie evoluiu para sobreviver em um nicho ecológico restrito, tornando-se dependente dessas características locais. Além disso, veredas e brejos do Cerrado funcionam como “ilhas ecológicas”, que favorecem o surgimento de espécies endêmicas. O isolamento geográfico e a distância entre habitats similares reduzem o fluxo genético e promovem a diferenciação local.

Fonte: Um Só Planeta

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

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