Farpas e arestas

Precisamos, urgentemente,
Extrair nossas farpas
Aparar nossas arestas
Polir nossas pontas
Esquadrinhar nossas quinas

Precisamos, encarecidamente,
Talhar nossa pedra bruta
Aparar nossas garras afiadas
Cerrar nossas pressas sedentas
Diminuir nossas alfinetadas

Precisamos, decididamente,
Formosear nossa esfinge,
Cortar nossas unhas longas,
Encurtar nossos tentáculos,

Precisamos, religiosamente,
Educar nossa língua ferina
Segurar nossa ironia cruel
Diminuir o deboche cínico,
Controlar o sarcasmo mesquinho

Precisamos, definitivamente,
Evitar o escárnio zombeteiro,
Combater a raiva insana, a ira
Cega, o ódio invejoso e controlar
Nosso ego

Precisamos, finalmente,
Assim, como os filósofos,
Aceitar o debate, ouvir
O contrário, respeitar o
Diferente e considerar
O senso crítico

E, assim, quem sabe,
Recuperar nosso valioso tempo
Limpar nosso vaso interior,
Para que possamos, enfim,
Receber o óleo precioso,
Perfumado de amor e
Impregnado de sabedoria