Mobilidade

A mobilidade urbana

Chegou a hora desse tema ser abordado com inteligência sistêmica e habilidade

A movimentação de pessoas é um fator essencial para todas as atividades urbanas. O “trânsito” é o espaço mais democrático que nós temos. Botou o pé na rua já passa a ser um ator integrado ao espaço comum, tanto faz se como passageiro, condutor, pedestre, ciclista ou indivíduo de mobilidade reduzida. Trata-se de matéria que interfere no cotidiano da cidade e nos hábitos dos munícipes. Mobilidade é uma indústria que afeta a todos e produz graves efeitos à cidade. Fácil perceber que nós, que atuamos no setor, estamos no limítrofe entre satisfação e insatisfação de desejos. Um plano de mobilidade urbana, mesmo sendo elaborado através de uma perspectiva sistêmica, pressupõe satisfação limitada.
Contudo, a questão do deslocamento de pessoas e bens pertence a um sistema complexo, onde causa e efeito podem estar mais distantes no tempo e no espaço do que percebemos. Não raro, se obtém alívio no curto prazo e, então, o problema volta, geralmente pior do que antes.

O problema é composto pela chamada “ilusão da profundidade explicativa”, em que nos sentimos confiantes da nossa compreensão de um sistema complexo, mas, na realidade, temos apenas um conhecimento superficial dele. Pois é, na era da internet todo mundo tem uma opinião e a necessidade de expressá-la. O problema que se impõe são as consequências dessas opiniões nos mundos real e virtual. Confundimos nossa familiaridade com as coisas com a crença de que conhecemos como funcionam. Normalmente ninguém nos testa sobre esses conhecimentos e por isso não damos conta dos nossos limites. Essa premissa tem dado o tom nas políticas públicas no geral.

Exemplo clássico são os engarrafamentos. A solução míope significa construir mais ruas largas e com mais estacionamentos. A nova capacidade traz alívio de curto prazo. Mais capacidade de trânsito, mais carros. Assim, o transporte de massa perde a viabilidade, num beco sem saída. Em pouco tempo, os atrasos ficam piores do que antes, resultantes da dinâmica do sistema proposto. Respostas negativas e equivocadas são contundentes nas soluções de mobilidade por toda a cidade.

Entre os conflitos difusos da mobilidade, potencialmente sobressaem a administração da circulação urbana, a integração da região metropolitana e a gestão dos transportes públicos. Estimulam os cenários de perturbação: os acessos à cidade, o transporte coletivo deficitário, acidentes, congestionamentos, tarifas caras, sistema semafórico, etc. Povoa na imaginação dos gestores e cidadãos certa sensação de impotência. Chegou a hora desse tema ser abordado com inteligência sistêmica e habilidade.

Fernando Repinaldo

Fernando Repinaldo

Especialista em Administração Pública, Gestão de Projetos e Engenharia de Tráfego

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