Países não estão fazendo o suficiente para garantir vida saudável às crianças, diz estudo
“Este relatório mostra que os tomadores de decisão do mundo estão, com demasiada frequência, falhando com as crianças e os jovens de hoje: deixando de proteger sua saúde, deixando de proteger seus direitos e deixando de proteger seu planeta”, Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS
Nenhum país está protegendo adequadamente a saúde das crianças, seu ambiente e seu futuro, constatou relatório divulgado, na quarta-feira (19), por uma comissão de mais de 40 especialistas em saúde de crianças e adolescentes de todo o mundo. A comissão foi convocada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pela revista científica The Lancet.
O relatório “Um futuro para as crianças do mundo?” conclui que a saúde e o futuro de cada criança e adolescente em todo o mundo estão sob ameaça imediata por causa da degradação ecológica, das mudanças climáticas e de práticas de marketing que estimulam o consumo de alimentos ultraprocessados, bebidas açucaradas, álcool e tabaco.
“Apesar das melhorias na saúde da criança e do adolescente nos últimos 20 anos, o progresso parou e deve dar marcha à ré”, disse Helen Clark, ex-primeira-ministra da Nova Zelândia e copresidente da Comissão.
“Estima-se que cerca de 250 milhões de crianças menores de cinco anos em países de baixa e média renda correm o risco de não atingir seu potencial de desenvolvimento, com base em medidas proxy de baixa estatura e pobreza. Mas com uma preocupação ainda maior, cada criança no mundo todo agora enfrenta ameaças existenciais decorrentes das mudanças climáticas e das pressões comerciais”.
“Os países precisam revisar sua abordagem à saúde da criança e do adolescente, para garantir que não apenas cuidemos de nossas crianças hoje, mas também protejamos o mundo que eles herdarão no futuro”, acrescentou Clark.
O relatório adotou um novo índice global de 180 países, comparando o desempenho no desenvolvimento de crianças, incluindo medidas de sobrevivência e bem-estar infantil, como saúde, educação e nutrição; sustentabilidade, como emissões de gases de efeito estufa, além de dados sobre desigualdade de renda.
Segundo o relatório, enquanto os países mais pobres precisam fazer mais para apoiar a capacidade de suas crianças viverem vidas saudáveis, as emissões excessivas de carbono — desproporcionalmente maiores entre os países mais ricos — ameaçam o futuro de todas as crianças.
Se o aquecimento global exceder os 4°C até o ano 2100, de acordo com as projeções atuais, isso levaria a consequências devastadoras para a saúde das crianças, devido ao aumento dos níveis dos oceanos, ondas de calor, proliferação de doenças como malária e dengue e desnutrição.
O índice mostra que crianças de Noruega, Coreia do Sul e Holanda têm as melhores chances de sobrevivência e bem-estar, enquanto crianças de República Centro-Africana, Chade, Somália, Níger e Mali enfrentam as piores chances.
No entanto, quando os autores levaram em consideração as emissões de CO2 per capita, os principais países ficaram para trás: a Noruega ficou em 156º, a Coreia do Sul em 166º e a Holanda em 160º. Cada um dos três emite 210% a mais de CO2 per capita do que sua meta para 2030. Estados Unidos, Austrália e Arábia Saudita estão entre os dez piores emissores.
“Mais de dois bilhões de pessoas vivem em países onde o desenvolvimento é dificultado por crises humanitárias, conflitos e desastres naturais, problemas cada vez mais associados às mudanças climáticas”, disse o ministro Awa Coll-Seck, do Senegal, copresidente da Comissão.
“Enquanto alguns dos países mais pobres têm uma das menores emissões de CO2, muitos estão expostos aos impactos mais severos de um clima em rápida mudança. Hoje, promover melhores condições para que as crianças sobrevivam e prosperem nacionalmente não têm de ter o custo de corroer o futuro das crianças globalmente”.
Os únicos países a caminho de atingir as metas de emissões de CO2 per capita até 2030, além de apresentar um desempenho razoável (entre os 70 principais) em medidas de crescimento infantil, são: Albânia, Armênia, Granada, Jordânia, Moldávia, Sri Lanka, Tunísia, Uruguai e Vietnã.
“Este relatório mostra que os tomadores de decisão do mundo estão, com demasiada frequência, falhando com as crianças e os jovens de hoje: deixando de proteger sua saúde, deixando de proteger seus direitos e deixando de proteger seu planeta”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.
Fonte: Nações Unidas Brasil