Cientistas encontram “nuvem negra gigante” com um terço do tamanho de Vênus
Uma “nuvem negra gigante” foi identificada por cientistas em Vênus, ocupando mais ou menos um terço do planeta e localizada ao longo de sua latitude a partir da sua “linha do Equador”. Segundo eles, essa nuvem parece estar presente na órbita de Vênus pelo menos desde 2015, após investigarem observações feitas com tecnologia infravermelha, encontrando a sua assinatura na época, mas esse padrão climático pode existir por lá há pelo menos 30 anos.
“A física de uma nuvem é algo que, normalmente, opera em tempos relativamente curtos”, disse Kevin McGouldrick, cientista atmosférico planetário da Universidade de Colorado Boulder. “Observar algo que tem persistido por décadas ou séculos é bem estranho. Com uma atmosfera planetária, a mudança é natural do meio ambiente. Se algo persiste, certamente esse algo salta aos olhos”.
A nuvem negra gigante de Vênus, segundo McGouldrick, tem dois aspectos: inicialmente, os cientistas a chamaram de “disrupção”, reconhecendo-a como uma “transição súbita da luz para a escuridão que se repetia diversas vezes”. Essa disrupção tinha uma distorção longitudinal leve, embora seu maior movimento fosse no âmbito latitudinal: cerca de 30 graus (º) no eixo norte-sul.
O cientista, porém, também aponta para uma “estrutura massiva por trás” da nuvem, “quase do tamanho de um hemisfério”, que faz com que ela siga um tempo orbital diferente do resto do clima do planeta. Segundo McGouldrick, a grande nuvem negra de Vênus completa uma volta ao redor dele a cada cinco dias — alguns dias mais rápido do que outras nuvens.
Entretanto, não seria possível analisar a nuvem com mais profundidade, já que a sonda Akatsuki está posicionada em relativa distância de Vênus — sua observação envolve enxergar todo o hemisfério norte — além de ela não ter um espectrômetro, um componente que permite a sondas do tipo analisarem a assinatura de luz, determinando os elementos dos quais a estranha nuvem é feita.
“Seria difícil entender o que ela [a nuvem] é só com os dados da Akatsuki”, disse McGouldrick. Segundo ele, a nuvem “reaparecia repetidamente, tinha uma morfologia similar a cada aparição e nós conseguíamos monitorar seus movimentos pelo planeta, mas determinar exatamente o que acontecia em sua fronteira é que trazia dificuldade”.
Por isso, o cientista, junto da equipe que assina o estudo junto dele, decidiu voltar no tempo, consultando observações anteriores. Segundo o time, a tal nuvem tem registros variados desde 1986, mas nunca tiveram uma consistência muito firme para determiná-la como algo repetido ou apenas um caso aleatório.
Foi só quando eles chegaram aos dados do VIRTIS (Espectrômetro de Imagem Visível e Infravermelha), da missão Venus Express (2006-2014), é que eles conseguiram conduzir uma análise técnica que levou à criação de um novo estudo, publicado no jornal The Planetary Science.
Com os novos dados, McGouldrick & equipe conseguiram avaliar o que acontecia nas duas pontas da “súbita transição”; e o que eles determinaram foi o seguinte: a nuvem parece afetar proporções de ácido sulfúrico e vapor de água em outras nuvens, bem como determinar o quão baixo todas essas nuvens podem ir e o tamanho máximo de suas respectivas partículas.
Os cientistas somente analisaram pedaços da grande nuvem negra de Vênus, e contam com novos recursos que já estão próximos para aprofundar suas avaliações – incluindo um que lhes permite compreender o tamanho de partículas singulares em determinadas colunas da atmosfera.
O que eles garantem é que, como o ambiente de Vênus é relativamente repetido onde quer que você esteja, se você fosse um humano dentro do planeta (e de alguma forma conseguisse resistir ao calor do planeta mais quente do nosso sistema solar), sua “paisagem” seria algo parecido com um fogo florestal, com você no meio: chamas, fumaça escura e pouca visibilidade. A tal nuvem passaria por cima de você e sequer seria percebida.
No caso de Vênus, isso é um passo importante: “só de reconhecermos esses padrões repetitivos, já temos algo bem grande”, disse McGouldrick. “Sem isso, nós não poderíamos realmente entender o que está acontecendo com esse planeta. Agora que enxergamos isso tudo, finalmente temos algo para estudar, para analisar”.
Fonte: Olhar Digital