Cultura

Naquela Noite

Naquela noite, estávamos dormindo, eu, meu irmão e minha mãe. Era madrugada, quando ouvimos pedras caindo no telhado. Foi um estrondo ensurdecedor. Nós nos reunimos na sala. A minha mãe pediu silêncio para o meu irmão menor. Ele chorava de pavor. Alguém estava no quintal. Vimos o vulto ir e vir nos corredores laterais, através dos vidros das janelas. Era um homem. Ele forçou a fechadura da porta principal, chutando-a simultaneamente. Não tínhamos telefone, e o pânico se espalhou entre nós.
A minha mãe estava pálida e pensativa. Eu não conseguia me manter tranquila. Foi assustador, uma sensação inigualável de impotência e perigo. Mamãe nos abraçava em desespero, ao mesmo tempo em que gritava por socorro. Se os vizinhos ouviram, não nos ajudaram. Estávamos sozinhos, envolvidos por um pavor indescritível.

As janelas começaram a tremer. Ele tentava de qualquer forma invadir a nossa casa. Com um golpe, ele quebrou o vidro e os estilhaços caíram sobre o sofá. Minha mãe nos tirou da sala às pressas. Fomos para os fundos. Saímos aos gritos, com medo de que ele conseguisse entrar na casa. Então, sem garantias de segurança, mamãe nos trancou no banheiro.

— Calma, crianças! Vamos ficar bem! Ele não vai entrar. Tenham fé em Deus. Eu tenho um trunfo. — ela sussurrou para nós dois, ao fechar a porta. Eu abracei o meu irmão e sentamos no chão. Os ruídos eram apavorantes. Envolvidos pela insegurança de não saber se a mamãe estava bem ou se o homem havia entrado, chorávamos em silêncio.
— Eu vou chamar a polícia! Vá embora, senão… — gritou a minha mãe, ao vigiar o vulto rodeando o quintal.

No momento exato, ela abriu a janela e com a arma do papai, atirou três vezes. Os disparos nos fizeram gritar, desesperados. Pensamos que ela havia sido atingida pelos tiros e que o invasor estava dentro de casa. Abracei o meu irmão e o acalentei com palavras doces e positivas. Após os tiros, o silêncio permaneceu. Nada de pedras, nem chutes ou vidros quebrados. Por fim, a chave começou a virar na fechadura, lentamente. Pude sentir o coração do meu irmão palpitar. Na verdade, eu também estava desesperada. “Se fosse o invasor, o que seria de nós?” — pensei.

O silêncio daquele instante elevou o nosso medo a uma escala imensurável de agonia. A porta se abriu vagarosamente e com um ruído desnecessário, uma sombra misteriosa sobreveio sobre nós, fechamos os olhos com pavor. Uma frase foi dita com uma voz angustiada e instável: agora estamos todos salvos, crianças!

Autora: Silvia Vanderss
Livro: O Medo
Palavras: 429
Conto: Naquela Noite
Arte: Thaís Alves
Silvia Vanderss

Silvia Vanderss

Autora capixaba, com formação em Administração e Letras Seis obras publicadas que abrangem os gêneros, romance, suspense e poesia Blog literário: www.silviavanderss.com.br

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