Educação

Diversificar ferramentas e ambientes apoia o processo de alfabetização e letramento

Especialistas reforçam a importância de múltiplos estímulos e a criação de um ambiente alfabetizador para apoiar o processo de aprendizado de crianças

Os seres humanos começam a aprender com os estímulos que recebem do mundo no dia em que nascem. Assim, o processo de alfabetização de crianças tem início antes mesmo de entrarem na escola. Livros com imagens, jogos e conversas com a família e colegas, por exemplo, já constituem importantes passos no percurso do letramento.
Na escola, esse processo é intensificado, sobretudo, na faixa dos cinco, seis e sete anos. Nesse período, é importante diversificar os estímulos para garantir uma aprendizagem de qualidade, o que pode ser feito a partir dos laboratórios de alfabetização, que têm por objetivo oferecer recursos promotores de experimentações que estimulem e provoquem o interesse dos estudantes pelo mundo da leitura e da escrita.
Como explica Ana Karine Chiquim, coordenadora pedagógica da Brink Mobil, não se trata de um espaço físico, como os laboratórios de ciências, por exemplo, mas sim de um leque de recursos didáticos que podem ser levados ou aplicados na sala de aula, como propostas de organização do ambiente físico e da rotina escolar, além de materiais e recursos móveis que ajudam a tornar uma sala de aula ou de recursos em um laboratório de experimentação em prol da linguagem.

Ambiente alfabetizador
Adriana Sperandio, consultora em gestão pública, e Janine Mattar, mestre em educação, comentam a importância de professores terem o olhar para desenvolver um ‘ambiente alfabetizador’, isto é, composto por diferentes ferramentas que contemplem os múltiplos usos e funções da escrita.

“Tornar a sala de aula um verdadeiro laboratório de alfabetização implica em pensar o ambiente físico conectado com a promoção de relações sociais que dialoguem diretamente com os saberes associados ao processo de alfabetização. É essencial que sejam disponibilizados livros de literatura e outras variações textuais que possibilitem estabelecer uma relação de prazer e sentido à leitura como movimento de rotina”, afirmam.

Ambas consultoras da Brink Mobil, as especialistas explicam que essas estratégias favorecem a realização de práticas pedagógicas que possibilitam a melhoria da aprendizagem a partir da experiência da alfabetização, que se inicia na infância e segue por toda vida. Alguns exemplos para criar essa atmosfera de aprendizagem são: planejamento com registro da rotina diária, exposição de elementos como o alfabeto, contar a história da escrita, usar textos escritos e imagéticos, entre outros.

“Todos os recursos que favorecem a conexão da vida dos estudantes com o conhecimento de forma lúdica, curiosa e desafiadora são aliados no processo alfabetizador. Considerando as novas gerações digitais, a tecnologia é um recurso potencializador e se constitui em um tipo de linguagem a ser usada pelos estudantes do século 21”, dizem as consultoras.

Quando o assunto é conhecimento do alfabeto, por exemplo, elas pontuam a importância de um trabalho pedagógico contextualizado e sistematizado, incentivando que as crianças se apropriem dos nomes das letras, de sua categorização gráfica e funcional, da direção dos movimentos ao escrevê-las e da ordem alfabética.

“Jogos educativos variados possibilitam aos estudantes, de forma lúdica e desafiadora, compreender as ‘regras’ associadas ao código alfabético”, exemplificam.

A centralidade do texto
Apesar da importância de diversificar os estímulos, Adriana e Janine reforçam que a aplicação prática de letras, palavras e frases é o que lhes confere sentido e, por isso, é fundamental que estudantes tenham a oportunidade de aprender com o texto enquanto unidade de ensino da língua inserida nas práticas cotidianas.
Em outras palavras, tornar o texto elemento central no processo de alfabetização faz sentido e ajuda as crianças a integrarem o mundo da cultura oral e escrita, considerando que os sistemas de escrita estão por toda parte, que essa interação acontece muito antes de começarem a frequentar a escola, que o sistema alfabético ortográfico tem complexidades que requerem um trabalho intencional e sistematizado. Além disso, é no trabalho a partir do texto que o aprendizado da leitura, da produção textual e do sistema de escrita se efetiva de forma crítica e criativa, como debatem as especialistas.

“O conhecimento sobre os sistemas de escrita; distinção entre desenho e escrita; símbolos utilizados na escrita; nosso alfabeto; unidades da língua: letras, sílabas, palavras; segmentação textual e relações entre sons e letras/letras e sons são conhecimentos fundamentais para a compreensão e apropriação de conhecimentos que envolvem a construção do sistema de escrita alfabético e, consequentemente, para a consolidação da leitura e da escrita”, destacam.

Formação docente
Para que os professores sejam capazes de possibilitar às crianças a vivência no chamado ambiente alfabetizador, é necessário falar sobre formação docente.
Para Adriana e Janine, uma graduação com um currículo acadêmico rico favorece o acesso de forma mais intensa e significativa a conceitos e teorias, o que permite processos de conexão com pesquisas e estudos sobre alfabetização produzidos no cotidiano escolar.
Entretanto, para além da formação inicial, as especialistas pontuam o quanto é importante que as formações continuadas dos futuros professores sejam asseguradas e potencializadas, para que sejam capazes de exercer uma docência que responda ao desafio de mediar a construção de saberes junto aos estudantes.

“As formações continuadas devem instituir as ‘comunidades de aprendizagem’, onde os estudos de pesquisas em desenvolvimento sejam conectados com relatos de experiências de práticas que sejam inspiradoras, inovadoras e assertivas”, afirmam.

Outro ponto importante é considerar que os recursos pedagógicos sozinhos não significam a garantia da aprendizagem, sendo, portanto, indispensável a mediação docente intencional.

Fonte: Porvir

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