A briga pela taxa Selic — Parte I

E como a Selic é capaz de controlar a inflação? Esse entendimento é a parte central do debate. A taxa Selic serve de referência para todas as outras taxas da economia, se ela subir, todas tendem a subir também

Desde o início de seu governo, o presidente Lula tem travado uma guerra contra o Banco Central, que é presidido por Roberto Campos Neto. O presidente argumenta que a taxa de juros alta impede a economia de crescer e, com isso, de gerar mais emprego e renda. Já o Banco Central argumenta que ainda não há espaço para uma redução na taxa Selic. Afinal, quem está certo? Quais sãos os argumentos? Fazem sentido à luz da Teoria Econômica? Bom, esse texto não pretende eleger um vencedor, mas esclarecer os argumentos de cada um dos lados. Contudo, por se tratar de um tema um tanto extenso, vamos dividir em duas partes, sendo a segunda para semana que vem.
Antes de entrar nos argumentos, precisamos entender que o Banco Central é o responsável por dirigir a política monetária do País, que tem por principal objetivo o controle da taxa de inflação. Para atingir esse objetivo, o Banco Central conta com alguns mecanismos, entre eles, o controle da emissão de moeda e da taxa de juros básica da Economia, a Selic.

E como a Selic é capaz de controlar a inflação? Esse entendimento é a parte central do debate. A taxa Selic serve de referência para todas as outras taxas da economia, se ela subir, todas tendem a subir também. Quando isso ocorre, compras grandes como carros e casas se tornam mais caras e grandes investimentos por parte das empresas também, fazendo com que a demanda agregada reduza. Com esse movimento, se a demanda agregada cai, os preços começam a cair ou a subir de forma mais moderada, conseguindo controlar a inflação via redução da demanda. A questão é que ao fazer isso, o Banco Central controla a inflação por meio do esfriamento da Economia, diminuindo a renda e o emprego. Mas por qual motivo o Banco Central não abaixa a taxa para economia crescer? Simples, caso faça isso, a inflação foge do controle, causando perda de poder de compra, que afeta, principalmente, os mais pobres e desinvestimento, uma vez que o cenário se torna incerto. Vale lembrar também que criar emprego não é a função do Banco Central.

Todavia, para que o aumento da Selic gere o efeito esperado, é preciso que haja credibilidade no Banco Central. Esse ponto é crucial. Toda a política monetária depende da credibilidade do Banco Central e das expectativas sobre o futuro do País. Com uma boa credibilidade, o Banco Central consegue afetar positivamente as expectativas das pessoas. E por qual motivo as expectativas devem importar? Pela estrutura da Taxa de Juros.

Ao decidir a Selic através do Comitê de Política Monetária (Copom) a cada 45 dias, o Banco Central leva em conta outros fatores, pois a taxa de juros como instrumento de controle de inflação só terá efeito caso a taxa de juros reflita um mínimo de coerência. Primeiro, além da inflação, a taxa de Juros deve refletir o risco de se investir no País. O risco está ligado a capacidade do Brasil em pagar o que pegou emprestado e como vivemos um período de grande endividamento, somos vistos como um investimento não seguro. Logo, a taxa de juros deve subir para que pessoas prefiram investir no Brasil do que consumir. Se há muito risco e um retorno baixo, as pessoas optarão pelo consumo, fazendo com que a Selic perca sua eficiência. Outro ponto está ligado a credibilidade do Banco Central.

Se este ceder às pressões políticas, sua credibilidade será afetada, fazendo com que as expectativas piorem, se isso acontece, aumenta o risco percebido, fazendo com que os juros tenham que subir mais ainda.
Dado esse contexto, as possibilidades de atuação do Banco Central e do Governo Federal ficam bastante restritas. Cada passo errado pode custar muito ao povo brasileiro. Na semana que vem, vamos trazer os argumentos de cada um dos lados e analisá-los sob à luz da Economia.