Educação

Acolhimento, saúde mental e empatia são as bases para o trabalho do professor, em 2021

Educadores analisam o que é imprescindível para atravessar este ano letivo, ainda em plena pandemia de covid-19

O que é essencial para o professor “encarar” 2021? Afinal, depois de um ano em que elas e eles tiveram que aprender, de uma hora para a outra, a lidar com a tecnologia para dar aulas remotas, a sustentar os vínculos com seus alunos (mesmo com aqueles que deixam as câmeras fechadas e com aqueles que não conseguiam se conectar para as aulas), enfrentaram longas horas de trabalho e, não raro, ficaram emocionalmente abalados, ainda precisam estar preparados para um novo ciclo bastante indefinido.
Provavelmente, a maior parte das redes e escolas vão iniciar o ano letivo de 2021 como terminaram o anterior: com aulas remotas, ou, na melhor das hipóteses, combinando as atividades presenciais e a distância. Por isso, ninguém melhor do que os próprios professores, que viveram (e superaram) os desafios que o ano de 2020 trouxe para a educação, sobre o que é essencial para atravessar o ano letivo que se avizinha.
Para Viviane Cristine de Moraes Ferreira, que foi professora de uma turma de alfabetização em 2020, o acolhimento e o apoio aos professores por parte das instituições de ensino, é a base para um trabalho bem-sucedido. “As escolas precisam estar preparadas para acolher os professores para que eles se sintam seguros”, comenta.
Viviane avalia que a experiência do ensino remoto e a retomada presencial parcial foram emocionalmente desgastantes e, sozinho, o professor pode fazer muito pouco. “É essencial a parceria da escola. O professor precisa se sentir a segurança de que pode pedir ajuda”. Então, ela reitera que a atenção ao emocional do professor deve ser colocada em primeiro plano.
O professor Sandro Ribeiro, que é formador de professores em Volta Redonda (RJ), vai além: ele concorda que a prioridade em 2021 deve ser a saúde mental do professor, mas o foco deve ser na prevenção. “É preciso uma rede de apoio ao professor, composta por profissionais multirreferenciais, capazes de cuidar e tratar preventivamente dos educadores, além de manter uma conexão com as redes dos estudantes”, propõe o docente.
Ou seja, para ele, o cuidado com a saúde mental do professor deve superar um relacionamento aberto e pautado pelo acolhimento com a escola. Trata-se de um processo mais amplo, de um olhar ampliado, de um cuidado profissional capaz de antever eventuais problemas psicológicos e psíquicos que os professores possam vir a enfrentar. “O professor é muito empático, então se o aluno não está bem, ele acaba ficando mal também”. Por isso, defende Ribeiro, é importante que as equipes que cuidam dos docentes também acompanhem e, eventualmente, cuidem dos estudantes e suas famílias.
A formação é outro aspecto mencionado pelo professor de Volta Redonda: “Vamos precisar de muita formação, de forma estruturada. Aqueles que querem, acabam buscando, mas a formação não pode depender somente a iniciativa individual do professor”. Dessa maneira, acredita ele, será possível produzir mais e melhor.
A professora Cristina van Opstal, que dá aulas de Língua Portuguesa em Santos (SP), considera que o foco do professor deve ser a permanência dos vínculos com os estudantes. “A distância física não pode ser um impeditivo para manter o vínculo com os alunos”, defende.
“O professor precisa se fazer presente e isso acaba não sendo muito diferente do que acontece na sala de aula: um aluno que deixa a câmera fechada tem um comportamento semelhante ao de um aluno que está distante na sala de aula”. A chave, então, é manter uma atenção individualizada, procurando saber como cada estudante está, quais são suas dificuldades e como se sente.
O professor Antônio Ramos, que dá aulas de Língua Portuguesa no ensino fundamental 2 em Campinas (SP), enxerga a prioridade na adequação física e curricular das escolas. “Precisa de investimento público, né?”, questiona.
Seja num cenário de retomada presencial, seja no ensino remoto ou híbrido é essencial planejamento e organização. No caso do retorno presencial, muitos prédios vão precisar de adequações para viabilizar a organização por ciclos e possibilitar o distanciamento. Serão necessários também equipamentos — medidores de temperatura, materiais de proteção, álcool em gel — e a contratação de profissionais para apoio com foco na saúde mental. “Por exemplo, profissionais de psicologia para trabalhar nas crianças a ideia de que a convivência não será mais a mesma, preparar para combater o risco e, também, o medo”.
Ele também defende uma renovação curricular. “Numa crise dessa não dá para em programas que acabam estimulando a competição individual. Aliás, acredito que a pandemia surge da relação de exploração da natureza pelo ser humano promovida pelo sistema que, entre outros pontos, estimula a competição”. Para Ramos, é essencial focar em propostas pedagógicas que trabalhem a cooperação, desenvolvam a empatia e uma visão crítica.
A chave para atravessar 2021 na visão da professora Maria Emília Avancini, que vai assumir uma turma de 5º ano numa escola Waldorf em Campinas, é a confiança de, a despeito de todas as dificuldades e limitações impostas pela pandemia, estamos extraindo aprendizados necessários, que repercutem positivamente na vida das pessoas, inclusive dos educadores, que os tornam mais aptos para educar as crianças e jovens. “É preciso tirar o foco da negação aceitar e aprender o que esse processo está trazendo para a humanidade”, analisa.
Paralelamente, ela considera essencial fortalecer a relação de confiança entre os professores e as famílias para que o trabalho pedagógico flua e fortaleça o desenvolvimento integral e saudável e a autonomia dos alunos.

Fonte: Porvir

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