Meio ambiente

Pesquisadores reforçam monitoramento de botos na região de Mocajuba, no Pará

Apesar do registro científico recente, a espécie já é considerada ‘vulnerável’ e já integra a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas

Cerca de 12 botos da região de Mocajuba, no Pará, devem passar por avaliação de pesquisadores da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra). O município é conhecido pela presença dos animais na área do mercado de peixes, o que se tornou um dos atrativos turísticos para quem visita a região. Com o mês das férias escolares e do ‘verão amazônico’, a interação entre botos e visitantes se intensifica, e esse é um dos motivos que levam os pesquisadores ao local nesse período.
A equipe, formada por professores e alunos da pós-graduação, monitora os botos da região desde 2023, a partir do projeto ‘Parâmetros fisiológicos e análise de risco para patógenos zoonóficos em botos-do-araguaia (Inia araguaiaensis) sob impactos ambientais no contexto One Health‘. Os pesquisadores devem ficar no município até o mês de agosto.

No estudo é realizado um mapeamento da saúde dos animais, desde aspectos fisiológicos, até vocalização e biologia. Os pesquisadores fazem a avaliação da saúde dos animais, coleta de sangue, borrifo e ultrassom. O foco são os botos-do-araguaia, ou Inia araguaiaensis, espécie catalogada em 2014 por cientistas da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Os botos dessa espécie habitam a bacia Araguaia-Tocantins, que abrange os estados do Pará, Tocantins, Maranhão, Goiás e Mato Grosso, além do Distrito Federal. No Pará, o polo reúne 45 municípios, entre eles Mocajuba. A espécie se soma às já conhecidas nos rios amazônicos: Inia geoffrensis e Inia boliviensis, além da Sotalia fluviatilis.

Todo o estudo é feito com os animais em ambiente natural. As técnicas de manejo para que isso ocorra de forma eficaz e com menos stress ao animal também são alvo da pesquisa. Segundo o professor, pesquisas sobre o bem estar são fundamentais para a conservação de animais em vida livre, pois ajudam a entender sobre aspectos importantes do comportamento da espécie em seu ambiente natural. “Isso nos dá subsídios para manejar melhor a espécie, proporcionando resultados mais claros de como deve ser a interação animal-homem”, diz.

O projeto também conta com a parceria dos professores Abelardo Júnior, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e Rinaldo Mota, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), que analisam os potenciais agentes zoonóticos. Agentes zoonóticos são aqueles que podem afetar a saúde dos botos a partir do contato com o homem, e vice-versa. Para isso os pesquisadores vão realizar diversos tipos de coleta, que incluem amostras de água, pele dos botos e fezes, além de testes de PCR em tempo real para identificação dos tipos de vírus e bactérias com esse potencial.

Espécie vulnerável
Apesar do registro científico recente, a espécie já é considerada ‘vulnerável’ e já integra a Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas. De acordo com os critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), ‘vulnerável’ é quando uma espécie tem um risco elevado de extinção na natureza, exceto se as circunstâncias que ameaçam a sua sobrevivência e reprodução melhorem.

No caso dos botos, a vulnerabilidade é causada principalmente pelas interações negativas com atividades pesqueiras e pela perda ou destruição de habitat. Mas há uma outra questão preocupante. O animal é cercado pelo imaginário popular, o que inclui as histórias sobre o homem charmoso, vestido de branco, que aparece para seduzir moças ribeirinhas e depois se transforma em boto, causando medo e a ira dos ribeirinhos. Na Amazônia, os botos também são alvo do comércio de subprodutos místicos.

Mas segundo a pesquisadora Angélica Rodrigues, em Mocajuba a relação é bem diferente da maioria das comunidades onde esses animais ocorrem. “No caso de Mocajuba são os botos que atraem o turismo e ajudam os pescadores nos paredões de pesca”, revela.
A preservação desses animais impacta diretamente no equilíbrio do meio ambiente.

Eles têm um papel importantíssimo na natureza, porque são sentinelas ambientais, a partir deles conseguimos mapear a saúde de um rio. São animais topos de cadeia, importantes para o equilíbrio da cadeia trófica do rios, além disso são sentinelas importantes apontado as fragilidades dos ecossistemas fluviais”, diz a pesquisadora.

O grupo Bioma
O projeto foi contemplado com o primeiro lugar no edital da Iniciativa Amazônia +10, em 2023. Mas a saúde dos botos da região é monitorada pelo grupo Bioma desde 2013, período em que já foram registrados os nascimentos de oito filhotes. O grupo tem como estudo as espécies de golfinhos de rios e peixe-boi, a interação deles na natureza, papel ecológico e interação com humanos. As pesquisas são realizadas no rio Guamá, Tocantins e Tapajós e também na zona costeira paraense.

Fonte: Portal Amazônia

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