Em busca do autoconhecimento: será que há um limite de idade para isso?

“Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses”. A frase usada desde a Grécia Antiga define de forma bastante abrangente a importância do autoconhecimento. Olhar para dentro, conhecer a si mesmo, realizar uma autoanálise dos hábitos e comportamentos são tarefas complexas que podem trazer paz de espírito e felicidade.
Mas será que há um limite de idade para isso? De acordo com especialistas, o autoconhecimento é importante para todas as faixas etárias. “Durante a juventude, é comum faltar tempo para buscar se conhecer. É preciso trabalhar, cuidar dos filhos, ser produtivo. Na terceira idade, há a oportunidade para rever essa questão. Mas é importante se preparar para envelhecer e ser mais resiliente com as perdas inevitáveis da vida”, afirma Alexandre Kalache, epidemiologista especializado em gerontologia.
Para Juliana Yokomizo, neuropsicóloga do Programa Terceira Idade do Instituto de Psiquiatria da USP (IPq), quanto mais sabemos sobre nós mesmos, mais recursos temos para lidar com as demandas da vida.
“Aumentar o autoconhecimento nos permite analisar nossos padrões de comportamento. Fica mais fácil identificar as emoções e sentimentos provocados por diversas situações e reagir de modo mais assertivo”, afirma.
Mas os idosos podem ter mais dificuldade para chegar ao autoconhecimento. Isso ocorre porque os padrões de comportamentos foram alimentados por muitos anos, de acordo com diversas experiências e interações.
“O autoconhecimento é particularmente mais importante na terceira idade, dada a fragilidade dessa pessoa em aspectos físicos e, às vezes, até a eventos emocionais. Pode ser um momento vivenciado por frustrações, limitações, falecimentos e perdas. Nesse sentido, conhecer a si mesmo evita uma queda desnecessária, uma frustração além do limite”, destaca Nikolas Heine, psiquiatra do Hospital 9 de Julho, em SP.
Atualmente, os idosos são bastante ativos, têm acesso à internet e buscam atividades que proporcionam o bem-estar físico e mental. Essa autorreflexão contribui com o conhecimento corporal, seus limites e mudanças de comportamentos. “A busca por uma identidade própria, livre de rótulos e se redescobrindo como pessoa atuante é cada vez maior entre os idosos. Se reconhecer como cidadão e pertencente ao meio social inclui atividades variadas de acordo com cada perfil. São muitas as opções e não temos mais uma atividade específica para o idoso. Ele pode e deve praticar tudo aquilo que lhe preencher”, destaca Cláudia Ajzen, coordenadora do curso da Universidade Aberta para Pessoas Idosas (UAPI) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).
Para Kalache, todas as atividades voltadas para o bem-estar e autoconhecimento são válidas, desde que sejam genuínas. “O idoso não deve ser forçado a fazer qualquer atividade. Ele precisa ser ouvido, se sentir útil e motivado”.
Fonte: UOL