Esportes

Judoca capixaba participa dos jogos de Tóquio e fala sobre o status do judô no Espírito Santo

Bisneto de libaneses, o capixaba optou por defender as cores do país árabe

Texto: Fernando Moreira

O atleta Nacif Elias, 32 anos, nascido em Vitória, participou pela segunda vez das olimpíadas na modalidade de judô. Em entrevista ao Fatos & Notícias ele conta que há alguns anos optou por defender o Líbano e fala um pouco sobre sua experiência no esporte. “Comecei no judô por incentivo do meu pai, pois, por recomendação médica, eu precisava de algum esporte devido à minha hiperatividade, passei pelo futebol e natação, mas acabei me encontrando no judô, onde dei meus primeiros passos na Associação de Judô Yamate em Vitória”, relata Nacif.
Nacif acumula títulos de grande relevância no cenário mundial do judô, durante sua trajetória como juvenil sagrou-se campeão em todas as faixas etárias de campeonatos brasileiros, pan-americanos e sul-americanos. Já foi campeão de oito etapas da Copa Mundial de Judô, vice-campeão do Grand Slam do Rio de Janeiro, medalha de bronze do Grand Prix de Cancún, campeão dos Jogos da Lusofonia e Francofonia (países que falam a língua portuguesa e francesa, respectivamente), medalha de bronze nos Jogos Árabes, foi sétimo do mundo em campeonato realizado na Rússia, e ainda obteve o título de vice-campeão asiático. Além dos resultados no Judô, o atleta ainda obteve conquistas significativas no Jiu-Jitsu, foi campeão sul-americano e brasileiro pela X-Combat e, na Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu Esportivo (CBJJE), campeão mundial de faixa roxa.
Descendente de libaneses por parte dos bisavós, Nacif diz ter sido convidado após terem visto seu sobrenome, e que já havia lutado pelo Líbano antes, em 2009. Naturalizado desde 2013, o judoca disputou sua segunda olimpíada na carreira, nos jogos de Tóquio 2020 foi escolhido pelo Líbano para ser o porta-bandeira durante a abertura. Nacif comenta que se sentiu muito honrado e orgulhoso pela homenagem. O atleta acabou se despedindo da competição após a luta contra o sul-coreano Sungho Lee. Mesmo já tendo vencido o adversário no mundial de 2019 — após uma luta muito acirrada — Nacif não conseguiu bater novamente o judoca asiático.
Questionado sobre a situação atual do judô capixaba, Nacif desabafa “Vou a falar a verdade e não sou de ficar fazendo política, devido à pandemia e vários fatores financeiros a federação do Estado passa por dificuldades, o alto rendimento caiu bastante, há muito tempo não se obtém um bom resultado. O Estado tem se mantido nas categorias de base, espero que, ao finalizar o momento que vivemos de pandemia, e com o trabalho firme do Márcio Almeida, atual presidente, nos próximos meses o judô capixaba possa dar uma guinada”, torce.
Nacif ainda pontua que falta investimento, principalmente, nas categorias de base, ele afirma que deveria ser criado um centro de treinamento específico e gratuito disponível para a comunidade. “Um centro de treinamento seria ideal para alavancar o judô aqui no Estado, falta ainda o incentivo do esporte universitário, muitos atletas precisam parar de competir para estudar, é preciso iniciativas de parceria com as universidades oferecendo bolsa aos atletas, não só de judô, mas de todas as modalidades, isso facilitaria muito o desenvolvimento do esporte”.
A falta de incentivo atinge também o sul do Estado, Mateus Peixoto de Almeida Costa, ex-atleta de judô nascido em Cachoeiro de Itapemirim, relata ao Fatos & Notícias a importância de se investir no esporte dentro das escolas. “Aqui em Cachoeiro tivemos uma época em que o judô era opção da prática de educação física em algumas escolas particulares, neste período foram revelados vários talentos, esta iniciativa deveria ser adotada pelos municípios e pelo Estado, nas escolas públicas e privadas, isso faz muita falta e deixa o esporte estagnado”, afirma o cachoeirense que acumulou títulos importantes no judô, foi campeão da Copa Internacional do Rio de Janeiro em 2000 e campeão estadual por diversas vezes.

Judoca Alexia Debacker Espinoso (Foto: Redes Sociais)

Alex Espinoso, pai da também cachoeirense Alexia Debacker Espinoso, 14 anos, campeã regional e dos Jogos Escolares da Juventude pelo judô em 2019 e medalha de bronze de luta olímpica na Confederação Brasileira de Desporto Escolar (CBDE), relata que falta apoio também do meio corporativo. “Temos muita dificuldade em conseguir patrocínio esportivo, muitas empresas nem sabem que podem ter suas marcas promovidas e ainda descontar de seus impostos o apoio financeiro dado aos atletas, deveria haver maior divulgação deste tipo de informação e iniciativas voltadas para melhorar esta questão, os custos de um atleta de alto rendimento são bastante elevados. O apoio que recebemos do Bolsa Atleta é muito bem-vindo, porém não chega nem perto de suprir as reais necessidades que acabam ficando por nossa conta e por amor ao esporte”. Ele relata ainda que, com a pandemia, a situação ficou bastante complicada também para os professores, que ficaram desamparados de recursos para continuar o seu trabalho, prejudicando o esporte como um todo.
Além do judô, todas as modalidades de esporte precisam de mais investimento no Estado, pois, junto com a educação, o esporte pode se tornar um aliado potente na formação de cidadãos em vários aspectos, contribuindo desde a saúde até a vida social e profissional do atleta. Quando os olhos de nossos gestores públicos se voltarem mais para o esporte, teremos a possibilidade de aumentar as chances de surgirem novos ídolos, impulsionando a evolução constante do próprio esporte e dos atletas, para isso se faz necessário atingir maior abrangência pela população e promover mais acesso a todos. É preciso buscar iniciativas sociais no esporte, integração com as escolas e universidades, construção de espaços voltados para a prática a serviço da comunidade, projetos inclusivos e programas específicos de acordo com as carências locais.

Fernando Moreira
Analista de Sistemas, Bacharel em Psicologia
e Pós-graduado em Neuropsicologia

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