“Evoluímos na governança de sustentabilidade”

Diz diretora da Samarco sobre lições aprendidas com a tragédia de Mariana (MG)
A Aço 5.0BR deste mês, traz Rosane Santos, executiva da companhia Samarco S.A., como entrevistada principal. Com formação em Contabilidade e especialização em finanças e MBA executivo na Inglaterra, Rosane, é responsável pela recém-criada Diretoria de Sustentabilidade, cuja missão é fortalecer a governança ambiental e social da companhia que, em 2015, sofreu um grande golpe chegando a parar as operações por cinco anos depois do rompimento da Barragem de Fundão, em Mariana, Minas Gerais.
Segundo a executiva, a segurança é um valor inesgotável para a Samarco e que, desde a retomada das operações, em 2020, a empresa opera sem barragens para disposição de rejeitos. Adotou um processo inovador que combina filtragem e empilhamento a seco para 80% do rejeito arenoso gerado, enquanto os 20% restantes são depositados em cava confinada, considerada uma alternativa mais segura”.
Aço5.0BR — Quais as principais inovações tecnológicas e operacionais adotadas pela Samarco para garantir a segurança e a sustentabilidade, especialmente na gestão de rejeitos?
Fortalecemos o Sistema Integrado de Segurança da empresa, composto por cerca de 2.000 equipamentos de monitoramento que, durante 24 horas por dia e sete dias por semana, atuam em conjunto com os Centros de Monitoramento e Inspeção (CMI) e os Centros de Operações Integradas (COI). A Samarco segue padrões internacionais, como o GISTM (Global Industry Standard on Tailings Management), e passa por auditorias externas independentes.
Além disso, tecnologias de economia circular têm sido incorporadas ao processo industrial, como o uso de coprodutos de rochas ornamentais na pelotização no Espírito Santo (iniciativa pioneira) e o aproveitamento de rejeitos em obras de pavimentação ecológica e em aplicações para construção civil.
Aço5.0BR — Como a Samarco garante 100% de conformidade nos laudos de estabilidade de suas barragens remanescentes?
Todas as estruturas geotécnicas da Samarco estão estáveis, conforme atestado por auditorias independentes e certificações legais. A empresa adota as melhores práticas internacionais de engenharia, incluindo inspeções rotineiras, monitoramento contínuo e rigoroso atendimento ao GISTM.
A descaracterização das estruturas a montante segue em andamento, sendo que a Barragem do Germano está com obras avançadas, e a Cava do Germano teve suas obras concluídas em 2023, antes do prazo. Esses avanços reforçam o compromisso da Samarco com a estabilidade e a conformidade regulatória.
Aço5.0BR — Quais são as metas da Samarco em termos de gestão ambiental, como uso de recursos hídricos, gestão de resíduos (além dos rejeitos de mineração) e proteção da biodiversidade?
A Samarco possui um programa estratégico de Sustentabilidade, com metas alinhadas ao Conselho Internacional de Mineração e Metais (International Council on Mining and Metals – ICMM), ao Ibram e às diretrizes climáticas nacionais.
Entre os objetivos ambientais, destacam-se:
✓ Economia de água: maximização da recirculação hídrica em todas as etapas do processo.
✓ Gestão de resíduos: iniciativas de circularidade que incluem a utilização de rejeitos arenosos em obras de descaracterização, e o desenvolvimento de novos usos para rejeitos arenosos e ultrafinos (lama).
✓ Biodiversidade: programas de compensação, recuperação ambiental e redução de impactos, incluindo projetos vinculados aos licenciamentos ambientais.
✓ Descarbonização: metas de redução de 30% das emissões de Escopos 1 e 2 até 2032 e neutralidade de carbono até 2050.

Aço5.0BR — A empresa utiliza fontes de energia renovável em suas operações?
Sim. Os minerodutos da Samarco já operam com energia 100% renovável. A empresa conduz ainda um programa de transição energética que inclui testes e implementação de bio-óleo 100% renovável, capaz de substituir o gás natural na pelotização, uma iniciativa pioneira no setor, com potencial de reduzir até 18 mil toneladas de CO₂ por ano.
A empresa também avalia o uso de frota elétrica, melhorias de eficiência energética e novos insumos de baixo carbono.
Aço5.0BR — Qual a estratégia da Samarco para alcançar os 100% da capacidade produtiva até 2028, de forma sustentável e segura?
