Brasileiros ganham prêmio de arquitetura com projeto de escola
Estudantes de arquitetura do Mackenzie projetaram espaço seguro e acolhedor para a educação de meninas em Moçambique
Estudantes da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie foram premiados, em março, em um concurso internacional de arquitetura, promovido pela plataforma Archstorming. Klaus Schmidt, Carolina Souza, Débora Nunes e Juliana Akemi desenvolveram o projeto premiado para um novo centro de aprendizagem para a ONG Kurandza, em Moçambique. O espaço será construído para garantir que meninas possam terminar seus estudos e não precisem abandonar a escola precocemente, o que infelizmente é comum na região.
O concurso da Archstorming tem Moçambique como foco, considerando que o país, marcado por muitos desafios, com mais de dois terços da população vivendo abaixo da linha da pobreza. O objetivo do programa é elaborar, por meio da arquitetura, um lugar dinâmico onde possam interagir uns com os outros e com o ambiente circundante.
A ideia de construir um centro de aprendizagem para meninas é justamente empoderar as alunas, garantindo um espaço seguro e confortável para que elas possam aprender, brincar, estabelecer laços sociais e descobrir uma nova perspectiva para suas realidades.
O projeto
O projeto dos estudantes brasileiros utilizou materiais de origem local, sistemas construtivos de fácil construção e autossuficientes em energia. As tradições locais e a natureza foram respeitadas para que as alunas se sintam acolhidas e se reconheçam no espaço de aprendizagem.
O edifício foi desenhado em torno do pátio central de forma a preservar as árvores existentes. O desenho “em forma de U” garante liberdade para que as estudantes circulem livremente pelo espaço ao mesmo tempo sob a supervisão de professores e professoras.
A estrutura simplificada de madeira garante uma a construção em duas fases de baixo custo. Com uma cobertura metálica totalmente suportada pela estrutura leve de madeira, as paredes de tijolo cerâmico se tornam independentes e, por não serem estruturais, podem ser redesenhadas livremente para que o projeto se adapte a novos usos e possibilidades no futuro.
O centro de aprendizagem é inteiramente construído com materiais e técnicas locais. A ideia é que voluntários participem da construção do centro, envolvendo a comunidade local em uma obra colaborativa, gerando sentido de pertencimento e protagonismo.
O conforto em um clima bastante intenso é garantido por estratégias de projeto bioclimático, como ventilação natural, iluminação natural e resfriamento passivo. Tecidos suspensos no teto, por exemplo, contribuem para a absorção sonora e funcionam como uma câmara de contenção de ar quente.
Janelas pivotantes e painéis lúdicos ajudam a integrar os espaços internos e externos e permitem o controle de luz e ventilação conforme desejado. Feitos de tábuas de madeira pintadas, esses elementos foram pensados para trazer uma atmosfera lúdica e dinâmica ao centro de aprendizagem.
A fim de otimizar a captação de energia solar, foram instalados painéis solares sobre a cobertura metálica, voltados para o norte. Em termos de conforto, a cobertura cria um grande caminho coberto ao redor do edifício que protege os quartos da luz solar intensa e do calor direto.
A água da chuva é coletada diretamente do telhado e armazenada no tanque subterrâneo para uso posterior na rega de plantas, limpeza e banheiros. Na fachada principal, um tanque superior marca o edifício, funcionando como uma identidade visual para quem vê o centro educacional na paisagem.
Mas, chegando mais perto, a identidade visual da construção é uma árvore. O Canhoeiro (Sclerocarya birrea) ou a Amarula, conhecida mundialmente por causa da bebida que leva seu nome, foi preservado durante a construção e pode ser visto de diferentes pontos. Na entrada, escadas dão às boas vindas à um espaço de acolhimento, alegria e aprendizagem.
Fonte: CicloVivo