Cidades do Centro-Oeste e a interiorização do território brasileiro
Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul mantêm vivos conjuntos urbanos que narram a chegada dos bandeirantes e a modernização do centro do Brasil
A série “Cidades Históricas do Brasil” apresenta as cidades do Centro-Oeste com conjuntos urbanos que compõem história da nação brasileira. A região, conhecida por estar no coração do país, demonstra o legado dos bandeirantes que desbravaram as terras do interior, no século 18, e a modernização trazida pelos grandes mestres da arquitetura brasileira.
Toda essa diversidade e beleza atrai turistas para a região, seja pela natureza exuberante do cerrado, pela cultura do agronegócio, pelos monumentos arquitetônicos ou pelos traços da colonização. O Centro-Oeste também possui riqueza gastronômica, com uma mistura de sabores, frutos típicos e culinária regional.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) delimita 88 conjuntos urbanos em 22 estados e no Distrito Federal que são protegidos e reconhecidos como a base do Patrimônio Cultural Brasileiro. O Centro-Oeste conta com 10 cidades que abrangem esses patrimônios. Nelas estão os traços da preservação de expressões próprias de cada período histórico. São lugares considerados especiais e que levam a vários momentos históricos pelos quais o Brasil passou.
OURO
No estado de Goiás, destacam-se cidades que foram marcadas pela busca das jazidas de ouro. A cidade de Goiás (GO), conhecida como Goiás Velho (antiga Vila Boa) testemunhou a ocupação e colonização do Brasil central nos séculos 18 e 19 e suas origens estão ligadas à história dos bandeirantes que partiram de São Paulo na missão de explorar o interior. Goiás foi o primeiro núcleo urbano oficialmente reconhecido ao oeste da linha de demarcação do Tratado de Tordesilhas, que definiu, originalmente, as fronteiras da colônia portuguesa.
Na cidade, o turista vai encontrar um local que conserva mais de 90% da arquitetura barroco-colonial original. A tranquilidade da cidade de Goiás – primeira capital do estado — mistura a arquitetura histórica e a tradição cultural com música, poesia, culinária e festas populares.
Corumbá de Goiás (GO) é outro município que tem origem na mineração de ouro descoberto pelos bandeirantes. Sua formação aconteceu no século 18, após a Guerra dos Emboabas, na região das Minas Gerais, e a expulsão dos paulistas da área. Por volta de 1725, iniciaram-se as expedições rumo ao interior em busca de novas áreas de mineração.
Situada em um ponto estratégico na passagem das rotas terrestres Goiás-Paracatu e Goiás-Bahia, o território da cidade é um dos mais ricos do estado em hidrografia, cortado por inúmeros rios e córregos, o que faz com que o turista que escolha esse destino consiga aproveitar todas as suas nuances.
Pilar de Goiás (GO) e Pirenópolis (GO) também são duas cidades que tiveram influência da atuação dos bandeirantes e mesclam história com natureza. Pilar está localizada entre serras em uma área de topografia e seus primeiros habitantes foram os índios Curuxá ou Kirixá e Canoeiro, e escravos que criaram o Quilombo de Papuã.
Já Pirenópolis é composta por casarões, ruas e igrejas de arquitetura colonial. O antigo núcleo histórico permaneceu praticamente intacto até os dias atuais. A cidade reúne um dos mais ricos acervos patrimoniais do Brasil central e é palco de um dos maiores eventos do Brasil, a Festa do Divino de Pirenópolis, conhecida internacionalmente.
Em Goiânia, capital goiana, o conjunto urbano inclui 22 edifícios e monumentos públicos. Entre as edificações, os destaques vão para o Cine Teatro Goiânia e a Torre do Relógio da Avenida Goiás. Inaugurada em 1935, o acervo arquitetônico de Goiânia é considerado um dos mais significativos do Brasil.
A capital do Goiás foi planejada em consonância com a Marcha para o Oeste — estratégia desenvolvida no final dos anos 1930, pelo governo de Getúlio Vargas, para acelerar o desenvolvimento e incentivar a ocupação do Centro-Oeste. O estilo art déco inspirou os primeiros prédios, que foram erguidos entre as décadas de 1940 e 1950.
FRONTEIRAS
Nos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, a mineração do ouro e a decisão de garantir as fronteiras conquistadas por Portugal marcaram a fundação das principais cidades. Corumbá (MS) teve importante papel na definição dos limites territoriais com a América espanhola, em área de fronteira com o rio Paraguai.
A cidade foi fundada para proteger o território ao sul do então estado de Mato Grosso e teve a função de ser um posto avançado para abastecer o Presídio de Coimbra e o Forte do Príncipe da Beira. O interesse pela cultura sempre foi um ponto forte de Corumbá, que contou com companhias de teatro do Rio de Janeiro se apresentando na cidade e fomentando arte. O município está situado em uma região de beleza natural no Pantanal sul-mato-grossense e à margem do rio Paraguai. Ele é conhecido como a “Capital do Pantanal” e “Cidade Branca”, por conta da cor de suas terras, ricas em calcário.
Cáceres (MT), além de ser considerada um marco na estratégia de proteção, participou do desenvolvimento da região após a guerra do Paraguai. Ela possui um centro histórico, fazendas e usinas e uma história constituída por nações indígenas. A cidade é considerada um marco na estratégia de proteção e conhecimento durante as negociações para definição da fronteira do Brasil.
Em Cuiabá (MT), as disputas pelas fronteiras e a descoberta de ouro definiram a ocupação do povoado que daria origem à capital do estado. Sua localização geográfica em uma área de fronteira foi decisiva para que Portugal promovesse a colonização do lugar e evitasse o avanço da Espanha.
A expansão da cidade aconteceu junto com espaços que hoje são considerados históricos. A arquitetura da área urbana inicial de Cuiabá é tipicamente colonial, mas, segundo o Iphan, com o tempo sofreu modificações e adaptações de outros estilos, como o neoclássico e o eclético.
Já a capital do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, cresceu sob a influência da antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, muito importante para o desenvolvimento no Centro-Oeste brasileiro, já no início do século 20. Além disso, os espanhóis, no século 16, introduziram o gado no sul de Mato Grosso, iniciaram a exploração e a comercialização da erva-mate naquele território.
Algumas tribos indígenas aprenderam com os espanhóis a usar o cavalo como montaria e realizar o manejo do gado. Elas tornaram-se cavaleiros e são lembrados como os primeiros fazendeiros sul-mato-grossenses.
MODERNIDADE
Brasília (DF) é a atual capital do país e um marco na história da nação. Isso porque a cidade foi criada para ser uma capital moderna e no “coração do Brasil” em pleno cerrado. Ela foi concebida, projetada e construída entre 1957 e 1960 e é considerada o primeiro conjunto urbano do século 20 a ser reconhecida pela Unesco como Patrimônio Mundial.
A integração entre a arquitetura, o urbanismo e as artes plásticas é uma das marcas de Brasília. A cidade foi baseada em quatro escalas: monumental, residencial, bucólica e gregária. Ruas e esquinas foram substituídas por pistas ou eixos, de onde sobressaem os trevos e as passagens de nível, eliminando-se os cruzamentos e separando-se a circulação de pedestre da de veículos. O projeto inovador de Brasília é composto por palácios, edifícios públicos, pontes, jardins, painéis e esculturas, obras que reúnem o melhor da arquitetura e da arte brasileira dos anos 1950, 1960 e 1970.
Fonte: MTur