O antigo relógio a corda
Por Max Miller
Em uma visita aos meus pais, mexendo em uma antiga pasta de couro que meu pai guarda há décadas, encontrei alguns relógios antigos. Todos muito lindos, diga-se de passagem, uns ainda funcionavam, outros estavam parados por motivos desconhecidos por mim. Peguei o que achei mais bonito e levei até meu pai mostrando-lhe o exemplar que tanto gostei.
Perguntei se o mesmo sabia o motivo de tal defeito. A resposta foi: “tem que dar corda!”, rodando um pequeno botão, uau! O mesmo voltou a funcionar.
Mas pai, toda vez esse pequeno botão precisa ser girado? Sim! Disse-me ele, esse relógio é a corda!
“Nossa! Então, todos se atrasavam para o trabalho, encontros, missas, ir para casa, entre outras atividades diárias pois, com certeza, não teriam tempo para dar corda nesse relógio, disse a ele”.
Com muito brilho nos olhos, me contou que todos tiravam um tempo para se preocuparem com o relógio de pulso, todos davam uma paradinha para verificar o quanto de corda ainda poderiam dar para que aquele relógio os lembrasse de seus compromissos e praticamente em todas as atividades que precisassem de um companheiro em alerta!
Nossa! Que compromisso e respeito todos tinham por aquele relógio!
Hoje, vejo como um pequeno relógio de pulso ensina a uma geração tantas coisas importantes e esquecidas por tantos de nós e um objeto, tão sofisticado no passado, se tornou um item “descartável” para nós, que vivemos agora no modo automático.
Sinto muito meu querido relógio a corda, tenho que te contar, que nós, nos dias de hoje, e com muita certeza te falo isso, não o compraríamos nunca! Hoje, não podemos parar para dar corda para um relógio, hoje nossos relógios conversam conosco e não os escutamos, falam de tudo menos de “corda”, e nós os silenciamos de imediato!
Tentam nos acordar e os desligamos, isso mesmo amigo, desligamos, e eles voltam a funcionar no horário certo, assim que os religamos novamente. Acredite, isso é verdade! Hoje, amigo de ponteiros, várias lições que você deu aos meus antepassados foram deixadas de lado, por não termos mais tempo, para darmos ‘corda’ ao que pessoas próximas falam conosco, para observar a natureza, para perceber o avançar das horas, para pausar e desfrutar o sorriso de um filho, para perceber o quão rápido ele se desenvolve, para descansar, igual você fazia quando sua corda acabava.
E o pior que vejo, não temos tempo para amar. É, acho que vou pedir esse relógio de presente ao meu Pai e tentar com este, aprender o quanto o tempo é valioso, o quanto devo prestar mais atenção aos idosos que encontro e encontrarei em mina caminhada, afinal, você os ensinou coisas que eu nunca pensei que fossem ser esquecidas pelo relógio automático que comprei!
Obrigado meu querido relógio de corda.
Max Miller
Empresário, escritor e estudante do 8⁰ período de Biologia na Ufes