Educação

Crise climática impacta mais crianças e adolescentes, mostra estudo do Unicef

Exposição à poluição do ar, ondas de calor e moradias em áreas de risco afetam milhões de crianças e é preciso pensar nos direitos ambientais, reforçam professoras da USP

Temos sentido o impacto da crise climática com maior intensidade. Determinadas regiões vêm recebendo grande volume de chuvas, enquanto outras sofrem com períodos de estiagem e oscilações de temperaturas anormais. Esses fenômenos desencadeiam tragédias que possuem um impacto maior sobre crianças e adolescentes, que ainda se encontram em formação fisiológica e psicológica.

Os impactos indiretos também são mais sentidos por esse grupo, já que a degradação ambiental também compromete serviços, políticas e instituições voltadas para suprir as necessidades e direitos ambientais das crianças.
Foi isso que apontou o relatório “Crianças, Adolescentes e Mudanças Climáticas no Brasil”, do Unicef (Fundo das Nações Unidas Para a Infância), divulgado no final de 2022. Nele, foi possível observar os níveis de riscos climáticos em crianças e adolescentes no Brasil. Por aqui, o quadro socioeconômico desigual é um dos principais ampliadores do problema, que envolve a exposição à falta de água, enchentes fluviais e costeiras, ondas de calor e poluição do ar ambiente.

A chamada fase de crescimento das crianças é a mais importante para a formação de tecidos e sistemas do corpo. Esse é o período em que a fisiologia e os sistemas imunológicos ainda não estão completamente desenvolvidos, sendo mais vulneráveis às exposições de fenômenos climáticos e ambientais. Por exemplo, com o processo de desmatamento e o desmantelamento de políticas ambientais, que geram o aumento da poluição do ar pelo aumento da emissão de gases de efeito estufa, crianças e adolescentes ficam mais suscetíveis ao desenvolvimento de doenças respiratórias.

Atualmente, são quase 24,8 milhões de crianças e adolescentes expostas ao risco de poluição de ar ambiente, quase 13,6 milhões delas expostas a ondas de calor, e 2,1 milhões delas estão em zonas alertas no Brasil, como indica dados dispostos por tabela elaborada pelo The climate Crisis is a Child Rights: Introducing the Children’s Climate Risk Index (“A Crise Climática é uma Crise de Direitos Para Crianças: Apresentação do Índice de Risco Climático Para Crianças”, em tradução livre).

Impactos indiretos da crise climática
A professora Helena Ribeiro, do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), salienta que a combinação desses fatores às questões de vulnerabilidade socioeconômicas é um agravante, principalmente no que diz respeito aos impactos indiretos dos desastres ambientais:

As crianças sofrem mais por conta dos riscos relacionados à pobreza, porque a moradia é considerada um mediador entre os fatores de risco climáticos”, explica ela. Continentes como África e a América Latina são os que sentem com maior intensidade os efeitos das ações antrópicas sobre o clima e são justamente esses locais que apresentam maiores índices de pobreza infantil.

Principalmente no que diz respeito aos impactos indiretos dos desastres ambientais, psicológica e educacionalmente, esses fatores de risco apresentam efeitos bastante negativos, à medida que a criança fica exposta ao choque, estresse e incertezas, ocasionando sequelas que podem ou não permanecer na vida adulta.
Isso ocorre porque, geralmente, escolas e ginásios são destinados a receber refúgio em casos de deslizamentos de terra e enchentes.

Não é só aprendizado que se perde, mas também ocorre o estresse de perder a moradia, incerteza se vão ter uma casa no futuro. E isso causa danos sérios para as crianças e para o futuro delas”, completa Helena Ribeiro.

Direitos ambientais das crianças
Pensar na proteção de crianças e adolescentes contra os impactos da crise climática não é somente pensar na garantia dos direitos ambientais, como também garantir o direito ao futuro delas. A seguridade dos direitos e a retirada da condição de invisibilidade dentro das políticas ambientais são dois dos primeiros mecanismos para impedir que o grupo sofra com os impactos climáticos.

A pesquisadora em cidades e mudanças climáticas do Instituto de Estudos Avançados da USP Débora Sotto defende ser importante estudar alternativas dentro do Direito Ambiental que prezem pela garantia dos direitos para a proteção de crianças e adolescentes. Além da garantia de estimular o ativismo climático, com a abertura de instâncias de participação em escolas e em universidades, assim como em serviços e assistência social.

Fonte: Porvir

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