Jovens dos anos 2000 têm ansiedade e depressão mais cedo do que os da década de 90

Por Agência Einstein

Jovens dos anos 2000 estão apresentando sintomas de ansiedade e depressão mais cedo e com uma duração mais prolongada do que há dez anos. Isso é o que revela um estudo inédito que avaliou a mudança geracional dos transtornos mentais, recém-publicado no The Lancet e conduzido pelas universidades de Cardiff, Edimburgo e Bristol, no Reino Unido. Entenda mais sobre a pesquisa.
Primeiramente, os autores compararam dados de dois grupos que possuíam uma diferença de dez anos. O grupo número um possuía 10 mil indivíduos nascidos entre 1991 e 1992. O segundo, por sua vez, com quase 18 mil nascidos entre 2000 e 2002.
Nesse sentido, os pesquisadores utilizaram questionários sobre as dificuldades e habilidades das crianças e jovens. Assim, puderam mapear uma série de sintomas de transtornos emocionais. Por exemplo, sentimentos como nervosismo e medo, bem como sintomas físicos, como dor de estômago. As respostas são dos principais cuidadores deles em diversos momentos da infância e adolescência.

Ao avaliar os dois grupos, os pesquisadores observaram que aqueles nascidos nos anos 1990 mantiveram uma estabilidade emocional até bem depois do início da adolescência. Por outro lado, os jovens dos anos 2000 começaram a apresentar problemas emocionais a partir dos nove anos de idade, com um pico por volta dos 14 anos. Em grande maioria, eram meninas.
“O estudo tem um rigor metodológico e apresenta informações que a gente vem observando na prática clínica”, diz Fernando Asbahr, coordenador do Ambulatório de Ansiedade na Infância e Adolescência do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP).

Embora os dados obtidos — o aumento de problemas emocionais — não representem necessariamente diagnósticos de transtornos depressivos e ansiosos, sem dúvida eles sugerem que houve uma mudança nas gerações”, completa o especialista.

Vários estudos mostram um aumento dos casos de transtornos mentais após a pandemia da Covid-19, principalmente por conta do isolamento social. Além disso, o artigo aponta fatores como mudanças no estilo de vida, uso de tecnologia, questões de imagem corporal e pressões acadêmicas, além do aumento da desigualdade social.

O estresse crônico é um gatilho conhecido para os problemas de saúde mental”, diz Asbahr. “Isso é pior quando há persistência de fatores estressantes em uma idade em que a pessoa é mais vulnerável”.

De acordo com o especialista, é preciso ficar atento a mudanças de comportamento ou quando a pessoa está diferente do que costuma ser e que são duradouras.
Se está mais isolado, mais recluso, mais irritado, se perde interesse pelas coisas que fazia antes ou por encontrar amigos. Ou quando apresenta medos exagerados que limitam a vida social”, exemplifica. Na dúvida, a orientação é sempre procurar ajuda especializada.

Fonte: Vitat