Aprendizagem vocal ajuda aves nas habilidades cognitivas, diz estudo
Por Bárbara Giovani
“A ideia de que a linguagem permitiu aos humanos serem uma espécie mais avançada é uma suposição que alguém fez um dia sem realmente tentar prová-la”. A frase é do cientista de neurobiologia americano Erich Jarvis, em entrevista ao site PopSci.
O foco de sua pesquisa é a aprendizagem vocal e, para trazer luz à questão, ele e sua equipe recorreram ao estudo sobre aves canoras. Elas são aves que cantam e fazem isso imitando sons existentes, dependendo da experiência em vez do instinto.
A lógica da aprendizagem vocal desses pássaros é a mesma que a dos bebês. Em geral, eles aprendem a quebrar o discurso contínuo que ouvem dos adultos em unidades individuais de som. Depois, com o tempo, passam a juntar palavras, o que leva ao aprendizado da linguagem.
Ao analisar esse fenômeno com as aves de sua pesquisa, Jarvis e sua equipe perceberam que a capacidade de imitar sons está associada a melhores habilidades de resolução de problemas e também a cérebros maiores. Os resultados do estudo foram publicados na revista Science.
Os cientistas realizaram sete experimentos cognitivos em 214 aves canoras de 23 espécies diferentes. Eles avaliaram duas habilidades frequentemente associadas à inteligência. A primeira é o aprendizado por associação e a segunda é o aprendizado por reversão, no qual um animal ajusta seu comportamento para obter uma recompensa.
Além disso, os testes comportamentais examinaram a resolução de problemas dos pássaros, por exemplo, de que forma descobrem como remover um objeto para acessar a recompensa de comida. Em seguida, eles analisaram se o fato delas serem aves que possuem aprendizado vocal ajudou com que desenvolvessem essas habilidades. Eles fizeram isso comparando o comportamento das aves canoras com outras que não aprendem a imitar sons.
De modo geral, os autores do estudo notaram uma forte relação entre a aprendizagem vocal e a capacidade de resolução de problemas. As espécies de aves aprendizes vocais conseguiram elaborar ideias inovadoras, como pegar sementes ou uma minhoca presa sob um copo, removendo o obstáculo, perfurando-o ou desmontando-o.
Outro resultado importante foi a relação da aprendizagem vocal com o tamanho do cérebro. As 21 espécies de aves aprendizes vocais tinham cérebros um pouco maiores em relação ao tamanho do corpo. Isso pode acontecer por inúmeros fatores. Para Jarvis, é possível que elas tenham mais neurônios, ou então evoluíram para ter um espaço craniano maior. Dessa forma, a característica pode ter originado circuitos extras nas conexões cerebrais.
Os pesquisadores ressaltam que os resultados não significam que as espécies de aves que não eram aprendizes vocais eram estúpidas. Em vez disso, mostra que elas não evoluíram essa forma particular de inteligência.
Temos que ser cuidadosos e muito específicos quando falamos de inteligência, porque realmente depende de quais traços estamos falando”, explica Jean-Nicolas Audet, também autor do estudo.
Ainda assim, os cientistas não conseguiram responder o porquê dessa relação, já que as áreas do cérebro responsáveis pela aprendizagem vocal não são as mesmas que são ativadas quando é preciso solucionar um problema. Agora, o próximo passo é analisar mais os cérebros das aves canoras e descobrir quais genes ou outras regiões cerebrais conectam essas duas áreas.
Fonte: GizModo