Ciência

O que diz a mensagem escrita mais antiga do mundo?

Descoberta arqueológica em Israel traz a mensagem escrita mais antiga de que se tem notícia gravada em um pente de marfim

Um artigo publicado no periódico científico  Jerusalem Journal of Archaeology descreve a descoberta da mensagem escrita mais antiga do mundo, que foi grafada em um tipo de pente de marfim com um alfabeto que, posteriormente, evoluiria para o que conhecemos hoje.

O instrumento de dentes finos foi encontrado há vários anos em Tel Lachish, uma antiga cidade cananeia que ficava a cerca de 40 km a sudoeste de Jerusalém, mas só pouco tempo atrás é que os cientistas notaram a existência de 17 letras minúsculas.

Juntas, as marcas quase imperceptíveis formam sete palavras separadas, “ytš ḥṭ ḏ lqml ś (r w]zqt”, que se traduz aproximadamente em: “Que esta presa arranque os piolhos do cabelo e da barba”.

Restos de uma lêndea entre dois dentes quebrados do pente de marfim antigo (Foto: Dafna Gazit/Autoridade de Antiguidades de Israel)

Esta é a primeira frase encontrada na língua cananeia em Israel”, segundo Yosef Garfinkel, professor de arqueologia pré-histórica e de arqueologia do período bíblico da Universidade Hebraica de Jerusalém.

Isso é importante porque a escrita canaanita (também conhecida como alfabeto fenício) é o mais antigo exemplo conhecido de um alfabeto, que seria adaptado e adotado por culturas em todo o mundo. A maioria dos abecedários modernos provém dessas letras originais e antigas, incluindo o árabe, o grego, o hebraico, o latim e o russo.

A inscrição do pente é uma evidência direta para o uso do alfabeto em atividades diárias há cerca de 3.700 anos. Este é um marco na história da capacidade humana de escrever”, disse Garfinkel para o site Science Alert.

O pente é feito de presa de elefante e tem apenas 3,66 centímetros de comprimento e 2,51 centímetros de largura. A inscrição rasa em seu corpo é ainda menor. Algumas letras não passam de um único milímetro. Outras sumiram ao ponto de serem praticamente ilegíveis, tornando-as difíceis de interpretar sem seus vizinhos para o contexto.
Um lado do pente contém os restos de seis dentes grandes, provavelmente para escovar os cabelos, enquanto o outro lado apresenta restos de 14 dentes finos, provavelmente para a remoção de piolhos e lêndeas.

No lado mais fino do pente, um dos dentes apresentava restos de lêndea de um tipo de piolho muito antigo. Embora esta não seja a evidência mais remota de piolhos já encontrados — algumas amostras descobertas em cabelos humanos datam de pelo menos 10 mil anos — o material do objeto sugere que mesmo os cananeus ricos estavam irritados com esses incômodos rastejantes.

Isso porque o marfim usado para fazer o pente foi provavelmente importado de elefantes do Egito, o que indica que o utensílio era pertencente a alguém rico o suficiente para adquirir um luxo estrangeiro.

A datação radiométrica do pente não teve sucesso, mas com base em outros artefatos encontrados anteriormente na mesma área, pesquisadores suspeitam que a ferramenta foi inscrita na Idade do Bronze, por volta de 1.700 AEC*.

Além disso, a julgar pelo estilo das letras arcaicas, especialistas acham que as palavras foram escritas no “estágio mais antigo do desenvolvimento do alfabeto”, não muito tempo depois que o abecedário canaanita veio a se estabelecer.

*Era Comum (EC) e Antes da Era Comum (AEC) são as nomenclaturas atualizadas para os termos Depois de Cristo (D.C.) e Antes de Cristo (A.C.)

Foto de capa: Dafna Gazit/Autoridade de Antiguidades de Israel

Fonte: Olhar Digital

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