Estudo aponta que existem duas espécies de surucucu no Brasil
Pesquisas com a surucucu continuam sendo feitas pois há a possibilidade de ser definida uma terceira espécie
Por Ricardo Melo
Pesquisadores identificaram que as populações de surucucu que habitam a floresta amazônica e a Mata Atlântica são formadas por duas espécies, ao contrário do que se pensava. O estudo com a descoberta, liderado pelo pesquisador Breno Hamdan, do Instituto Vital Brazil e da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi publicado na revista científica Systematics and Biodiversity. Estudos continuam sendo feitos, pois existe a possibilidade de haver uma terceira espécie, no Ceará.
O trabalho contou com a participação de dezesseis pesquisadores de treze instituições. Os cientistas estavam buscando compreender a taxonomia da surucucu pico-de-jaca (Lachesis spp.), considerada a maior cobra peçonhenta das Américas. As duas populações (Amazônia e Mata Atlântica) já chegaram a ser consideradas como subespécies diferentes, mas faltava evidências mais sólidas. O novo estudo utilizou análises genéticas e examinou a peçonha (substância tóxica popularmente chamada de veneno), a morfologia e o hábitat natural para comprovar a divisão de espécie.
A surucucu da Amazônia (Lachesis muta) tem mais escamas no ventre e a faixa preta após o olho é mais fina. Além disso, essa espécie é mais comprida (em média 1,9 metro), a cabeça é maior e a cauda um pouco mais longa. Já a espécie da Mata Atlântica (Lachesis rhombeata) tem menos escamas no ventre e a faixa preta após o olho é mais grossa. Alcança, em média, 1,8 metro de comprimento e tem a cabeça e a cauda menores do que as da espécie amazônica”, explicaram os pesquisadores.
Surucucu do Ceará pode ser a terceira espécie
A Lachesis rhombeata que habita a mata atlântica cearense está sendo monitorada e estudada pelo projeto Malha de Fogo, nome local da surucucu. De acordo com a bióloga e coordenadora dos trabalhos, Thabata Cavalcante, a surucucu local possui uma genética diferente das demais.
Nosso trabalho definiu a população do estado do Ceará como uma Unidade Evolutivamente Significativa (ESU), que é uma população geneticamente diferente das outras. A população cearense apresentou monofilia, divergência antiga e profunda diversidade, se diferenciando de Lachesis rhombeata e de Lachesis muta”, explicou a bióloga, o que levanta a possibilidade de uma terceira espécie de surucucu a ser confirmada.
Contudo, o estudo identificou uma menor diversidade genética nessa espécie, o que Thabata aponta como causa os fatores ambientais, como a umidade e o clima, os quais estão isolando as populações e limitando uma maior diversidade genética. Isoladas, as cobras acabam se reproduzindo entre si e não geram variabilidade genética. Isso indica um pequeno tamanho efetivo da população, resultando numa menor capacidade de adaptação às mudanças ambientais e aumento da vulnerabilidade da espécie a extinções locais.
Taxonomia e conservação
Segundo um dos autores do artigo, Rodrigo Castellari Gonzalez, a taxonomia é relevante para definir o grau de ameaça. Para o pesquisador, a partir da definições das espécies, “teremos uma análise mais robusta do estado de conservação das populações e dessa forma, poderemos propor estratégias para sua conservação”.
Thabata afirma que nos próximos anos a Lachesis rhombeata entrará para a lista de animais a serem avaliados como ameaçados por herpetólogos. Porém, a pesquisadora não apresenta um bom prognóstico para a espécie.
Infelizmente, devido à sua restrição e ameaça aos seus hábitats, devido à histórica devastação da Mata Atlântica, as ameaças diretas à espécie, como a morte indiscriminada e os atropelamentos, ela pode estar ameaçada de extinção. Devido a esses fatores que a deixam vulnerável, chamamos atenção para avaliação do status de conservação da espécie, para assim traçar medidas para sua conservação e para proteção dos seus ambientes”.
Fonte: Fauna News