Atualmente, a Samarco opera com 60% da capacidade produtiva instalada. O plano de expansão para atingir 100%, denominado Momento 3, envolve investimentos de cerca de R$13,8 bilhões, dos quais R$ 3,5 bilhões serão aplicados no Complexo de Ubu (ES). A estratégia inclui:
✓ Retomada do concentrador 1 em Minas Gerais em 2028;
✓ Conclusão da planta de filtragem de rejeitos em Minas Gerais em 2028;
✓ Reativação das Usinas de Pelotização 1 e 2 no Espírito Santo a partir de 2029.

Aço5.0BR — Como a Samarco mede e reporta seu desempenho em sustentabilidade (ESG) e quais padrões internacionais segue?
Para alavancar a integração da sustentabilidade ao negócio, possuímos um Programa Estratégico que está alinhado aos princípios ambientais, sociais e de governança (ESG). Ele foi desenvolvido com a participação e validação da alta liderança, consolidando um plano de longo prazo conectado ao Mapa Estratégico e ao Plano de Negócios da empresa. Nossos principais compromissos, desafios e avanços são reportados em nosso Relatório Anual de Sustentabilidade e estão também disponíveis em nosso site e publicações relacionadas.
Adotamos como base para o relato as normas da Global Reporting Initiative (GRI); do Sustainability Accounting Standards Board (SASB); e itens da Task Force on Climate-Related Financial Disclosures (TCFD). E temos como orientadores princípios e diretrizes como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS); Princípios do Pacto Global das Nações Unidas; Princípios do Conselho Internacional de Mineração e Metais (ICMM) e Padrão Global da Indústria para Gestão de Rejeitos (GISTM); Agenda ESG da Mineração (Ibram) e Rumo à Mineração Sustentável (TSM).
Aço5.0BR — De que maneira a governança corporativa da Samarco garante a integração dos princípios de sustentabilidade nas decisões de negócio?
A Samarco possui um Comitê Interno de Sustentabilidade, vinculado à Diretoria Executiva, que monitora os avanços do programa mencionado, cujos resultados são compilados e reportados com suporte do PMO Estratégico. De forma espelhada, existe o Comitê de Sustentabilidade de Acionistas, que auxilia o Conselho de Administração com as questões relacionadas à estratégia de sustentabilidade ambiental, social e segurança, visando garantir a proteção e geração de valor para a sustentação e perenidade do negócio.
Essa estrutura garante que as decisões estratégicas considerem impactos, riscos e oportunidades socioambientais, fortalecendo o compromisso da empresa com uma operação mais segura, sustentável e responsável.

Aço5.0BR — Qual o status atual da reparação dos danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão?
Respondo a essa pergunta reiterando o nosso compromisso com o Novo Acordo do Rio Doce e trabalhando para que a reparação — com foco nas pessoas e no meio ambiente — seja integral e definitiva. Desde 2015, já foram destinados R$ 68,4 bilhões às iniciativas de reparação e compensação, sendo R$ 38 bilhões executados pela extinta Fundação Renova até setembro de 2024. O Novo Acordo estabelece um valor global de R$ 170 bilhões (incluindo os aportes da Fundação) para assegurar a conclusão integral das ações ao longo de toda a bacia.
Mais de 288 mil pessoas foram beneficiadas com indenizações e auxílios financeiros, que somam R$ 14 bilhões desde a assinatura do Novo Acordo em 2024. Esses valores pagos pela Samarco se somam aos cerca de R$ 18,1 bilhões a 447,3 mil acordos destinados pela extinta Fundação Renova até setembro de 2024.
A Samarco concluiu 100% das obras, iniciadas antes da assinatura do Novo Acordo, nos distritos de Novo Bento Rodrigues e Paracatu, com 389 obras, incluindo 22 bens públicos, como escolas, postos de saúde, cemitérios, praças e sistemas de tratamento de água e esgoto, além de moradias, comércios, sítios, lotes, bens privados (associações, igrejas, etc.).
Atualmente, permanecem em execução seis imóveis adicionais, definidos pelos moradores do Novo Bento Rodrigues após a homologação do acordo pelo STF em novembro de 2024. A previsão é que essas construções sejam concluídas até o final de 2026.
