Ter com quem conversar faz bem à saúde do cérebro, indica pesquisa
Estudo com mais de duas mil pessoas em Nova York mostra que contar com uma rede de apoio confiável pode aumentar volume cerebral e melhorar função cognitiva
Manter interações sociais que demonstrem apoio pode ajudar a evitar os efeitos do envelhecimento cerebral, como o declínio cognitivo. Essa é a principal conclusão de um novo estudo feito na Escola de Medicina Grossman da Universidade de Nova York (NYU), nos Estados Unidos, que avaliou a influência de uma rede de suporte na chamada resiliência cognitiva.
O conceito mede a capacidade do cérebro de funcionar melhor do que seria esperado em determinada altura do envelhecimento físico ou em mudanças relacionadas a doenças cerebrais. “Pensamos na resiliência cognitiva como um tampão para os efeitos do envelhecimento cerebral e da doença”, diz Joel Salinas, autor principal do estudo, em comunicado. “Este estudo se soma a evidências crescentes de que as pessoas podem tomar medidas, seja para si mesmas ou para as pessoas com quem mais se importam”, comenta o professor de neurologia da NYU.
Publicados no periódico JAMA Network Open, os resultados da pesquisa também abordam o Alzheimer, condição neurodegenerativa que compromete a memória, a linguagem e a capacidade de viver de maneira independente. De acordo com o estudo, praticar interações sociais de confiança pode ter bons resultados na prevenção da doença.
Embora o Alzheimer geralmente afete uma população mais velha, a investigação mostra que indivíduos entre 40 e 50 anos que não tenham pessoas com quem conversar apresentam uma idade cognitiva quatro anos mais velha do que aquelas que têm alta disponibilidade de ouvintes.
Para Salinas, é importante olhar para essa diferença com atenção. “Muitas vezes pensamos em como proteger nossa saúde cerebral quando somos muito mais velhos, depois de já termos perdido muito tempo décadas antes para construir e sustentar hábitos saudáveis para o cérebro”, afirma ele. Mas já é possível agir agora, perguntando a si mesmo e a seus entes queridos se realmente existe alguém disponível para conversar.
Com informações sobre contato com pessoas próximas, apoio emocional e interações que demonstrem escuta, bons conselhos, amor e afeto, o estudo ouviu 2.171 participantes com idade média de 63 anos. Os cientistas avaliaram a resiliência cognitiva dos participantes a partir do volume cerebral medido por ressonância magnética.
Junto a avaliações neuropsicológicas, a equipe constatou que os indivíduos com maior disponibilidade de apoio social demonstraram melhor função cognitiva relacionada ao volume cerebral total. “Embora ainda exista muito que não entendemos sobre os caminhos biológicos específicos entre fatores psicossociais, este estudo dá pistas sobre razões concretas e biológicas pelas quais todos devemos buscar bons ouvintes e nos tornarmos melhores ouvintes”, defende Salinas, que também recomenda que os médicos adicionem essa questão em suas consultas.
Fonte: Revista Galileu