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Café Coado em… Roubaram meu telefone e com ele foi a minha vida!

Não podemos mais ser tão amadores e tolerantes com esse tipo de crime

Texto: Gracimeri Gaviorno

Dia a dia vemos crescer o número de roubos e furtos de celulares. Nos pontos de embarque, dentro dos ônibus, caminhando pela rua, nos comércios, na entrada das escolas. Já não temos paz em lugar algum.
Esses aparelhos deixaram de ser apenas um meio de comunicação de voz. Neles estão fotos e vídeos de nossos filhos e netos, nossos aplicativos de mensagens, de compras e serviços, nosso acesso direto às transações bancárias e outras transações financeiras, enfim, uma porta aberta para nossa intimidade.
Nossos dados e informações, por meio dos smartphones, compõem outro mundo, para muitos, desconhecido: as chamadas profundezas da web. E não estamos somente sujeitos aos roubos no mundo físico, mas, também, no mundo digital.

Claro que a linguagem aqui usada não tem nada de técnica. Não estamos falando de roubos tal qual definido pelo Direito Penal. Mas sabemos que o “roubo digital” é uma realidade tenebrosa na vida de muitos capixabas. E, embora o Espírito Santo tenha criado uma delegacia especializada para tratar dos crimes virtuais, as ocorrências cresceram tanto que foi necessário distribuir o atendimento e investigação para as delegacias de bairro.

O grande problema é que as delegacias distritais não estão dando conta nem de investigar a criminalidade tradicional, quanto mais a criminalidade digital. Faltam policiais, formação em crimes que envolvem o mundo cibernético e ferramentas tecnológicas.

A segurança envolve investimentos e não pode ser negligenciada pelas autoridades públicas. Se os custos da segurança são altos, é preciso qualificar o emprego dos recursos públicos. E, para isso, é necessário ouvir a população. O Governo não pode tapar os ouvidos ao clamor popular.
Idosos estão sendo enganados e perdendo recursos de uma vida inteira. Os jovens também estão sendo ludibriados pelas vendas on-line, sem que o governo pense numa política de prevenção séria. Os órgãos destinados a acolher os consumidores estão trabalhando de forma analógica e, ainda que possuam seus fundos específicos, não são empregados para proteger a população consumerista.
Parece que o Brasil voltou a dormir em berço esplêndido e a população se sente cada vez mais desprotegida. Será que é possível fazer alguma coisa? Claro que é. Ainda que os fatores que geram insegurança sejam complexos, é possível trabalhar para devolver tranquilidade aos nossos cidadãos e cidadãs.

Os parlamentos federais e estaduais devem aprimorar a legislação para permitir aos órgãos de controle maior eficácia. Devem também exercer o papel de fiscalizadores, à medida que os desafios aumentam e o Governo não tem dado as respostas que a população necessita. Quando deixamos os arquivos de ocorrências de papel para o arquivo de ocorrências digitais, em nada mudamos na metodologia de respostas às demandas sociais.
O Governo deve fazer um estudo aprofundado das ocorrências. Digitalização ou informatização dos processos tão somente é como você ter um bairro monitorado por câmeras, mas quando você chama a viatura, ela não aparece. É como se as imagens de vídeo fossem registradas e você não conseguisse recuperar as imagens, porque não há profissional qualificado para tratar as imagens, investigar, prender o criminoso e devolver o bem à vítima. Tecnologia dissociada da inteligência não resolve o nosso problema de insegurança, quer seja uma realidade física ou virtual.

Vejamos: quando o poder público aprova a instalação de um bairro residencial sem dialogar com a segurança pública, fatalmente teremos problemas de diversas naturezas. Num exemplo bem simples, vai aumentar a circulação de pessoas sem um planejamento para ampliar a ronda policial e a cobertura de atendimento pelas delegacias. A mesma coisa ocorre o mundo virtual.

É preciso repor os quadros de profissionais da segurança. Mas isso tão somente, não basta. É preciso alinhar esses profissionais com a utilização das novas tecnologias. Não podemos utilizar os computadores, de qualquer tamanho e forma, como se ainda fossem meras máquinas de escrever ou câmeras fotográficas. Estamos falando de coletores e repositores de dados, envolvendo outros atores que se não forem chamados para a responsabilidade serão canais de facilitação desses roubos digitais.

Não podemos mais ser tão amadores e tolerantes com esse tipo de crime. Ou o Poder Executivo encara o desafio com responsabilidade, ou estaremos fadados à insegurança em níveis insustentáveis, comprometendo a tranquilidade em outros setores como a educação, a saúde e a economia. E aí será um salve-se quem puder, levando-nos ao retorno da selvageria!
Quando roubam o meu celular, levam mais que um telefone, levam a minha vida toda!

Gracimeri Gaviorno
Delegada de polícia; mestre e doutora em direitos fundamentais; professora; Instrutora e mentora profissional para lideranças
Luzimara Fernandes

Luzimara Fernandes

Jornalista MTB 2358-ES

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