Por que as pessoas estão obcecadas com porcentagens da bateria?
A ansiedade de ter pouca bateria no celular atinge nove entre 10 pessoas e pode evoluir em um problema maior; entenda as possíveis causas
Por Murilo Tunholi
O Brasil é o segundo País no mundo onde as pessoas mais usam celulares de forma compulsiva, ficando atrás apenas da África do Sul, segundo dados da ComScore. Dentre as pessoas que passam muito tempo no smartphone, há aquelas obcecadas por algo ainda mais específico: a porcentagem da bateria. Os celulares são ferramentas quase essenciais para viver no mundo moderno. Porém, sem bateria eles não funcionam. Por isso, alguns usuários estão cada vez mais determinados em fazer uma carga completa durar muito tempo.
Há ainda as pessoas que sentem ansiedade ao verem a porcentagem da bateria cair ao longo do dia. Uns têm medo de ficar sem carga, outros ficam com receio da bateria “viciar” ao longo do tempo e, por isso, a carregam sempre que possível.
As experiências em comum de pessoas obcecadas por bateria
A obsessão pela porcentagem da bateria não tem uma causa específica. Porém, as pessoas que reclamam da questão nas redes sociais têm algo em comum: experiência com celulares cujas baterias não duravam o dia inteiro ou tinham vida útil muito curta.
No Reddit, por exemplo, existem diversas discussões sobre o tema no fórum do Galaxy S7 — celular de 2013 da Samsung. Em um tópico, usuários explicaram serem obcecados pelo uso de bateria e porcentagens por terem experiências ruins com aparelhos anteriores.
Muitos de nós somos usuários doa Samsung S4, S5 ou S6 que sofreram com uma vida útil da bateria terrível ou deteriorada. Muitos de nós compramos o S7 (Edge) apenas por causa da bateria de 3.600 mAh e realmente queremos tirar o máximo proveito dele”, disse o usuário RedemptionSaysNo.
Ansiedade de pouca bateria atinge nove entre 10 pessoas
Há também casos de pessoas que ficam obcecadas com a porcentagem da bateria porque têm a vida inteira no celular. Em uma pesquisa realizada pela LG, em 2016, a fabricante de eletrônicos descobriu que a “ansiedade de pouca bateria” atinge nove entre 10 pessoas.
O estudo confirmou que a grande maioria dos entrevistados “sentiu pânico”, quando a bateria caía além de 20%. Cerca de 42% dos participantes, inclusive, disseram deixar de fazer certas atividades, como ir à academia, para ficar em casa carregando o celular.
A falta de bateria pode até terminar relacionamentos. Na pesquisa da LG, uma em cada três pessoas discutiu com alguém importante por chamadas não atendidas ou mensagens não lidas quando o celular estava sem carga. A preocupação com a bateria exista até hoje. Um estudo realizado na Índia pela empresa Counterpoint Research, em 2023, mostrou que 72% dos usuários de smartphones se preocupam em ficar sem carga no aparelho.
Ainda segundo a pesquisa, 65% dos entrevistados afirmam ter alterações por causa da duração da bateria do telefone. Quando a porcentagem cai abaixo dos 20%, o nervosismo e a ansiedade atacam, de acordo com 72% dos participantes.
As causas da obsessão pela porcentagem da bateria
A ansiedade de ficar sem bateria existe nos usuários não só de smartphones, como também de qualquer aparelho eletrônico. Aliás, o problema ganhou um termo próprio: ansiedade de autonomia. Apesar da ansiedade de autonomia se relacionar ao medo específico de ficar sem bateria ao dirigir um carro elétrico, ela também vale para outras situações da vida com tecnologia. Afinal, nem todo mundo dirige um carro elétrico, mas quase todas as pessoas têm um celular.
O sentimento de ansiedade pode aparecer quando os usuários estão em situações nas quais mais precisam do celular, como durante um projeto importante no trabalho ou uma emergência.
As causas dessa ansiedade podem estar ligadas a vários fatores, como:
• Hábito de uso do celular: pessoas que usam o celular com muita frequência podem ficar mais obcecadas com a porcentagem da bateria;
• Vida útil da bateria: a duração da bateria é um fator importante na ansiedade;
• Opções de carregamento: não ter um carregador ou power bank por perto pode aumentar as chances de sentir ansiedade;
• Consumo rápido de bateria: ter no celular aplicativos que consomem muita bateria em segundo plano.
Ansiedade pode evoluir e se tornar um problema maior
Quando a bateria começa a chegar no fim, é normal ver pessoas correndo para casa e até pedindo carregadores emprestados de pessoas estranhas. Essa sensação acontece com bastante frequência e pode ser um dos indicadores do “vício” em celulares — a nomofobia, que é o medo irracional de ficar sem celular.
O termo vem da junção do termo em inglês “No Mobile” (NoMo) e palavra “fobia”, que significa medo.
Além da ansiedade, a nomofobia pode causar efeitos diversos nos usuários de smartphones, como:
• Redução na produtividade;
• Maior estresse;
• Medo de ficar de fora (do inglês “fear of missing out” ou FOMO);
• Maior exposição à luz da tela.
Não ter controle sobre o uso do celular pode resultar em problemas graves para a saúde, incluindo problemas mentais, insônia, maiores riscos de acidentes de trânsito e piora no desempenho na escola e no trabalho.
Por isso, é importante adotar hábitos saudáveis e estratégias para diminuir o risco de ansiedade, como a redução da dependência no celular. Em todos os casos, também vale a pena buscar ajuda profissional de um psicólogo ou psiquiatra.
Fonte: Giz Brasil