A história de sucesso de uma indústria centenária no interior do Espírito Santo
Colaboração: Luzimara Fernandes
Fundada em 1903, em Araguaya, Marechal Floriano, interior do Espírito Santo, pelo patriarca e visionário Luiz Prest, a LP Ferramentas Agrícolas foi construída ao lado da casa, onde vivia com a esposa, Lúcia Gava Prest, e treze filhos, que formaram a primeira mão de obra da empresa. Hábil ferreiro, Luiz Prest transformava o ferro em foices, enxadas, enxadões, facas, facões, dobradiças de porteiras e ferraduras.
Os instrumentos produzidos eram considerados de boa qualidade para a época, apesar de rudimentares. Desde o início, as ferramentas levavam impressas as letras iniciais do fundador. Sempre acompanhando as evoluções do mundo, a LP atravessou gerações, passou por duas guerras mundiais, crises econômicas globais e sobreviveu a todos obstáculos.
Claro que as dificuldades foram imensas ao longo de sua centenária trajetória, mas a persistência e o amor ao ofício herdado dos antepassados foram a força motriz para o sucesso empresarial que se tornou a LP.
Desde a sua fundação a empresa continua funcionando e produzindo seus artefatos manufaturados, vendendo seus produtos rurais e agrícolas por todo o Brasil e, até hoje, pertence à família Prest, numa sucessão bem-sucedida, de pai para filho mais velho, já há três gerações.
Atualmente, a LP é conduzida por Carlos Alberto Prest (conselheiro) e seus filhos Marco Aurélio Prest (diretor-geral), Leonardo Prest (gerente-geral de produção), Leandro Prest (relações públicas e jurídico), Carlos Eduardo Prest (gerente-geral de produção) e Alzira Cristina Prest (funcionária Pública, mas que presta apoio jurídico). A matriarca, Nely Gallina Prest, é o suporte emocional que permite ao esposo e aos filhos se dedicarem diariamente à empresa.
Em entrevista para o Fatos & Notícias, Maria Thereza Helmer Fracalossi, neta do fundador e prima de Carlos Alberto Prest, disse que nem tudo foram flores no início. Segundo ela, o avô, Luiz Prest, se viu em dificuldades no período das guerras quando a matéria-prima (ferro) tornou-se escassa. “Nos períodos das Guerras Mundiais, com a escassez do ferro e do aço, meu avô teve que improvisar para conseguir sobreviver e sustentar a grande família. Minha mãe conta que um quilo de açúcar tinha que durar, no mínimo, um mês. Imagina o impacto disso em uma família de 15 pessoas?”, questiona.
Orgulhoso do trabalho, da qualidade e da tradição mantida pelos herdeiros, Carlos Alberto Prest, faz questão de frisar que a LP Ferramentas Agrícolas foi a primeira empresa registrada no Espírito Santo e que, por isso, foi homenageada pela Federação das Indústrias do Estado do Espírito Santo (Findes).
Passar dos cem anos de idade, foi um desafio e a indústria da família Prest se consolidou e se diversificou na fabricação de ferramentas artesanais para a lavoura e, hoje, ocupa um lugar de destaque no cenário nacional que a torna pioneira nesse segmento.
Instalada na região serrana do Espírito Santo contribui para o desenvolvimento econômico e social da região, uma vez que emprega um bom número de indivíduos o que proporciona uma melhor qualidade de vida para comunidade na qual está inserida.
Os 119 anos ainda são poucos frente ao estímulo e desejo de transpor mais barreiras e alçar voos mais altos. Pela vitalidade e entusiasmo demonstrados por Carlos Alberto, mais 100 anos serão poucos. Hoje, a marca LP é consolidada como sinônimo de qualidade, tendo ultrapassado as fronteiras do Estado e do País e caminha na direção de um futuro promissor.
Centro Cultural Ezequiel Ronchi
A trajetória de sucesso da família pode ser conferida no Centro Cultural Ezequiel Ronchi, museu que conta a história da imigração italiana, e que fica em frente à antiga Estação Ferroviária de Araguaya, de onde partiam as caravanas de imigrantes para outras regiões do Estado como Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá e Santa Leopoldina.
O Museu de Araguaya possui o maior acervo da história italiana do Espírito Santo. Apesar de pertencer ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o centro cultural sofre com o descaso do poder público.
Curadora do Centro Cultural Ezequiel Ronchi há dez anos, Rogéria Guimarães Schneider, diz que é muito difícil manter viva a história e cultura da região. “Infelizmente, o poder público deixa muito a desejar na preservação do patrimônio histórico e cultural. O museu se sustenta com o apoio de empresários e moradores locais que lutam diariamente para que a história e a memória dos imigrantes e seus descendentes não se percam”, lamenta.
Araguaya
Em Tupi-guarani, Araguaya significa “terra das águas e das araras”. Realmente não poderia haver nome mais apropriado para a região, que conta com muitas nascentes e uma paisagem bem preservada. Mantendo o clima bucólico, calmo e interiorano, que quase nos remete a décadas passadas.
Foto de capa: Ton Costa/F&N