Taxar bancos não é mais uma política de esquerda
Por Erik Zannon do Carmo
Pauta historicamente relacionada aos sociais-democratas, defender a redistribuição de lucros dos bancos se tornou a mais nova luta da direita populista.
Um caso italiano
O governo de Giorgia Meloni, do FDI — nova musa dos conservadores — já é distante do longevo liberalismo que a nova direita apresentava desde a campanha, porém, dessa vez, resolveu atacar o grupo que seu antecessor Mario Draghi faz parte, os banqueiros.
O vice-primeiro-ministro Matteo Salvini, do Lega, declarou que redistribuir uma parte desses lucros é um dever social e econômico e que, com o novo aumento de 40% sobre o imposto dos institutos de crédito, será possível reduzir as taxas que assolam o cidadão comum.
A situação deixa o terceiro partido da coalizão, o Forza Italia fundado pelo recém-falecido Silvio Berlusconi, em uma situação difícil, afinal Il Cavaliere sempre foi um aliado do stabilishment e seus apoiadores esperam que em um governo com o FDI, gregos e troianos sejam agradados. Por outro lado, para um partido que conquistou menos de 9% nas eleições de 2022, frente aos 26% do Fratelli d’Italia, uma reformulação ideológica pode fazer bem.
Nosso Brasil engatinha
Desde os desdobramentos das jornadas de junho de 2013, que derrubaram a presidente petista Dilma Rousseff, a direita adotou um dogma libertário: se há intervenção estatal na economia, é socialismo. Os ventos mudaram: o mesmo movimento que no passado disseminou essa ideologia, hoje se aproxima do nacionalismo. É mais um capítulo na epopeia do Movimento Brasil Livre.
No início de 2022, os Coordenadores Nacionais do MBL, Renan Santos e Ricardo Almeida, se assustaram com o lucro exorbitante que os bancos brasileiros tiveram na pandemia, chegando a declarar que numa economia aos pedaços, é um crime.
A partir dessa quebra de dogmas, o veterano grupo político se envolveu em várias polêmicas sobre seus posicionamentos, recebendo ataques até do partido Novo.
O futuro
A estrutura internacional está se reorganizando, nem uma guerra fria entre capitalistas e comunistas, muito menos o domínio unilateral dos Estados Unidos. No novo arranjo multilateral, a estrutura estatal dos países se divide entre democracias liberais e autocracias.
Essas mudanças, aliadas a internet que compartilha ideias em todo o mundo, impactam diretamente o sistema político de todos os países. Não é de se espantar que os políticos quebrem todas as tradições sobre o que significa direita ou esquerda, pois os dogmas antigos não convencem mais às populações.
Erik Zannon do Carmo
Graduando em Relações Internacionais, quinto período, Multivix