A cachoeira Véu de Noiva não secou (ainda)
Cartão-postal do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães, a cachoeira do Véu de Noiva não está completamente seca, como circula nas redes, mas apresenta um dos menores volumes já vistos
Ao contrário do que circula pelas redes, a cachoeira Véu de Noiva, principal cartão-postal do Parque Nacional da Chapada dos Guimarães e de Mato Grosso, não secou. A realidade, porém, ainda é alarmante, uma vez que a mesma se encontra com níveis baixíssimos de volume de água devido a seca severa que castiga a região pelo segundo ano consecutivo. Não existe um sistema de medição oficial para aferir de forma precisa quão baixo está o volume do córrego, mas fontes locais ouvidas por ((o))eco apontam que poucas vezes viram o nível de água tão baixo na cachoeira ao longo da última década.
O curso d’água que alimenta a cachoeira é o córrego do Coxipozinho, que nasce na zona urbana do município de Chapada dos Guimarães, fora do parque. Um dos tributários do Coxipozinho, inclusive, que nasce dentro da área protegida, já está seco, assim como outras nascentes do rio Coxipó e Cuiabá nas quais não havia registro de intermitência, ou seja, interrupção do fluxo de água.
De acordo com o hidrólogo Ibraim Fantin, da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), há possibilidade de que o próprio Coxipozinho e, por consequência, a cachoeira do Véu da Noiva fiquem secos de fato até o final de setembro, quando as chuvas devem recomeçar na região. “Nas nascentes, nas veredas que formam a parte das cabeceiras, a gente tem algumas que até já secaram e é possível que possa secar sim dentro desse mês, mas só na parte mais alta [onde está a Véu de Noiva] e nas nascentes em si”, explica o especialista ouvido por ((o))eco. Nos trechos médio e inferior, o curso d’água ganha volume com outros tributários e forma o rio Coxipó, que depois deságua no rio Cuiabá.
“Uma das características da nossa região é a sazonalidade. Temos um período chuvoso bem característico e um período seco. O problema é que não choveu o suficiente nos últimos dois anos. E a nossa bacia funciona como se fosse uma esponja. No período chuvoso, a chuva cai e encharca esta esponja, e no período de estiagem, essa água armazenada no subsolo e nos aquíferos mantém as nascentes e mananciais. Este ano foi bastante seco e a nossa esponja já vem de um período seco, então o solo não foi devidamente encharcado para que a gente pudesse passar por esse período sem muitos transtornos. Nas nascentes onde não havia registro de seca, de intermitência, a gente registrou agora. As nascentes que a gente monitora, do rio Cuiabá e do rio Coxipó, nós vemos que elas têm mudado de posição porque o lençol freático está baixando. E isso tem um reflexo inteiro na bacia. Os mananciais estão bastante baixos”, continua o professor da UFMT.
De acordo com Ibraim, a expectativa é que a situação melhore com o início do período chuvoso, a partir do final de setembro, mas a normalização dos estoques hídricos ainda deve levar pelo menos dois anos ou chuvas acima da média neste final do ano. “Anteontem tivemos uma chuva, mas ainda longe de qualquer regularização da situação atual. O período chuvoso está previsto para o final do mês de setembro, então temos ainda todo o mês de setembro pela frente. A tendência é que as chuvas para este final do ano estejam dentro da normalidade em termos de volume, mas ainda que as previsões se confirmem, veremos a regularização do sistema de mananciais só no ano que vem, porque o solo está muito seco e nós precisamos de dois períodos normais ou um acima da média para que a gente possa recarregar o nosso solo e que ele volte a funcionar dentro do esperado”, avalia o professor da UFMT.
Fonte: ((o))eco