Comportamento & Equilíbrio

Mães com transtorno narcisista

O prazer delas é o sofrimento dos filhos

Na mitologia grega, Narciso era um rapaz belo e jovem que, durante uma caminhada próximo a um rio, deparou-se com seu reflexo na água. Apaixonado pela própria beleza, ele se recusou a deixar o local, morrendo às margens do rio, se admirando. O termo narcisismo, que surgiu com o mito grego, embora usado para definir uma personalidade, também indica um transtorno que torna a vida de quem convive com essas pessoas muito difícil, especialmente se a pessoa diagnosticada for sua mãe.
“Nada estava bom para ela, eu era criticada por tudo, por qualquer coisa. Se limpava a casa ou lavava a louça, nunca estava bom o suficiente. Havia regras absurdas em casa, não se podia comemorar aniversários, Natal, levar amigos em casa, sujar a roupa enquanto brincava e, na adolescência, quando me recusei a namorar o filho de uma amiga dela, ela deu um escândalo, dizendo que faria da minha vida um inferno”, recorda-se Andressa, 44, do Rio de Janeiro. O relacionamento entre uma mãe com transtorno de personalidade narcisista com o filho é marcado por atritos e discussões, muitas vezes por motivos fúteis, sendo difícil manter uma convivência pacífica e saudável sob o mesmo teto. Provocações são comuns, para que o filho reaja de forma negativa, criando, assim, uma situação de vitimização. Nas redes sociais existem vários grupos fechados dedicados ao tema “Mãe Narcisista”, em que os filhos (a maioria mulheres) relatam seus abusos e se ajudam com conselhos e apoio para superar as dores que suas mães lhes causaram. O transtorno de personalidade narcisista, que pode ser chamado também de narcisismo materno se baseia em desvios acentuados de como a mãe pensa, sente e convive com as pessoas. Segundo a psicóloga clínica Blenda de Oliveira, formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), estamos falando de um narcisismo que vai por um caminho muito mais de um transtorno do que um narcisismo que todos nós temos e que faz parte do humano. “Este transtorno de personalidade narcísica faz com que a pessoa tenha uma percepção grandiosa de si mesma, merecedora de tudo, nunca acha que as pessoas que estão ao seu redor são qualificadas à altura”, diz. Segundo ela, uma pessoa que tem esse tipo de transtorno normalmente desenvolve pouca empatia. Outra questão apontada pela psicóloga é que, embora o narcisista transpareça que se ama muito, na verdade ele é alguém frágil, com imensa carência de amor, baixa autoestima e que se sente invariavelmente desamparado. “Geralmente são pessoas cujo desenvolvimento emocional foi pouco fomentado pelos seus cuidadores”. A crença de que toda mãe é perfeita e que seu amor pelos filhos é algo incondicional pode ser uma utopia em alguns casos. Wallace, 34, de Curitiba (PR), de filho dourado se tornou o bode expiatório, quando se assumiu gay para a família na adolescência. “Lembro que eu e minha irmã não éramos tratados da mesma forma quando crianças. Eu era o filho preferido e ganhava presentes, enquanto minha irmã apanhava mais, ganhava menos presentes, era sempre humilhada e vestida quase como um menino, para talvez não representar uma ‘ameaça’ para minha mãe. A situação se inverteu quando eu ‘saí do armário’, virei o bode expiatório. Várias vezes ela disse que não era feliz por nossa culpa”.
As mães narcisistas pensam nos filhos como uma posse permanente, como se fosse uma propriedade, de acordo com Oliveira.

Mãe narcisista (Foto: iStock)

“Inúmeras vezes ela pode se colocar não de uma forma grandiosa no sentido de ‘eu sou maravilhosa’, mas se colocar grandiosa como vítima, como aquela que não é compreendida, que precisa ser ouvida e que precisa ser vista. De modo geral, é uma mãe que invade a privacidade e muitas vezes expõe, de forma constrangedora, os filhos”, diz a especialista.
Na maioria das vezes, essas mães não vibram com as conquistas dos filhos, podendo ter inveja pelo crescimento deles. “Minha mãe nunca me incentivou a crescer, quando eu dizia que queria fazer uma faculdade, ela falava que eu sonhava alto demais. Hoje sei que o intuito era que eu fosse dependente dela, quanto mais dependente, mais controle ela teria sobre mim”, desabafa Angela*, 40, que apenas visita a mãe esporadicamente e por causa do pai, considerado por ela um ser omisso e submisso à esposa.

Fonte: UOL

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