Ciência Meio ambiente

Brasileiros descobrem 20 novas espécies de microminhocas no Cerrado

Parentes próximos das minhocas, estes animais são chamados de enquitreídeos e são essenciais para o funcionamento dos mais variados ecossistemas

Vinte novas espécies de microminhocas foram identificadas no Distrito Federal e em Goiás por uma equipe de pesquisa apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF). Os cientistas também podem ter encontrado um novo gênero desses animais, que são chamados de enquitreídeos e existem em praticamente todos os solos do mundo.
Como explicam os estudiosos, a umidade é um fator importante para os enquitreídeos, pois eles respiram pela pele. “A ideia geral era que havia poucas microminhocas no Cerrado devido ao prolongado período de seca, já que esses invertebrados precisam de solos úmidos para sobreviver”, disse Cíntia Niva, coordenadora do estudo, em comunicado.
Entretanto, o levantamento mostra que essa região é tão rica nesses organismos quanto florestas de outros biomas brasileiros com temperaturas mais amenas e maiores índices pluviométricos.

“Os dados obtidos mostram que temos aqui uma população tão abundante e rica quanto à da Mata Atlântica e à da Amazônia, e composta por várias espécies possivelmente endêmicas, ou seja, restritas ao Cerrado”, afirmou Niva.

As microminhocas têm tão pouca pigmentação que fica fácil ver seus órgãos internos (Foto: Embrapa)

Além disso, estudos anteriores sugeriam que a abundância de microminhocas na região de clima tropical seria menor do que em regiões de clima temperado. Contudo, essa hipótese vem sendo refutada graças a pesquisas recentes em diferentes partes do Brasil.
Análises na floresta ombrófila mista no estado do Paraná, por exemplo, relatam densidade média de 12 mil espécimes por metro quadrado, enquanto na Amazônia esse número é menor que cinco mil. Já a nova pesquisa indica que a densidade de animais no Cerrado é de 13 mil na época chuvosa, chegando a até 30 mil em algumas regiões.
Também foi observado um encolhimento da população nos cinco primeiros centímetros do solo durante os períodos de seca. Para os especialistas, isso provavelmente se deve a uma estratégia de sobrevivência desses seres que ainda precisa ser investigada, como a hibernação ou a migração para camadas mais profundas do solo.
Além disso, de modo geral, percebeu-se que a densidade e a riqueza de microminhocas é maior em solos de vegetação nativa, o que pode ser atribuído à maior disponibilidade e qualidade do material orgânico, bem como ao menor grau de atividade humana em seu habitat. Embora altas densidades possam ser encontradas em áreas cultivadas, a diversidade de espécies é bem menor.
Segundo os pesquisadores, nessas regiões mais de 85% dos enquitreídeos encontrados pertencem ao gênero Enchytraeus.

“Pesquisas anteriores caracterizam essas espécies como estrategistas, ou seja, elas se reproduzem rapidamente e têm facilidade de se adaptar a ambientes alterados, o que explica sua predominância em áreas agrícolas”, explicou Niva.

Parentes próximos das minhocas, os enquitreídeos, como também são chamados, são essenciais para o funcionamento dos mais variados ecossistemas (Foto: Embrapa)

Microminhocas

Os enquitreídeos são parentes próximos das minhocas, mas com tamanho bem menor e praticamente sem pigmentação. No Cerrado, por exemplo, a maioria deles tem até um centímetro de comprimento e dois milímetros de diâmetro corporal.
Das 710 descobertas ao redor do mundo, apenas 62 espécies terrestres ou semiaquáticas são conhecidas até hoje na América Latina, das quais 47 já foram observadas no Brasil. Esses pequeninos animais são muito importantes para o funcionamento dos ecossistemas, pois contribuem para a decomposição de matéria orgânica, ciclagem de nutrientes, formação do solo e cadeia alimentar.

“Apesar de os enquitreídeos e as minhocas contribuírem para os mesmos serviços ecossistêmicos, como a ciclagem de nutrientes e a estrutura do solo, eles os fazem de forma diferente em função de seu tamanho corporal e de sua posição na cadeia alimentar”, explicou Niva.

As microminhocas têm tão pouca pigmentação que fica fácil ver seus órgãos internos (Foto: Embrapa)

Em regiões de clima temperado, as microminhocas já são usadas na avaliação da qualidade biológica do solo, pois sua presença ou ausência indicam impactos relacionados ao desmatamento e até alterações causadas pelas mudanças climáticas. “Na Embrapa, já testamos o efeito de solos com cinzas, pós de rocha e agrotóxicos usando os enquitreídeos em laboratório”, contou Niva. “A expectativa é que os enquitreídeos sejam usados como bioindicadores também no bioma Cerrado”.

As microminhocas têm tão pouca pigmentação que fica fácil ver seus órgãos internos (Foto: Embrapa)

Fonte: Revista Galileu

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