Política

Acessibilidade e exclusão social nos dias atuais

O Brasil tem uma Argentina de pessoas com alguma deficiência, são 45 milhões relegados à própria sorte

O Brasil tem mais de 45 milhões de pessoas com alguma deficiência — seja ela motora, auditiva ou visual — uma população que supera muitos países europeus em número de habitantes. Mas o que faz um país como o nosso tratar seus cidadãos com tamanho descaso e desrespeito e a viverem à margem da sociedade? Seria a falta de recursos, ou uma cultura exploratória herdada — que vem se perpetuando desde a época colonial — ou falta de interesse do poder público que prefere se omitir e manter da forma que está por pura acomodação?
Cito aqui um dos inúmeros absurdos encontrados em terras capixabas que é o caso da concessionária de energia, a EDP Escelsa, que instala postes de cabos elétricos nas calçadas cidadãs, tirando, principalmente dos deficientes visuais, um dos seus direitos mais básicos constituídos por lei, que é o direito de ir e de vir.

Jornalista Daniel Louzada (Foto: Acervo pessoal)

Na Educação, as coisas não são muito diferentes e um exemplo disso é a escola Espaço Alternativo, localizada na comunidade de Jardim Carapina, município da Serra/ES — que tem o senhor Audifax Barcelos como gestor — que mostra muito bem o retrato do abandono para com essa população, a estrutura física é obsoleta, antiga e inadequada para os dias atuais e não atende a nenhuma norma que privilegia o bem-estar dos deficientes, sem distinção.
Para entendermos melhor a situação em que vivem as pessoas deficientes, nesta terça-feira (28), entrevistei, pela Ecletic Web Rádio (Áudio: https://jornalfatosenoticias.com.br/index.php/2020/07/29/acessibilidade-o-que-adianta-ter-lei-um-papel-escrito-se-nao-e-cumprida-na-pratica/), emissora do grupo Fatos & Notícias, o jornalista e colunista do grupo, que é deficiente físico, Daniel Louzada, para falar o que ele pensa dos gestores que persistem nesse modelo de cidade não adaptada e que, só no Brasil, excluem dos seus direitos mais de 23% da população.
“Quando falamos de acessibilidade, nós estamos falando de facilidade de acesso, mas em contrapartida, nos dias atuais, nós enfrentamos muitas dificuldades no que tange a esse respeito. Uma das grandes dificuldades que encontro no meu dia a dia é a de acesso. No Brasil nós temos duas leis, uma que é a 10.098/2000 e a 13.146 de 15 de julho de 2015. Essa última, é a lei brasileira de inclusão, o que nós vemos na atualidade são leis que não são cumpridas, o que adianta ter lei e não ser cumprida na prática?”, questionou.
Daniel continua elencando os problemas e as dificuldades desse público.

“São vários locais sem acessibilidade, sem rampas e com muitas dificuldades de mobilidade, tirando o direito de ir e de vir, presente na Constituição Federal. Não é somente pessoa com deficiência que tem direito à acessibilidade, ela é direito de todos”, explica.

Com relação à questão dos postes da rede elétrica instalados no meio das calçadas prejudica principalmente os deficientes visuais que possuem uma dificuldade maior de locomoção e que, querendo ou não, dependem do próximo.

“Eu conheço pessoas que têm autonomia, mas quando vão para algum lugar da Grande Vitória, no Centro, principalmente nas proximidades do Instituo Braille, que é bastante frequentado por pessoas com deficiência visual, elas possuem muitas dificuldades, porque as calçadas são desniveladas, provocando quedas e lesões, as portas de comércio também não possuem acessibilidade”, critica.
“Acredito que um projeto inteligente que contemple o urbanismo de ponta e de qualidade, pode reverter essa situação. Outra coisa que não posso deixar de pontuar é a falta de empatia, a falta do poder, do se colocar no lugar do outro, isso sim, acredito ser fundamental para uma mudança completa do formato que hoje nos submetemos”, finaliza.

Haroldo Filho

Haroldo Filho

Jornalista – DRT: 0003818/ES Coordenador-geral da ONG Educar para Crescer

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