15 Reais — Parte II

Nelson ficou bastante desconfiado, mas preferiu observar Jairo e analisar o seu comportamento e palavras.
— Como pode ver, a calçada não está tão suja. E como fará o serviço? Percebi que está sem as suas ferramentas, Jairo? — questionou Nelson, com um olhar desconfiado.
— Com as mãos, senhor. — disse ele, entusiasmado.
Naquele instante, Nelson percebeu que as suas desconfianças tinham fundamentos, e duvidou de tudo que foi contado por Jairo. Sobre as conversas que tiveram, as reais dificuldades, a história da esposa doente, e, principalmente, da sua lucidez e do seu real valor. Jairo mentia e seus olhos sempre estavam irritados. Nelson entristeceu ao concluir os seus pensamentos, todavia, resolveu questionar:
— Qual o valor do seu serviço? — indagou Nelson, mesmo sabendo qual era o valor.
— Agora, senhor, são 60 reais! — respondeu Jairo com um semblante de trapaça, e seus olhos avermelhados.
— E você o fará com as mãos?
— Sim! — exclamou Jairo, ainda em cima da sua bicicleta.

Nelson, incrédulo, balançou a cabeça.
— Não, obrigado, Jairo. Quando vier alguém que me cobre 15 reais ou um preço justo, eu darei o serviço. A calçada não está tão suja, pode esperar.
— Poxa, senhor Nelson! Achei que o senhor fosse meu parceiro! Afinal, sempre me ajudou!
— Parceiro? Eu tentei te ajudar, o que fez com as ferramentas que eu te dei? Sempre me disse que precisava trabalhar para cuidar da família.
— Ah sim, a família, na verdade eu troquei por algumas coisas lá para casa! Como a bicicleta. — disse Jairo, sem olhar nos olhos de Nelson, e, com movimentos estranhos.
Nelson percebeu que Jairo coçava o nariz a cada cinco segundos. Infelizmente ele deduziu que a sua ajuda havia sido usada para manter o vício de Jairo e não a família.
— Jairo, conseguiu perceber que eu quis te ajudar? — indagou Nelson, seriamente.

— Sim, e agradeço muito ao senhor! — exclamou Jairo, animado, porém ainda com uma feição de malandro.
— Percebo a sua gratidão Jairo, quando me cobra 60 reais em um serviço que a pouco tempo era 15. E novamente irá limpar a calçada com as mãos? Mentiras! Rapaz, essa tal “parceria” existia apenas na minha mente, caso você seja um homem de família, procure uma ajuda profissional para curar o seu vício. E, principalmente, não subestime os que se aproximam de ti com intuito de ajudar, pois para cada ação existe uma reação.
Após as palavras de Nelson, Jairo se manteve em silêncio. Ele sentiu realmente o pesar de cada frase dita por ele, e partiu, sem nenhum sorriso e desta vez para sempre.

Autora: Silvia Vanderss
Palavras: 420
Conto inédito: 15 Reais — Parte II
Conto inspirado em uma história real