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A história do câmbio automático

Antigamente carro confortável era sinônimo de grandes dimensões e motores superdimensionados, sonhos de consumo criados pelas montadoras de Detroit nos Estados Unidos. Mesmo com tantas mudanças no mercado de hoje os carros norte-americanos continuam como desejados em ícones como o Cadillac Eldorado, Chevrolet Bel Air e Impala, Ford Crown Victoria, Buick Electra, Chrysler Newport e tantos outros. Com conforto para dirigir, o câmbio automático é item obrigatório, por assim dizer, em um carro americano. Mas de onde ele veio?
Pouca gente sabe que o câmbio automático teria sido idealizado por dois brasileiros. Curiosamente, a informação veio à tona de uma forma inusitada, mais precisamente na biografia do escritor Paulo Coelho, “O Mago”, escrita pelo jornalista Fernando Morais. Coelho contou ao jornalista a história de um tio-avô que alegava ter criado esse tipo de câmbio.

A própria família acreditava tratar-se de uma lenda, já que seus parentes diziam que “tio José”, como era carinhosamente chamado pela família, “vivia inventando coisas”. Intrigado e fascinado, Fernando Morais resolveu investigar a veracidade desta versão. E descobriu que o tio-avô de Paulo não estava mentindo daquela vez, apesar de algumas publicações americanas ignorarem tal história.

Segundo o jornalista, o engenheiro mecânico José Braz Araripe teria inventado o câmbio hidramático juntamente com Fernando Lemos. Depois de ter desenvolvido uma transmissão automática com fluido hidráulico, Araripe teria viajado à Detroit (EUA), onde apresentou seu invento à General Motors em 1932.
Um outro tipo de transmissão automática já havia sido criado anos antes no Canadá. O sistema, porém, era pneumático, e carecia de potência e praticidade para ser produzido em série.

A GM acabou se interessando pelo projeto dos brasileiros e propôs duas ofertas: US$ 10 mil na hora ou US$ 1 por carro vendido com a tecnologia. Provavelmente sem ter ideia da capacidade de popularização dos automóveis (e de seu próprio invento), José escolheu a primeira opção.

Fazendo a conversão da moeda norte-americana em valores atualizados, descobrimos que os inventores levaram o equivalente a US$ 160 mil para casa. Em tempo, a invenção brasileira só chegaria às ruas em 1939, quando a montadora apresentou uma tecnologia chamada “Hydra-Matic” na linha 1940 dos modelos Oldsmobile. Por isso, que durante muito tempo — inclusive no Brasil — as pessoas costumavam chamar os veículos com câmbio automático de “hidramáticos”.

A Chrysler lançaria logo em seguida, 1940, o Fluid Drive Transmission. Em 1951 foi a vez da Ford com o Ford-O-Matic. Nos anos 1950 a solução chegaria aos populares Chevrolet com o nome Powerglide e que nos anos 1960 ganhou a terceira marcha. Em menos de 20 anos a evolução dos carros dos Estados Unidos se deu por meio de um modelo automático, preferência nacional. E há razões para isso. A propaganda desde 1940 apregoava que o câmbio sem embreagem tornaria o exercício de guiar mais seguro ao manter as duas mãos no volante, sem as trocas de marcha. Também dizia que o fato de trocar as marchas muitas vezes além de cansar causava o desgaste prematuro do veículo, com reduções e acelerações.

E num país sob fortes investimentos na expansão rodoviária, dirigir é preciso, mas de forma suave. Assim, automáticos, com tração traseira e grandes dimensões, os carros automáticos se popularizaram rápido. A partir dos anos 1940 não foram necessários nem 15 anos para que quase todo automóvel americano tivesse transmissão automática.

No Brasil, a fama de que o câmbio automático dá manutenção e pela realidade de que consomem mais combustível os fez ficar longe do nosso mercado a não ser em carros mais caros. Com o trânsito cada vez mais intenso, e a evolução destas transmissões, o brasileiro finalmente acordou para perceber que no trânsito cotidiano só vale a pena trocar de marcha se o carro justificar isso. Em outras palavras só a bordo de um carro esportivo. Curiosamente, contribuímos muito para esta realidade.

Toyota Corolla (Fonte: Vrum)

A primeira transmissão automática foi patenteada em 1904, mas só em 1930 se tornou mecanicamente viável para um automóvel. Fernando Iehly de Lemos e José Braz Araripe aprimoraram o sistema e venderam a solução à GM em 1932. O resto da história eu já contei no início desta reportagem. Quer descansar o pé esquerdo e comprar um caro automático?

Fonte: Mega veículos

Haroldo Filho

Haroldo Filho

Jornalista – DRT: 0003818/ES Coordenador-geral da ONG Educar para Crescer

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