Na frente ambiental, demos continuidade aos trabalhos de cercamento e a proteção que atualmente alcançam 42,7 mil hectares de um total de 50 mil previstos para reflorestamento compensatório, além de 3,9 mil nascentes protegidas em toda a bacia. Foram produzidas e distribuídas quase 11 milhões de mudas nativas, com apoio de viveiros parceiros em Minas Gerais e no Espírito Santo. O pagamento de indenizações e auxílios financeiros, a conclusão dos novos distritos e a continuidade das ações ambientais em toda a bacia representam passos firmes no caminho da reparação definitiva.
Aço5.0BR — Como a Samarco, após o Novo Acordo do Rio Doce, tem gerenciado os programas socioeconômicos e socioambientais para as comunidades afetadas?
O Novo Acordo do Rio Doce estabelece um modelo de governança mais eficaz, garantindo previsibilidade e segurança jurídica. O acordo define prazos, metas e recursos, assegurando que as ações sejam direcionadas de forma integral e definitiva à recuperação dos territórios e à melhoria da qualidade de vida das pessoas.
Com o Novo Acordo, os programas antes executados pela Fundação Renova foram substituídos por obrigações de pagar e de fazer da Samarco. Em relação às obrigações de pagar, a empresa realizará repasses ao poder público ao longo de 20 anos, assegurando recursos para políticas públicas que viabilizem ações estruturantes e duradouras no território.
Aço5.0BR — De que forma a empresa garante a transparência e o engajamento das comunidades afetadas no processo de reparação e tomada de decisões?
A Samarco assegura transparência e participação social por meio de processos definidos no Novo Acordo do Rio Doce, homologado pelo STF, que estabelece regras para a reparação com acompanhamento dos órgãos públicos e das instituições de Justiça. As decisões estratégicas, prioridades de investimento e cronogramas são conduzidos pelo poder público, garantindo previsibilidade e segurança jurídica.
Além disso, a empresa mantém canais permanentes de diálogo nos territórios, por meio do trabalho do time de Diálogo Social, que atua ao longo da bacia, ouvindo as comunidades e esclarecendo dúvidas sobre as ações. Complementarmente, o time de Relações Institucionais e Governamentais apoia os órgãos públicos com informações, fortalecendo a articulação e a transparência. A Samarco também divulga regularmente informações sobre o andamento das ações de reparação.
Aço5.0BR — Quais foram as lições aprendidas com a tragédia de Mariana e como elas moldaram a atual estratégia de sustentabilidade da empresa?
Para chegar aonde estamos foi necessário, antes de tudo, um mergulho profundo dentro da própria empresa. Olhando para dentro dos muros da Samarco talvez o maior aprendizado tenha vindo de nossa evolução cultural. Com os pés no chão, avaliamos o seu jeito de ser, entendendo que muitos traços deveriam ser abandonados, outros fortalecidos e alguns incorporados.
A evolução cultural também reflete diretamente na governança da empresa, em suas prioridades e em sua estrutura organizacional. Com a retomada, a Samarco também reestruturou suas políticas, e reavaliou sua materialidade, incorporando em sua agenda de sustentabilidade temas que se mantiveram ou se tornaram estratégicos e relevantes para o negócio e para a sociedade. Por exemplo, Direitos Humanos, Ética e Conduta, Diversidade, Equidade e Inclusão (DE&I), foram focos reforçados na companhia, com mais clareza para a rota que devemos percorrer para alcançar nossas metas que aceleram nosso propósito. Isso promove uma profunda modificação no ambiente interno e um posicionamento externo diferente, buscado fortalecer nossas relações de confiança e transparência com nossos públicos estratégicos e sociedade em geral.
Evoluímos também na governança de sustentabilidade, e a criação da Diretoria relacionada, que me orgulho de liderar, é um marco significativo desse movimento. Um sinal claro da Samarco da integração estratégica da sustentabilidade com o negócio e do lugar que deve ocupar em suas decisões.
Entendemos que houve avanços importantes na reparação, reconhecendo também que o processo é contínuo e que ainda há entregas em andamento. A homologação do Novo Acordo do Rio Doce foi um marco essencial, pois consolida um novo modelo de gestão da reparação, construído de forma conjunta entre o governo federal, Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, instituições de Justiça, Samarco e suas acionistas, Vale e BHP Brasil.


















