Educação

Metodologia de ensino matemático faz alunos evoluírem 1,3 ano em 10 dias

Método proposto por pesquisadores da Universidade Stanford foi testado em escolas públicas de São Paulo e apresentou resultados surpreendentes

Aprender matemática pode parecer difícil. Porém, um curso de férias aplicado a alunos da rede pública mostrou que, quando a disciplina é ensinada de forma visual, intuitiva e criativa, ela pode conquistar os estudantes e aumentar seu rendimento. O programa, chamado Mentalidades Matemáticas, foi promovido pelo Instituto Sidarta e liderado por Jack Dieckmann, diretor do Centro de Pesquisas Youcubed da Universidade Stanford, nos Estados Unidos. “Aplicamos essa metodologia de ensino norte-americana no Brasil para entender qual seria o impacto no contexto dos nossos alunos”, afirma Ya Jen Chang, presidente do Instituto Sidarta.
Ao todo, 70 crianças do 5º ano do ensino fundamental de duas escolas municipais de Cotia (SP) participaram de um curso de férias sobre matemática que durou 10 dias. Na escola, elas vivenciaram uma nova rotina: ao chegarem, aprendiam conteúdos sobre o funcionamento do cérebro humano e como ele reage a estímulos, erros e acertos. Logo depois, passavam a manhã fazendo atividades sobre o conteúdo, almoçavam e, em seguida, praticavam esportes para aprender a importância do trabalho em equipe.
Segundo a professora Maitê Salinas, os principais objetivos eram integrar a matemática ao dia a dia dos alunos e fazer com que eles entendessem que o erro faz parte do processo de aprendizagem. “Deixamos claro que as perguntas também eram muito importantes e que não era necessário focar na velocidade das respostas, mas no percurso do raciocínio”, explica a educadora.
Um dos exercícios do programa, por exemplo, era a “conversa numérica”, atividade com o objetivo de desenvolver o cálculo mental entre os pequenos. Funciona assim: a professora propõe uma conta e cada aluno compartilha os caminhos que fizeram com que eles chegassem ao resultado. Assim, eles aprendem que há diversas estratégias que os levam para a mesma resposta.
O papel dos instrutores também foi essencial, já que eles precisaram entender as dificuldades de cada um dos estudantes para conseguir estimulá-los a participar das atividades, que eram bem desafiadoras. “Isso fez com que os alunos se sentissem seguros e percebessem que suas ideias estavam sendo acolhidas”, conta Salinas. “Eles entenderam que qualquer coisa que falassem ia ajudar o grupo a atingir os objetivos do exercício”.

A abordagem criativa e visual estimulou os alunos a aprenderem mais durante o período do curso (Foto: Divulgação)

Resultados surpreendentes

Os 70 participantes foram avaliados antes e depois do curso de férias. Em provas, eles precisaram aplicar seus conhecimentos a um novo contexto e dissertar o raciocínio por trás de cada resposta. Essas avaliações não só analisaram a quantidade de erros e acertos como também calcularam o nível de precisão de cada solução.
O resultado foi animador: 96% dos alunos compreenderam que errar faz parte do processo de aprendizagem e aumentaram o gosto pela matemática. Outro dado que chamou a atenção foi que, em média, as meninas tiveram avanço 3,5 vezes maior do que o dos meninos. Em conclusão, os pesquisadores constataram que as crianças desenvolveram 1,3 ano de aprendizado matemático ao longo dos 10 dias do curso.
O curso mostrou que o desenvolvimento do pensamento matemático e o reconhecimento da matemática em diferentes situações do cotidiano são habilidades essenciais. “Nos últimos anos, temos ensinado matemática de uma forma ultrapassada. É preciso ensinar a lógica que está por trás de cada conta e cálculo”, evidencia Chang. “Os alunos precisam desenvolver um raciocínio crítico e elaborado para que possam resolver problemas mais profundos”.
Diante dos resultados promissores, o Itaú Social, parceiro do projeto, estuda levar a experiência para outros lugares no Brasil, ajudando a transformar o ensino da rede pública. “Historicamente, a aprendizagem da matemática é um desafio no contexto brasileiro, principalmente se considerarmos alunos mais atingidos pelas consequências das desigualdades sociais”, diz Juliana Yade, especialista em educação do Itaú Social. “Estes resultados mostram que muitos estudantes podem se beneficiar, aspecto fundamental para colocarmos a metodologia à disposição de municípios e estados parceiros”.

Fonte: Revista Galileu

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